Rufus: quase humano.
Tanto tenho lido sobre pessoas grávidas (como o caso da
Dri Spaca), que vão ter ou já tiveram filhos, que resolvi abrir meu baú e postar aqui uma notinha que escrevi umas semanas depois do nascimento de meu primeiro filho. Ei-la:
NATIVIDADE
Bauru, 01/03/98
(Peter Gabriel,
Passion, 88’)
“Então é isso. Cumprem-se os desígnios do Céu, todo o Universo se prepara para o magnífico instante e pouco tempo depois um choro nitente e forte rompe, simbolicamente, o espaço que separa o mundo físico do extrafísico. Meu filho nasce, então.
É isso, pois. Um ser de carne, frágeis ossos e fortalecido espírito escolheu-me como pai material e futuro mentor, por toda sua vida. Uma dádiva, um presente de valor inestimável.
(Vocês são capazes de imaginar a complexidade que envolve um parto?)
Tudo, enfim, perde o seu sentido. O que foi, o que está sendo, o que é, o que virá, nada mais importa a não ser o seu riso, o seu choro, o seu olhar, a sua dor e a sua alegria.
Um ser humano gerado por mim e minha mulher!
Todo o sentimentalismo e a paixão dos poetas é coisa quase indigna de expressar o que sentem um pai ou uma mãe, quando um rebento lhes preenche os braços e o olhar...
E que sentimento único!
Meu filho dorme, agora, com a paz dos milênios. Em tudo é igual a mim: da raiz dos cabelos, passando pelas mãozinhas sublimes, à têmpera altiva e magnânima. Ama o silêncio e suas vozes, desafia o vazio com seu olhar paciente e penetrante, e aguarda, em seu resignado recato, o tempo em que poderá se comunicar comigo não mais por olhares profundamente verdes, porém através de mágicas palavras e expressões.
Não, não é mágica ser pai. Mágica é ilusão, e o que carrego em meus braços, agora, sereno e belo, é um filho, amado e solitário...
Deixo-o dormir com seus sonhos e ânimos renovados, que a jornada será longa, muito longa... E eu estarei por perto, sempre e quando ele precisar de mim...”