Rufus: quase humano.
À MANEIRA DE....
Camões (medida velha)
MOTE:
Tanto de ti, ali.
CANTIGA:
Tanto de ti, ali,
Tanto de mim, aqui...
Há, em mim,
um pouco de ti
que sempre quis meu.
E um pouco de ti,
em si,
que sempre me quis.
Agora o tenho.
Agora tu tens...
Tanto para chegar até ti,
e não venço a crueza
de mil léguas,
tão próximas a já sentir o frescor
de tuas negras madeixas.
E não me deixas,
malgrado a fome de viver,
e o amor que me tens.
Agora os sinto.
Agora tu vês.
Tanto de ti, ali, e acolá.
Tanto de ti em mim,
inundando-me,
fartando-me sem tréguas...
Quero só mais um muito
de ti, em mim,
nem que, para isso,
tenhas tanto ou mais de mim, aí...
Agora te amo.
Agora tu sabes...
(Escrito em 4 minutos, em 30/09/03, para Aquela que o sabe...)
(FELIZ DIA DA SECRETÁRIA!!)
RUFUSIANA (reprise)
Tá vendo o que dá NÃO ler os arquivos? Acabo tendo de repostar alguns textos...
RUFUSIANA
(Pequena Coletânea do Inexpressivo e Anônimo Universo Poético de Rufus)
"Se a esperança é a última que morre, a fé pela vida é a primeira que nasce"
"Não se engane a toda hora
não erre a todo momento
não hesite em decidir seu futuro
não falhe a cada instante
não tente corrigir o incorrigível
não cometa erros irreparáveis
não pense em fugir de problemas insolúveis
e não tente fazer da vida a sua morte.
Enfim, a tudo que fizer,
tenha uma única palavra como lema: SIM"
"O fantástico de mim é que,
para mim, tudo é fantástico".
"A vida nunca morre. A morte nunca vive.
Mas ambas trabalham freneticamente..."
"Não há o que falar sobre o amor,
quando se ama realmente.
Como antigamente..."
"Como Schubert, deito-me com a pena à mão, porque a imaginação não dorme nas trevas, e não cessa com o fechar dos olhos. Antes, porém, aquela me fomenta mais e mais..."
"O simples é belo não porque
é simples, mas sim sim porque é sublime".
"O moinho abraça o vento,
na esperança de poder agarrá-lo.
Mas o vento é mais esperto,
e saracoteia por sua garras.
E o moinho,
tonto,
começa a girar..."
"Não durmo com as galinhas:
passeio com os morcegos.
Boa noite!"
Eu queria muito, mas muito mesmo...
Beijar beijar beijar a
Any na boca, ouvir Seal cantando
Fast changes até a exaustão, comprar uns 6 novos modelos de violão, publicar meu livro, voltar a dar aulas, dar um show de MPB inesquecível, compor com o Lô Borges e o Beto Guedes, correr no calçadão de Ipanema com o João Bosco (e depois tomarmos uma choppinho...), provar
cientificamente que a reencarnação existe, voar sem precisar de asas, dormir apenas 4 horas por noite...
Como não posso (ainda) fazer tudo isso, contento-me em postar um poeminha representativo de minha atual fase “saudosista”.
Será que nunca cresci, gente?
Uma vez,
corri sob o sol,
fincando ruas,
rindo solto e
respirando ventos.
Uma outra vez
empinei pipas,
tomei chuvas
e surras,
e jamais tive
outros brinquedos.
Uma vez também
fugia de casa,
e retornava a ela
no mesmo dia,
acabrunhado como um órfão.
Uma vez eu
trazia da rua
um totó, e
no mesmo dia
ele era reposto fora
por meu pai.
Uma vez quis
ser poeta apesar
de menino,
e pisava folhas
secas e riachos,
à procura de
poesia.
Uma vez cismei
de olhar-me
ao espelho,
ainda rindo solto
e respirando ventos:
ali estava a poesia.
Mas tudo isso são “uma vez”,
vividas e perdidas num tempo
qualquer...
(29.12.87)
O ancião infante.
Bateu a nostalgia por meus primeiros escritos nesse blog (comecei lá por junho...) e resolvi repostar aqui o primeiro poema de muitos que se seguiram. Para muitos, então, que não tiveram a chance de vasculhar meus arquivos, aqui vai uma pequena amostra.
Essa temática me é altamente introspectiva, e resume muito da questão do porquê estamos aqui: se apenas para aprendermos, ou para também ensinarmos, logo em seguida, o que nos foi ofertado...
O conhecimento é maior que todo e qualquer homem, mas todo e qualquer homem pode deter o conhecimento que quiser ou merecer...
O Ancião Infante
Não posso evitar que esse
vento carregado de medievalidade
me invada noite adentro,
e me deixe uma sensação de vetustidade.
Velho, barba aos joelhos,
e alquímico até os ossos,
pendem-se os grilhões dos
pulsos e tornozelos.
Meu lazer eterno é contar
as estrelas, noite após noite,
e sempre a perder a conta.
Meu consolo é a madrugada:
é quando as estrelas se põem,
à cata de novas irmãs,
e o sol irrompe atômico
a colina mais próxima.
Agora mesmo me castiga, aliado
à chuva sempre inimiga...
Um velho! Um pobre velho!
Um pedaço de passado sempre presente...
Contudo gemo, e calo,
que a dor é maior se
compartilhada; o pão
me falta, mas que me importa?
E ainda assim vejo pássaros
e folhas na poeira do poente,
amiga visão de olhos velhos.
Poente! Sempre a se pôr, e a se repor...
Oh morte, amiga dos loucos
e assassinados! Ainda vivo
e não a conheço, malgrado
o amor que lhe alimento!
