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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
This is my blogchalk:
Brazil, Goiânia, Portuguese, Spanish, French, Rufus, Male, Music, More Music.

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Rufus: quase humano.
sexta-feira, outubro 29, 2004
Engraçado...
... faz quase um mês que tenho escrito um texto longo, linha a linha, diariamente, para postar aqui.
Esse seria meu post final.
"Seria"?
Vocês também sentem essa comoção - uns mais, outros menos, outros nunca, outros sempre - de querer parar de escrever em seus blogs, não?
No meu caso, não há meio termo: posso ser indeciso em outras situações de minha vida, mas aqui percebo que tenho de ser mais radical: ou paro de escrever de vez ou dou um impulso novo, revigorante, a este espaço.
Ele fará a falta a muita gente? Claro que não. Ele é pouco lido, pouco freqüentado, talvez porque eu não dê o devido valor a minhas próprias palavras, talvez porque eu não seja fútil o bastante para postar comentários em blogs aleatórios, do tipo "muito legal o seu blog, dê uma passadinha lá no meu", talvez porque eu ache que tudo isso aqui, como quase tudo ligado à Net, seja uma grande ficção, um espaço divertido em que podemos exercitar nossa quota mágica e diária de fantasia.
Mas, como tudo na vida, a qualidade faz a diferença, e nunca me esqueço de vocês, meus poucos e fiéis leitores, que sempre conseguiram me entender nas entrelinhas, e mesmo nutrem por mim uma admiração carinhosa. A recíproca também é verdadeira...
Talvez, então, só por isso, eu mude de idéia, porque, se eu cortar esse fio invisível que nos separa, uma cadeia mágica será quebrada, e acabarei me sentindo mal por isso.
Então façamos assim: até quarta-feira. Até quarta-feira decido se mantenho esse espaço ativo ou fecho para balanço.
Joan, obrigado por suas palavras vigorosas. Você é a sinceridade em pessoa, e, sem essa qualidade, um indivíduo se torna completamente “invisível”. Aliás, todos vocês se tornam visíveis para mim quando eu os leio... Sequer preciso visualizar uma foto de vocês... rssss...
Portanto, isto posto, garanto que vou pensar, ok? Talvez o teor do último post tenha a ver com essa indecisão atual minha, mas mudanças são para isso mesmo: para que nos estabilizemos e, então, num passo seguinte, comecemos a pensar em mudar de novo. Platão já não dizia mais ou menos isso??
Não sei se é assim: eu só sei que assim o é.
quinta-feira, outubro 14, 2004
Quantas vezes você abriu os olhos, ao acordar por esses dias, meses e anos, e pensou de imediato: preciso mudar?
E você mudou? Claro que não.
Já não há mais espaço para aquelas imaturidades juvenis de querer mudar o mundo, e não a ti mesmo. Hoje, mais do que nunca, você sabe que quem tem que mudar é verdadeiramente você.
Mas mudar o quê? Cristo, sei lá, algo deve ser imediatamente transformado, transmutado, desintegrado, reformatado, reciclado, rearranjado, seja o modo de pentear os cabelos, seja o jeito como põe a camisa (para fora ou para dentro da calça?), mas você sente, precisa, tem a intuição de que precisa mudar.
E você não muda... Esfrega os olhos, levanta-se, e se esquece de que precisa renascer.
Mais um dia que se vai...
Eu mesmo, um quase humano, mal provei da humanidade e já me encontro fartado dela...
Farto dos seres humanos e de suas neuroses, de suas mesquinharias, de suas limitações, e de todo farto de suas mazelas...
Eu já sabia que seria assim, antes de nascer.
Afinal, qual mortal não sabe disso, intuitivamente?
Mas eu quero ter o direito de me sentir ultrajado, fartado, indignado, mesmo que tentem me calar diariamente.
Começar de novo, como a letra de uma canção? Sim, uma hipótese...
Zerando sua vida, reformatando seu disco rígido, será que tudo isso trará você de volta a você mesmo?
Apagar-se, para só assim se completar...
E o temor de se criar uma via paralela, como num pesadelo virtual? Os problemas não se vão: só muda o jeito de chegarem até você...
É possível, é provável, é mesmo louvável, mas... Você precisa, definitivamente, mudar.
Já.
Agora.
Nem é preciso mesmo aquele ser especial, à semelhança de anjos diurnos que surgem e vão em frações de segundo em sua vida, dizer-te que estás totalmente deslocado no mundo, porque o mundo atual quase não tem mais novidades para ti.
“Estás à frente dos outros em vivências e aprendizado. Tudo te farta e os outros te impacientam. Na verdade, pessoas como você incomodam, porque causam estranheza, admiração e dúvida. E quem tem dúvida também tem medo... Percebeste? Já não és mais quase humano: és um perfeito ser de carne, certezas e ossos. Os outros, sim, precisam seguir na sua evolução milenar, incansável e laboriosa, porque os degraus da escada são muitos, tantos quanto são os grãos de areia. E quem está à frente oferece o braço para que o próximo possa subir mais alguns lances...”
E como me sinto agora, então? Como o colocador de eternas perguntas, tanto quanto mais rápidas do que suas possíveis respostas...
Quero mudar, quero me transmutar, quero encontrar a paz???
Quero, mais do que tudo eu desejo.
Mas, por ora, eu queria não mais querer...
sexta-feira, outubro 01, 2004
“Devia ser o ano de 1498 ou 1499...



