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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
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Brazil, Goiânia, Portuguese, Spanish, French, Rufus, Male, Music, More Music.

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Rufus: quase humano.
sexta-feira, outubro 01, 2004
“Devia ser o ano de 1498 ou 1499...



...não me lembro bem. Eu era uma cigana, não que fosse má, mas eu não levava desaforo para casa, se é que me entende. Acho que, no fundo, eu era meio desbocada, um tanto quanto feminista demais para a época, e acabei sendo presa pela Inquisição espanhola.
A cidade, lembro-me bem: Toledo.
O padre que me encarcerou era secretário particular de Torquemada, seu homem de confiança.
Eu o xingava, ridicularizava-o por detrás das grades, achando tudo aquilo irreal, sem sentido. Eu não tinha medo de morrer, nunca tive.
E ele ali, impassível, perguntando-me, de tempos em tempos: ‘você confessa? Confesse e sairá livre’.
Eu não me dobrava. Confessar o quê? Eu era inocente. Sempre fui. Toda mulher é uma pobre inocente, suportando o jugo dos homens através dos séculos...
Senti que ele me olhava ora com pena, ora com interesse... Sim, eu sentia que ele se interessava por mim, que gostava de mim, embora lutasse contra isso, já que era contra seus princípios religiosos.
O tempo foi passando, e ele sempre protelando minha sentença. Ele adiava continuamente a conclusão de meu destino, sabe-se lá bem por quê....
O ultimato de seus superiores tardou, mas não falhou.
Lembro-me nitidamente dele adentrando a minha cela, um belo dia, pomposamente paramentado com suas clássicas vestes eclesiásticas. Trazia às mãos um grande e volumoso livro de registros. De maneira pausada ele abriu uma página, tomou da pena, molhou-a na tinta e, ao dirigir os olhos a mim, perguntou-me:
— Está pronta para confessar?
Eu, cinicamente, com ódio no olhar, apenas lhe retruquei:
— Não tenho medo da morte, não sou como você. E garanto que, até nos reencontramos de novo, você nunca sairá da igreja, nunca deixará de ser padre.
Ele, tristemente, baixou os olhos e assinou o livro.
No dia em que encararia a fogueira, não senti medo nem remorso: continuava sentido ódio.
Pude ainda vê-lo, a distância, do alto de uma janela, um olhar triste a apagado. No exato instante em que acenderam a fogueira, ainda atirei-lhe um último olhar, e percebi nitidamente que ele virou-se de costas e escondeu o rosto entre as mãos.
Como o reencontrei? Não foi uma experiência fácil à primeira vista... Quando cruzamos nossos olhares, ele ficou perplexo, porque as almas demoram um pouco para digerirem suas digressões. Meu coração disparou, minha pressão caiu, tive de ser amparada por amigos, fiquei muito nervosa.... Após uns 15 dias com essas estranhas emoções matutando em minha mente, tive a certeza de que era ele, o meu antigo algoz, que eu agora reencontrava...
Desde então, ele tenta uma reaproximação, já que tem muito interesse por mim.
E uma de minhas “profecias” tinha mesmo se cumprido: até o dia em que ele me viu, permanecia ainda ligado ao corpo da Igreja. Mas já pensa em abandoná-la...”

Tudo isso eu, Rufus, ouvi de uma senhora outro dia, e não fiquei surpreso. Os mistérios não me surpreendem... Mas a vida, com suas voltas e reviravoltas, essa sim me cativa cada vez mais...


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