Esquálida, a lua me fita,
e me inveja a sorte de
viver como se vive um velho:
amando a morte...
E o velho ama viver morrendo,
porque correm lentas e
dolorosas as horas, como os
cometas dos tempos primais.
"Meu bom velho, dizem as mariposas,
invejamos-te a claridade de
tua visão no escuro, e
a trevidade de teus lentos dias..."
Como ri o velho, ante tão
pequeninas formas, pérolas
da amena brisa noturna!
– E vai seguindo, também as invejando...
"Meu bom ancião, criança
adentrando a eternidade,
não te sentes carregado
de teus pesares e bondades?
Se tu eu fosse, deixava de lado
este fardo que trazes às costas,
e me assentava à sombra da árvore alguma
que surge em toda encruzilhada.
Lá, ouço o ar parado,
o pó suspenso, as folhas caídas,
o riacho translúcido,
e lhes indago o futuro.
Se a folha cai,
parto; se o ar se agita,
fico; se o pó se assenta,
medito; se o riacho silencia,
também me silencio.
E quando acaba o fruto
da árvore da vida,
não me preocupo em procurar
por outra: ali mesmo me fico
e deposito meus ossos.
Molhá-los-á a chuva,
castigá-los-á o orvalho,
o sol e as intempéries,
mas não me assustarei:
que me venham os anos vindouros
que tanto esperei por viver".
E assim caminhou o velho
até a sombra mais próxima,
onde, depositando seu fardo,
recostou-se à árvore alguma,
para só então ouvir o vento
e consultar o pó que
jamais se assenta, e
jamais se perde no ar...
O que um simples coco não faz...
Vejam só: saio para um almoço com colegas do trabalho, compro um coco (isso mesmo: sem acento gráfico) para aplacar o forte calor de Goiânia, e sem querer começo a contar-lhes sobre a “lenda” (lenda?) de Atlântida.
Tudo graças ao Platão, que, no seus diálogos
Timeu e
Crítias, nos presenteia com a única e primeira descrição desse povo e dessa ilha tidos como fantasiosos.
Só que, baseados, entre outros dados, numa descrição que Platão faz do coco, estudiosos começam a argumentar que ele jamais poderia ter inventado tudo aquilo, pois os gregos não conheciam aquela fruta (?).
O trecho fala mais ou menos assim:
“... além das colunas de Hércules [o estreito de Gibraltar], encontrava-se a fabulosa ilha de Atlântida, e, passando além dela, podia-se chegar ao outro lado, terras férteis e formosas onde encontramos o fruto que contém óleo e água”.
Fabuloso, não? O coco como indício de que já conheciam nossas terras além do Atlântico, muito antes da qualquer cristão pensar em existir ainda.
O papo foi por aí, se aprofundando. Falei dos bascos, um povo que não tem origem indo-européia, estranhamente perdido nos Pireneus, e que pode ter ligação com os atlantes. Como? Bem, uma vez, um padre basco veio pregar numa comunidade maia, e começou a falar em sua própria língua natal. Surpresa: os maias o entenderam perfeitamente! O basco e o maia pertencem ao mesmo ramo lingüístico! Tal só seria possível se um povo imperialista, morando no meio do atlântico, levasse sua cultura e costumes para os dois lados do oceano. Por isso (suspeita-se...), o modelo de pirâmides existe tanto aqui quanto em outras partes do mundo...
Só sei que em instantes eu estava falando de civilizações antigas, origens da Bíblia, religiões, povos misteriososo, Ets, conspirações mundiais, por aí vai...
Um amigo, surpreso com tantas informações, até sugeriu que eu desse uma palestra no serviço, e o pior é que ele falou sério! Mas caí fora rapidinho...
Com esse tipo de assunto, é fácil cair em armadilhas ou mesmo contradições, face à incredulidade geral do povo, sempre tendendo para a malícia quando o assunto é não querer saber, ou não querer conhecer algo novo...
Bem, de qualquer forma, o coco estava uma delícia, e o bebi oferecendo um brinde a Platão, esteja ele onde estiver...
A CHOUPANA DE CHOPIN
Dedilha e reza, ó imenso.
Se és emerso, se és esmero,
— assim intenso.
A pedra que atiraste tocou n’água,
e o lago sorriu sonoro e esplêndido...
... esplêndido mergulho rochoso,
da rocha-pedra morna ao contato da mão,
e gélida ao contato da água-vida.
Se sentiste o que ouviste, perdoa-me ao que existe,
mas tende piedade do que há de vir,
porque há de vir a ti a humanidade.
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
Lembrei-me ontem do encontro,
o verão já passado
em teu passado.
E o que dizer então do nada?
— Ah, nada a dizer...
Um vento fresco desdobra as árvores do bosque.
Há um mesmo cheiro no ar, o mesmo virente,
do mesmo dia que da noite,
da mesma noite que da tempestade,
que varreu meu sonho e as estrelas acima da choupana.
É preciso também evitar os ruídos,
mas não a música, mas não a maravilhosa música.
Dedilha e reza, ó imenso.
Sob teu teto e de tua choupana,
— ou essa mesma e simples cabana —
à beira da vida d´um lago,
dedilha e reza, compõe teu intenso.
Porque daqui,
do calor morno da mão apedrejante,
arremesso teu olhar sobre o horizonte,
E dele espero teu retorno...
E dele espero teu retorno...
Mazelas...
Se eu pudesse, ou conseguisse, dizer-te tudo que penso, como tu desejas...
“Por que não desisto, se penso não te querer mais?”
Dizer de coisas que vão e não voltam, outras que voltam sem mesmo terem ido...
Sinto a cada dia, a cada segundo, a cada momento o óbvio: sinto que te perco, antes mesmo de ganhar-te...