...não me lembro bem. Eu era uma cigana, não que fosse má, mas eu não levava desaforo para casa, se é que me entende. Acho que, no fundo, eu era meio desbocada, um tanto quanto feminista demais para a época, e acabei sendo presa pela Inquisição espanhola.
A cidade, lembro-me bem: Toledo.
O padre que me encarcerou era secretário particular de Torquemada, seu homem de confiança.
Eu o xingava, ridicularizava-o por detrás das grades, achando tudo aquilo irreal, sem sentido. Eu não tinha medo de morrer, nunca tive.
E ele ali, impassível, perguntando-me, de tempos em tempos: ‘você confessa? Confesse e sairá livre’.
Eu não me dobrava. Confessar o quê? Eu era inocente. Sempre fui. Toda mulher é uma pobre inocente, suportando o jugo dos homens através dos séculos...
Senti que ele me olhava ora com pena, ora com interesse... Sim, eu sentia que ele se interessava por mim, que gostava de mim, embora lutasse contra isso, já que era contra seus princípios religiosos.
O tempo foi passando, e ele sempre protelando minha sentença. Ele adiava continuamente a conclusão de meu destino, sabe-se lá bem por quê....
O ultimato de seus superiores tardou, mas não falhou.
Lembro-me nitidamente dele adentrando a minha cela, um belo dia, pomposamente paramentado com suas clássicas vestes eclesiásticas. Trazia às mãos um grande e volumoso livro de registros. De maneira pausada ele abriu uma página, tomou da pena, molhou-a na tinta e, ao dirigir os olhos a mim, perguntou-me:
— Está pronta para confessar?
Eu, cinicamente, com ódio no olhar, apenas lhe retruquei:
— Não tenho medo da morte, não sou como você. E garanto que, até nos reencontramos de novo, você nunca sairá da igreja, nunca deixará de ser padre.
Ele, tristemente, baixou os olhos e assinou o livro.
No dia em que encararia a fogueira, não senti medo nem remorso: continuava sentido ódio.
Pude ainda vê-lo, a distância, do alto de uma janela, um olhar triste a apagado. No exato instante em que acenderam a fogueira, ainda atirei-lhe um último olhar, e percebi nitidamente que ele virou-se de costas e escondeu o rosto entre as mãos.
Como o reencontrei? Não foi uma experiência fácil à primeira vista... Quando cruzamos nossos olhares, ele ficou perplexo, porque as almas demoram um pouco para digerirem suas digressões. Meu coração disparou, minha pressão caiu, tive de ser amparada por amigos, fiquei muito nervosa.... Após uns 15 dias com essas estranhas emoções matutando em minha mente, tive a certeza de que era ele, o meu antigo algoz, que eu agora reencontrava...
Desde então, ele tenta uma reaproximação, já que tem muito interesse por mim.
E uma de minhas “profecias” tinha mesmo se cumprido: até o dia em que ele me viu, permanecia ainda ligado ao corpo da Igreja. Mas já pensa em abandoná-la...”

Tudo isso eu, Rufus, ouvi de uma senhora outro dia, e não fiquei surpreso. Os mistérios não me surpreendem... Mas a vida, com suas voltas e reviravoltas, essa sim me cativa cada vez mais...


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