Como se ganha alguém, como se cativa aquela que me ama?
Todo Poeta sofre e se alimenta de sua dor, mas a amada não pode conviver com isso.
Ela não pode sofrer pelas dores do Poeta, mesmo que suas dores sejam as mais dignas.
Sinto tanto por ti, e por mim, e por nós dois...
No amor, acabo sendo o verdadeiro amador: o que “ama”, só que pela “dor”...
Não quero isso para ti.
Sorrisos combinam com teu rosto, não uma expressão tristonha e melancólica, que se perde no horizonte dos tempos...
És amada?
Sim, muito... Para sempre amada, onde e quando estiveres...
Tu sabes disso. Tu, apenas, sentes isso...
Lábios que nunca toquei, abraços que nunca darei, talvez, aquelas palavras doces combinando com o pulsar de teu coração pueril, alegre...
Tenho vida, sim, ainda latejam em mim profusões de desejos incontidos.
Sei admirar tua beleza, e toda tua terna tepidez...
Mas sigo só. Sempre. Onde estiver, sempre sigo só, suportando as mazelas desse meu destino ingrato e implacável...
Posso lutar contra ele? Posso vencê-lo por completo?
Sei que posso.
E vou vencê-lo.
Logo.
(Um doce beijo em teu sorriso...)
Descobri um som que é bem minha cara:
Dave Mathews Band.
Um som vigoroso, “másculo”, sem ser arrogante, mas muito bem tocado e com a voz rouca do Dave Mathews rasgando músicas para lá de interessantes...
Definitivamente, eu queria ser (e tocar) como ele.
E como ele toca uma guitarra, gente! E olhem que de guitarristas eu entendo...
Uma noite dessas, perdida no tempo, ouvi, numa estação de rádio, o show completo do Dave Mathews & Tim Reynolds. Voz e dois violões.
QUE QUE É AQUILO, GENTE?
Há anos eu procurava dois bons instrumentistas numa verdadeira viagem sonora de virtuosismo e criatividade, e finalmente eu encontrei.
Podem ouvir tudo. Recomendo de carteirinha.
(
Por falar em guitarra, eu tenho uma Epyphone by Gibson maravilhosa, corpo em vinho e escala em marfim, dos anos 80, mas muito bem conservada.
Não a vendo nem sob tortura...
"De la Musique avant toute chose..."
Well... Claro que adoro e vivo música, a ponto de ser capaz de falar sobre isso por horas a fio.
Mas já sou suspeito num ponto: pelo fato de também ser músico (ainda que amador...), nossa percepção aumenta, pois a maneira como vemos música é mais profunda do que a do simples ouvinte. Sim, a sensibilidade é a mesma para todos, mas a gente sempre estraga: quando ouço um som, eu simples e literalmente “entro” dentro dele, entendo sua estrutura, sinto seu ritmo, fluência, pulsação, descubro escalas, interpenetro e repenetro cada som e ruído. O resultado é uma viagem, claro...
Agora, ao contrário, produzir, tocar uma peça musical, garanto que é uma experiência única. Quando, por exemplo, eu toco as 3 sonatas e as 3 partiras para violino do J.S.Bach, garanto que sou transportado a regiões inexploráveis da mente humana. As peças, eu as toco no violão, mas o resultado é o mesmo: uma viagem sonora por sons únicos, maravilhosos, um aguçar da sensibilidade quase impossível de se descrever.
Bach foi e sempre será meu ídolo. Aprendi a ler partituras sozinho, graças a ele, e graças às referidas peças. Temos ali fugas, adágios, sarabandes, gigas, andantes, prestos, bourrés, prelúdios, todo tipo de composição antiga, e a mais que famosa e idolatrada
Chacona, uma peça de uns 12 minutos de duração, mas tão densa que já foi considerada uma das melhores e mais profundas composições de Bach.
Bem, não dá só pra falar: eu adoraria que vocês me ouvissem tocando, um dia...
E por que não? Se eu puder gravar e souber disponibilizar aqui no site, garanto que vou presentear vocês com uma bela viagem sonora, principalmente para quem curte e gosta de música erudita.
O quê? Rock? Jazz? Bem, isso fica para outro post...
PARA AQUELE QUE QUISER SER CHAMADO DE POETA
Primeiro,
sofra,
mas sofra muito,
para que tuas linhas fiquem,
e não se vão embora como
qualquer existência de um inseto vil,
inútil
e asqueroso.
Depois,
sofra mais ainda,
e o quanto resistires.
Até tua imaginação vacilar
– tal a dor, intensa –,
e assim não puderes escrever
mais nada,
e nunca uma linha,
e sequer uma súplica,
e jamais um desejo
pelo impossível.
Só assim te chames de poeta,
e te vanglories por tudo
– ou por nada,
já que sofreste tanto,
que nem ao menos tuas linhas
podem compensar teus infortúnios,
e servir de pasto a algum leitor
fútil, banal, mesquinho e insensível.
Sim, pois se te ousam dizer
que linhas não são lágrimas,
mas apenas linhas,
então conforme-se, daqui por diante,
de que lágrimas não são lágrimas, mas apenas
linhas de um rosto que ninguém sabe ler
– e mande todos para o inferno.
14.10.87
21.09.88
É mal pegar-te,
pluma,
e já me fogem
os versos.
Tristeza...
Se ao menos para estas
folhas
emigrassem
aquelas gotas de espírito...
Memória de meus tempos
tão curtos,
e tão longos
por guardá-los,
mesmo a história
dos dias sucedendo
aos dias
não os contém,
porque me tem
pelos anos e ventos.
(Basta pegar-me, quando eu passar...)
Eis ali uma ponte.
Titânica,
vara o espaço cru
e cruento.
E a alma vacila ao pisá-la,
quase frechada
pelos
raios e
trovões.
Do outro lado a imaginação,
aprisionada...
Ah, maldita ponte!
Uma queda única
e soberba,
se das profundezas
do
cérebro não calhasse
regurgitar
as suas lavas.
Mas prossegue.
A imaginação,
qual Prometeu,
o visionário das Estrelas,
desafia os deuses.
A alma, frágil como um homem,
mal lhe toca os grilhões,
para que estes se rompam
antes do findar do
dia que é
sempre
noite.
Oh, pluma!
É mal pegar-te,
e a imaginação rola
pelos penhascos,
levando abaixo
a pobre
alma...
Gente, só para constar: troquei meu e-mail, já que o antigo estava dando problemas.
Agora, podem me escrever à vontade, nem que seja para me enviar uma mensagem dizendo que NÃO vão me escrever... rs...
Obras.
Você acorda todos os dias, respira um ar carregado de ânimo, salta da cama e diz, positiva:
“hoje vai ser diferente de ontem”
A água que lava seu belo rosto é como que um renascimento para mais um dia de pequenas lutas e grandes vitórias...
Sim, o Tempo passa e te diz muitas coisas...
Mais amigo que inimigo, o Tempo te espreita por onde estiveres, acorda e dorme contigo, não te deixa um minuto sequer...
Sei que, no fundo, você anda preocupada com palavras como estas, que você deve ter lido por várias vezes, em diferentes ocasiões de sua vida:
“Já pensou onde estará você daqui a dez anos? Já escreveu num papel tudo o que quer e pretende realizar nesse período? Mexa-se, programe-se, planeje-se! Quem fica parado é poste.”
E lá vai você, tensa, constantemente apreensiva, e preocupada, desde já, em “envelhecer”, em programar sua vida como num aplicativo de computador, quando deveria estar pensando muito mais em você do que em seus planos...
O
Ter e o
Ser! Meu Deus, que eterno dilema!!
O que sobrará de ti após os dez anos? Tu, apenas, ou tuas obras, pequenas, por sinal, se comparadas a sua criadora?
Com num ditado árabe, é assim que deves pensar, a partir de agora: “Duas coisas me são completamente indiferentes: o dia que passou, e o que virá amanhã”.
Não entenda essas palavras como um hino ao hedonismo, como um canto de louvor ao ócio e à indiferença.
Nunca deixe de produzir, de transformar nuvens de algodão em belas páginas de um formoso livro.
No entanto, minha bela, nunca, mas nunca mesmo, esqueça de ti, dessa obra de arte divina que já nasceu pronta para brilhar, ofuscar, e não apenas para dar respostas aos outros...
Não temos de estar prontos para dar respostas, se não existem as perguntas...
Bem...
... com relação ao post anterior, liguem não...
Todo mundo tem seus momentos de "limpeza da alma", de alívio imediato de suas dores e temores.
Ne verdade, é preciso muito, mas muito mesmo para afetar meu constante bom humor...
Assim o é!
Total, completa e irrestrita incompatibilidade de gênios.
EU sou cosmopolita, mente aberta, atencioso...
VOCÊ é provinciana, fechada, misantropa...
EU até que sou meio estudado, gosto de leituras, de boa música, de momentos solitários...
VOCÊ mal estudou, finge gostar de leituras para me agradar, tem péssimo gosto musical, não respeita minha privacidade...
EU, primeiramente, vejo as boas qualidades numa pessoa.
VOCÊ só vê (ou fabrica, ardilosamente) as más.
EU sou "livre", desindexado, vanguardista.
VOCÊ é ignorantemente possessiva, previsível, limitada, atrasada.
EU tenho bom senso suficente para saber conversar com tudo e com todos, sem nenhum preconceito, e sobre qualquer assunto.
VOCÊ é maldosa, tediosa, controladora, preconceituosa, limitada (de novo).
EU penso digitalmente.
VOCÊ pensa analogicamente.
EU sou FM.
VOCÊ é AM.
EU me intero com o mundo digital, vejo o PC como um aliado, um auxiliar da criatividade humana.
VOCÊ vê o PC como algo maligno, e foge dele como o Diabo foge da cruz.
EU tenho um filtro positivo para ver as coisas e as pessoas que me rodeiam.
VOCÊ tem um filtro negativo para ver as coisas e as pessoas que a rodeiam.
EU detesto futilidades, intrigas, fofocas.
VOCÊ gosta de futilidades, intrigas, fofocas.
EU sempre tive muitos amigos, antes de perdê-los todos por sua causa.
VOCÊ nunca teve amigos.
EU sei nadar, andar de bicicleta, cantar, tocar um instrumento, dirigir...
VOCÊ não sabe nadar, nem andar de bicicleta, muito menos dirigir, e nunca, sequer, fez menção em aprender tudo isso.
EU tenho alguns dons artísticos, que pretendo utilizar para agradar, para deleitar as pessoas.
VOCÊ acha que meus dons são algo negativo, pois deduz, na sua mente limitada, que vou apenas atrair mulheres com eles.
EU penso grande, em coisas importantes, como no destino da humanidade.
VOCÊ pensa pequeno, em coisas insignificantes, só se preocupa consigo mesma.
EU sou, ou procuro ser, equilibrado, ponderado.
VOCÊ é desequilibrada, explosiva, excessiva e egoisticamente emotiva.
EU falo baixo, calmo, tranqüilo.
VOCÊ fala estridentemente, é agressiva, destemperada (como eu odeio isso...)
EU tenho uma natureza reservada.
VOCÊ dá escândlos onde estiver, não se importa com o ambiente ao seu redor.
EU sou simples, humilde no meu jeito de ser, pois fui criado a vida toda assim, sem posses.
VOCÊ é vaidosa até debaixo d'água, irritantemente materialista, e nem se lembra de que também possui origem humilde, muito mais que a minha.
EU me sinto completamente infeliz ao seu lado, e te culpo por toda essa minha infelicidade.
VOCÊ se sente infeliz ao meu lado, e me culpa por toda essa sua infelicidade.
AFINAL, O QUE VOCÊ FAZ EM MINHA VIDA??
Memorabilia.
Não tem jeito: esse blog está cada vez mais com jeito de memórias...
Apesar de ter muito ainda o que viver, creio estar entrando numa fase meio saudosista.
Por exemplo: ao postar, lá na frente, sobre solidão, isolamento, lembrei-me de minhas aventuras como canoísta. Sim, até isso eu já fui!
Sempre me senti muito aventureiro, desbravador, sem nada a temer.
Sentia o mesmo quando, até anos atrás, eu remava no rio Tietê, no interior de São Paulo.
Não, não é poluído: a 450 km da capital, o rio é outro. Lá em Sales, um cidade minúscula e bonitinha, o rio chega a ter uns 5 quilômetros de uma margem à outra. Mal se vê o outro lado – garanto que a distância é maior que o canal de São Sebastião, litoral norte de SP, para quem conhece...
Eu tinha um caiaque olímpico, hoje raríssimo, de 4,20 metros. Eu enchia o seu interior com comida, água e frutas, e saía a cruzar o rio, até a outra margem. Uma hora de remada contínua, monótona, até chegar a uma mata fechada, linda, intocável, tanto que eu sempre falava que ela era “do tempo do Pedro Álvares Cabral". Ali eu me sentia um genuíno Robinson Crusoe, em meio a cactos de uns 10 metros de altura, árvores imponentes e uma verdadeira sinfonia de ruídos e sons da natureza. Lembro-me direitinho de ter visto borboletas fantásticas, de formatos e cores malucas. Encontravas pegadas de anta na areia, e o risco de ser picado por uma cobre sempre exista.
Mas o que eu mais gostava era o momento em que eu ficava bem lá no meio do canal do rio, longe de qualquer mortal, no mais absoluto silêncio... Era tão longe de tudo que nenhum ruído vindo das margens podia ser ouvido. Pensava: “se eu caio agora e me deixo levar pelas águas, nunca mais me acham... rs...”.
Mas era divertido, perigoso, e eu adorava.
Depois que me mudei de cidade, indo cursar Direito (não, não terminei...), aposentei o caiaque, e troquei-o, com um amigo, por uma prancha de windsurf – mas que besteira eu fui fazer, hein?
E quem disse que paro em pé nela???????
Das coisas inúteis:
Você sabia que é anatomicamente impossível uma pessoa lamber o seu próprio cotovelo? E que 75% das pessoas que lêem esta informação tentam lamber o seu próprio cotovelo?
Você sabia que o ser humano come 8 aranhas a vida toda quando dorme de boca aberta?
(Contribuição:
Dri Spaca
"Ghost rider"...
... é assim que me senti ontem à noite, voltando à noite pelas estradas goianas de uma curta viagem a Brasília: um verdadeiro
ghost rider, como na nova música do
Rush.
Dirijo há muito tempo, tenho verdadeiro prazer em dirigir, principalmente pelas estradas desertas, e de preferência à noite.
Aquele clima de solidão e imensidão negra à minha frente combinam muito comigo.
O que, para alguns, é motivo de pavor, um medo terrificante, como estradas noturnas, para mim é um refrigério para a alma. E o som especial no CD player fecha o clima...
Solidão, música, poucos carros na pista, retas e curvas... Meu cérebro fica em ebulição com tantos planos e idéias que surgem em minha mente.
Por que será que a solidão nos atiça tanto a imaginação? Lembro-me de um tema de redação de um vestibular, bem ao estilo: " a solidão é oficina de idéias".
É exatamente isso.
Medo? Eu? Claro que não.
Acho que eu me sinto, às vezes, como o Pedrinho, do sítio do Picapau Amarelo: "Eu não tenho medo de nada, só de picada de marimbondo"...
Uma das vantagens de ser
quase humano é poder ter acesso a planos de seu destino, já traçados. E tenho maturidade e segurança suficientes para saber de meus "arquivos ocultos". Sei que não vou morrer em estradas. Possivelmente, terei meu ciclo humano encerrado já bem entrado em anos, e talvez do coração, a mais simbólica e comum forma de desligamento.
Ser ceifado pelo órgão que centraliza, poeticamente, as emoções humanas... que belo simbolismo...
Mas o certo é que, ontem à noite, dirigindo só por estradas perigosas e sinuosas, senti o que sempre sinto desde criança: um amor devotado à solidão, e pelo bem que ela nos faz à alma e aos sentidos...
Natividade
Tanto tenho lido sobre pessoas grávidas (como o caso da
Dri Spaca), que vão ter ou já tiveram filhos, que resolvi abrir meu baú e postar aqui uma notinha que escrevi umas semanas depois do nascimento de meu primeiro filho. Ei-la:
NATIVIDADE
Bauru, 01/03/98
(Peter Gabriel,
Passion, 88’)
“Então é isso. Cumprem-se os desígnios do Céu, todo o Universo se prepara para o magnífico instante e pouco tempo depois um choro nitente e forte rompe, simbolicamente, o espaço que separa o mundo físico do extrafísico. Meu filho nasce, então.
É isso, pois. Um ser de carne, frágeis ossos e fortalecido espírito escolheu-me como pai material e futuro mentor, por toda sua vida. Uma dádiva, um presente de valor inestimável.
(Vocês são capazes de imaginar a complexidade que envolve um parto?)
Tudo, enfim, perde o seu sentido. O que foi, o que está sendo, o que é, o que virá, nada mais importa a não ser o seu riso, o seu choro, o seu olhar, a sua dor e a sua alegria.
Um ser humano gerado por mim e minha mulher!
Todo o sentimentalismo e a paixão dos poetas é coisa quase indigna de expressar o que sentem um pai ou uma mãe, quando um rebento lhes preenche os braços e o olhar...
E que sentimento único!
Meu filho dorme, agora, com a paz dos milênios. Em tudo é igual a mim: da raiz dos cabelos, passando pelas mãozinhas sublimes, à têmpera altiva e magnânima. Ama o silêncio e suas vozes, desafia o vazio com seu olhar paciente e penetrante, e aguarda, em seu resignado recato, o tempo em que poderá se comunicar comigo não mais por olhares profundamente verdes, porém através de mágicas palavras e expressões.
Não, não é mágica ser pai. Mágica é ilusão, e o que carrego em meus braços, agora, sereno e belo, é um filho, amado e solitário...
Deixo-o dormir com seus sonhos e ânimos renovados, que a jornada será longa, muito longa... E eu estarei por perto, sempre e quando ele precisar de mim...”
Vejo o contador subindo,
e me lembro dos meus anos oitenta... 85, 86, 87, os anos mais musicais de que tenho notícia.
Rock inglês da melhor qualidade, o auge de dezenas de grupos que lançaram seus melhores álbuns por essa época...
Quem será...
... o/a felizardo/a que vai computar, ainda hoje, 2.000 humildes acessos ao meu blog?
Sabem o que mais me fascina, gentes?
Para responder a isso, leiam o que escreveu o Millôr Fernades:
Eu sofro de MIMPHOBIA:
embora com medo de mim mesmo,
eu me enfrento todo dia”.
Brilhante! Estupendo! E vindo da veia poética de um reconhecido materialista, tudo fica mais fascinante ainda...
Amigo, amiga, esses versos resumem o motivo de eu, vocês, nós estarmos aqui neste mundico deprimente: VENCER A NÓS MESMOS. Nada é mais difícil e penoso do que isso.
Construir torres de meio quilômetro de altura? Fácil.
Viagem tripulada a Marte? Facílimo.
No entanto... “conhecer-se a si mesmo”, vencer a si e a seus problemas internos, fazer amadurecer a si e, conseqüentemente, aos que o rodeiam?
Missão quase que impossível.
Parece que vou mudar de assunto, mas não vou.
Sabem por que Guimarães Rosa – tão admirado por mim e pelo resto do mundo – é considerado um gênio, um visionário, a ponto de obras de grandes mestres europeus serem consideradas café pequeno frente à maturidade das obras do nosso mineiro?
Porque ele trata brilhantemente, em seus livros, do maior enigma, do maior dilema do ser humano: o enfrentar-se a si próprio, vencer seus medos e cristalizações, crescer, libertar-se...
a Igreja Católica chegou a criar a metáfora do demônio (aquela que nos tenta, nos põe à prova a cada minuto) para espelhar o dilema da tentação: se vencemos a ela, vencemos a nós próprios.
Isso se chama, afinal, auto-conhecimento!
Querem entender melhor?
No conto
Corpo fechado, de
Sagarana, temos a história de um moço simples que é desafiado por um valentão, um homem mal que deseja possuir a noiva daquele. Pois bem.
Ele é testado, posto à prova, tem de enfrentar um inimigo poderoso, real, que ameaça sua vida. Ele pode acovardar-se, deixar que o outro possua sua noiva, e com isso preserva sua vida.
Ou pode enfrentar seu destino, arriscar tudo, nem que, para isso, perca sua própria vida.
E o que ele decide, afinal? Ora, o óbvio: enfrentar o valentão. Para tanto, um curandeiro faz um feitiço para “fechar” seu corpo. Óbvio que não existe esse feitiço: é como se fosse uma carga de ânimo e segurança para que o bom moço pudesse acreditar que estaria provido de poderes mágicos.
Claro que ele vence o inimigo, afinal, o “bem sempre vence” (irc!).
Davi e Golias. O pequeno frente o grande.
Mas, para tanto, para chegar à vitória final, ele teve de vencer o principal: SEU PRÓPRIO MEDO! O valentão nada era, nada significava, fisicamente. Não passava de um arquétipo de nossas fobias, de nossa ignorância. Muitos valentões ainda vão surgir em nossas vida, também, e serão vencidos um a um, claro...
Nosso herói venceu porque ele consegui auto-conhecer-se, desvendar seus dilemas, angústias e dúvidas; vencer, no plano interior, o que, no exterior, era apenas uma representação física.
O medo.
Aprendam isso: medo é e sempre será ignorância. Temer a si é evitar o mundo e suas oportunidades de crescimento.
Quem vence seus preconceitos, quem amplia sua visão de mundo desenvolve suas percepções, sua compreensão das coisas e dos seres, e nada mais passa a temer.
Assim o é.
11.04.88
Se eu fosse você,
deixaria que o rádio
tocasse aquela música,
e a ouviria calado.
E quando ela terminasse,
fecharia os olhos,
para melhor saboreá-la,
e para melhor sonhá-la.
Se fosse tua
aquela música,
seria tão tua
quanto a lua
é de todos e de
ninguém também,
porque aos céus
é dado o que
a ilusão dos homens
não alcança.
Se nossa fosse
aquela música
a tocar insistente
e bela e trágica,
talvez a prata
do dia brilhasse
mais em nossos
lábios e olhares.
E nós fecharíamos os olhos,
onde quer que estivéssemos,
e nos beijaríamos por todo o sempre
de um único instante...
Rufus, um visionário.
Agora descobri tudo: desde meus tenros 16 anos, quando comecei a escrever poemas como um louco, não entendia muito bem o que significavam aquelas linhas.
Hoje entendo claramente...
Eu antecipei, ali, naqueles versos, toda minha vida presente.
Fui um visionário, fui um antecipador, fui o autor de minhas próprias memórias...
Os versos que seguem resumem tudo o que sinto agora....
13.05.87
Não precisas ouvir-me,
se não o quiseres.
Nem precisas ver-me,
se to doeres.
Apenas quero que te recordes
de mim, e de mim
te lembres...
... Daquele que cavou tuas
feridas,
e logo mesmo as
cicatrizou.
Ou daquele outro que
te jurou mundos e terras,
e mostrou-te só pó, e mais
nada te mostrou.
Passado o tempo,
passei por ele,
e de nada mudou
o nada de meu
ser.
Continuo sendo
um alguém sem
alguém, sem jamais
poder ter, ou pensar
em alguém.
Continuo suplicando
por lágrimas
que jamais
brotam de
meus olhos,
e jamais
sulcam minhas
faces, porque
sou, por dentro
e por fora, o
presente.
Passado o tempo,
passei com ele,
e jamais, assim,
continuo a sê-lo.
Vim por vários
caminhos,
por vários vou
e continuo,
e não me fica
sequer sinal
de minha
dorida solitude.
Antes não
ter-me nascido,
a não sentir-me
chão, como
um cão,
e recato,
como um regato.
– Pois nele me
assistem, sorriem,
e atiram pedras,
para vê-las submergir e
morrer...
Passado o tempo,
passei além dele,
e não ouso
assistir a meu
fim e a meu
começo, pois
mal sustento
o pensamento
doloroso que
é pensar em
ti, em não
pensando-me, e ceifar dores
por teu desprezo,
em não te vendo,
porque não o mereces.
Passado o tempo,
passei sem ele,
afinal,
porque continuo
homem como um
homem,
e se
existi, existi
apenas porque
as lágrimas
não existem
sem os olhos,
e os olhos
não existem,
apenas, que
longe delas...
??????
Aos meus fiéis e raros leitores, um pedido de desculpas: perdoem meu silêncio, e a ausência (momentânea) de comentários em seus respectivos blogs.
É que meu novo local de trabalho não me confere tanta liberdade ou disposição para postagens, já que são poucos terminais para consulta.
Mas responderei a todos, na medida do possível.
Um grande abraço a vocês todos!
Goianos X brasilienses.
Pelo título, até parece que vou falar mal desses dois povos, mas não caio nessa.
Tudo tem sua razão de ser.
Na verdade, todos temos nossos defeitos e virtudes, por isso me nego a falar mal de qualquer povo ou cultura.
Mas uma coisa é certa: não sei por que falam tanto mal desses goianos! Reencontrei aqui uma das coisas com as quais mais convivi lá no interior de SP, e a qual é quase completamente desconhecida dos brasilienses: a cordialidade.
Podem falar o que for desses goianos, mas são muito cordiais, simples e bons de papo.
Pede-se uma informação na rua e em segundos já se sabe o nome dos netos e bisnetos do transeunte, e por pouco não se entra em sua casa para se tomar um café! Coisa impensada para um brasiliense, no seu cotidiano de indiferença e frieza.
E como se come bem e barato por aqui! E feiras de rua! Imponentes, maravilhosas, cheias de novidades!
Tá, tá certo, nem tudo é perfeito: concordo que eles falam de um jeito que dá até vontade de bater... rs... Mas nosso falar de caipira paulista também não é dos mais agradáveis de se ouvir... Pelo menos os longos anos de magistério fizeram com que eu criasse uma linguagem padrão, estilo Jornal Nacional, porque senão um professor de português falando
"Óia, ceis pega o 'dvérbio e ele não vareia, viu?" não seria um bom exemplo... rs...
Mas tenho saudades de Brasília, sim, uma cidade bonita e imponente...
Pena que é ela um monumento: lá, tem-se a nítida sensação de se morar numa obra de arte, cuja arquitetura é feita para distanciar as pessoas.
E por falar nisso: gente, quando é que vão construir calçadas naquela cidade?????
Eu e minha viola...
1990 foi meu último ano na USP.
Morei por longos anos no alojamento da universidade – por falar nisso, sabiam que faço parte da história desse alojamento polêmico? Vou contar tudo aqui em detalhes, um dia.
No final de 90 voltei para o interior de SP.
Mas foi o ano em que tive uma grata e maravilhosa experiência: toquei viola caipira numa montagem de uma renomada peça teatral!
Eu sempre arranhei alguns instrumentos de corda, e eu tinha, na época, uma genuína viola caipira de 10 cordas, estilo
cinturinha de moça.
A Rose, atriz da EAD (a famosíssima Escola de Arte Dramática da USP, pela qual já passaram pelo menos uns 7 entre cada 10 atores famosos), e de quem eu já falei aqui (tenho certeza de que ela dubla a Sidney, do seriado
Alias...), andava vasculhando a universidade atrás de alguém que tocasse viola caipira.
Oras, ela se lembrou de mim no ato e me convidou, e eu aceitei, claro, pois não podia perder uma dessas...
A peça, uma das melhores do teatro nacional (a meu ver), e de autoria do Carlos Alberto Soffredini, chamava-se
Na Carreira do Divino, e já foi montada inúmeras vezes por esse Brasil afora. Ela foi escolhida pelo grupo por ocasião dos 40 anos da EAD. A propósito, o filme
A Marvada Carne é todo baseado nela.
Toda falada em “caipirês”, com os personagens e os músicos vestidos a caráter (chapéuzão de palha, roupas rústicas, descalços ou com botinas de couro, a viola toda enfeitada com fitas coloridas), a peça, de difícil montagem, vai ficar para sempre em minha memória...
Eu já abria a montagem teatral entrando com o pessoal ao som rasgado de minha violinha, numa espécie de dança caipira com direito e palmas e sapateados.
Em seguida, os músicos sentavam e o espetáculo inundava os espectadores de emoção...
Nitidamente inspirada no típico Jeca Tatu, de Lobato, a família de retirantes errava a esmo por paragens inóspitas, nômade e simples no seu jeito de ser, constantemente enganada e suportando o peso de sua ignorância... Uma peça maravilhosa, que nos fazia ir do riso espontâneo às lágrimas em questão de minutos...
Eu e mais uns dois colegas éramos responsáveis pela música incidental e os números em que as personagens cantavam. Ficávamos a um canto, completando a paisagem como semi-personagens. De minha posição privilegiada participei de todo o trabalho de ensaio e preparação dos atores, da cenografia, iluminação, etc. Experiência muito interessante... Até conheci o autor da peça, um dia, num dos ensaios...
Mas o momento de glória ainda estava por vir...
Teatro Sérgio Cardoso, São Paulo, capital, 1990. Entrega do Prêmio Mambembe aos melhores atores.
A EAD seria homenageada, e cada grupo apresentaria um excerto de sua peça em andamento.
Nós, inclusive.
Bastidores: Ney Latorraca e Lília Cabral eram os cicerones da noite. Vi o Ney secar uma garrafa de uísque sozinho durante toda a noite... rs... Sem contar que ele soltava uma
franga que só vendo... rs... Mas era uma pessoa muito simpática, assim como a Lília – Deus, que mulher alta!
Gente, posso garantir que todos os famosos que povoam nossa TV estavam lá. Todos.
Como estávamos vestidos a caráter, perambulando pelos corredores, destacávamo-nos na multidão, e todos vinham falar conosco. Lembro-me de que conversei bastante com o Edwin Luise, muito simpático, querendo saber detalhes da peça. O ator original da primeira montagem estava lá também (o mesmo que protagonizou o
A Marvada Carne. Infelizmente, soube que ele morreu de Aids há poucos anos.)
Sabem que foi o único chato da noite? Ele mesmo: o Edson Celulari. Orgulhoso, pomposo, imponente, mal nos dirigia olhares. Nem parecia o menino pobre que jogou futebol com meu cunhado em Bauru, quando criança. Deixa pra lá...
Chegou o momento. As luzes se apagaram. Posicionamo-nos.
Ainda em meio à escuridão, os acordes nitentes de minha violinha ecoaram pelo teatro lotado, enquanto palmas e sapateados preparavam o momento musical.
As luzes se acenderam e prosseguimos em nosso momento de glória, pisando o grande tablado de madeira do teatro com nosso número musical.
Aplausos, aplausos...
Eu já estava acostumado com palcos desde meus tempos de coralista, mas ali, em menor número, disputando a atenção de tanta gente, de repente tudo fica mágico, envolvente, irreal, vaporoso...
Montamos a peça por mais umas semanas, rodamos pelos teatros de Sampa, depois tudo acabou, findou-se.
Mudei-me para o interior, e a vida prosseguiu, como é, foi, e sempre tem de ser...
Pequeno vocabulário Ortográfico da Língua De Nossos Pequenos Entre 3 e 5 anos - Parte I
Chefechelante -
s.m. Refrigerante
Digavarzinho -
adv. Devagarzinho
Chicota não! -
expr. Não gosto não!
Pilador de pilabrisa -
s.m. Limpador de pára-brisa
Pililongo -
s.m. Pernilongo
Pista -
s.f. Pizza
Pistinha -
dim. Pizzinha
Tchegô Balu? -
expr. Chegamos a Bauru?
Esotérico X exotérico
Vou explicar a diferença.
Uma vez, num comentário de um blog, disse mais ou menos isso:
Um dia vou contrariar a medicina, e provar que posso ficar 24 horas grudado em seu coração.
Eu fui esotérico nessa frase.
Resposta aproximada de uma leitora: "Credo! Que cara peguento! Imagine viver com alguém assim..."
Ela foi exotérica nessa frase.
Dizer muito mais além do que está meramente dito, "penetrar surdamente no reino das palavras", trabalhar com a simbologia da aparência, mostrando que muito mais há "na cesta do pão", jamais se atendo à casca aparente das coisas, isso é ser esotérico.
Eu jamais disse, literalmente, que viveria
fisicamente na alma, no corpo de uma pessoa. Eu sutilmente afirmei que o importante é viver no
coração de alguém, órgão que, desde eras medievas, representa o núcleo de nossas emoções.
Viver no coração, na mente de alguém, o tempo todo sendo por ela lembrada é algo muito reconfortante...
Eu fui esotérico naquela minha declaração.
A pobre leitora, como tantos outros infelizes nesse mundo, que sempre se atêm à casca grosssa das imperfeições dos atos e linguagens, achou que eu estava literalmente defendendo o "peguentismo", aquela prática infeliz dos inseguros e ciumentos, que confundem amor com paixão, que desenvolvem um apego e insegurança que se misturam bem a acessos doentios de possessividade.
Ela foi exotérica na sua declaração.
Gente, leiam-me com atenção.
Eu sempre procuro ser eu mesmo, por trás de palavras e frases, e dou a oportunidade para que todos me conheçam.
Assim gosto de
ler os outros, e também de ser lido.
Sou como o cavaleiro da Triste Figura, procurando ler o mundo como um livro aberto...
Por favor, não se fechem para mim, não se fechem para si e os outros...