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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
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Rufus: quase humano.
quarta-feira, setembro 03, 2003
Eu e minha viola...
1990 foi meu último ano na USP.
Morei por longos anos no alojamento da universidade – por falar nisso, sabiam que faço parte da história desse alojamento polêmico? Vou contar tudo aqui em detalhes, um dia.
No final de 90 voltei para o interior de SP.
Mas foi o ano em que tive uma grata e maravilhosa experiência: toquei viola caipira numa montagem de uma renomada peça teatral!
Eu sempre arranhei alguns instrumentos de corda, e eu tinha, na época, uma genuína viola caipira de 10 cordas, estilo cinturinha de moça.
A Rose, atriz da EAD (a famosíssima Escola de Arte Dramática da USP, pela qual já passaram pelo menos uns 7 entre cada 10 atores famosos), e de quem eu já falei aqui (tenho certeza de que ela dubla a Sidney, do seriado Alias...), andava vasculhando a universidade atrás de alguém que tocasse viola caipira.
Oras, ela se lembrou de mim no ato e me convidou, e eu aceitei, claro, pois não podia perder uma dessas...
A peça, uma das melhores do teatro nacional (a meu ver), e de autoria do Carlos Alberto Soffredini, chamava-se Na Carreira do Divino, e já foi montada inúmeras vezes por esse Brasil afora. Ela foi escolhida pelo grupo por ocasião dos 40 anos da EAD. A propósito, o filme A Marvada Carne é todo baseado nela.
Toda falada em “caipirês”, com os personagens e os músicos vestidos a caráter (chapéuzão de palha, roupas rústicas, descalços ou com botinas de couro, a viola toda enfeitada com fitas coloridas), a peça, de difícil montagem, vai ficar para sempre em minha memória...
Eu já abria a montagem teatral entrando com o pessoal ao som rasgado de minha violinha, numa espécie de dança caipira com direito e palmas e sapateados.
Em seguida, os músicos sentavam e o espetáculo inundava os espectadores de emoção...
Nitidamente inspirada no típico Jeca Tatu, de Lobato, a família de retirantes errava a esmo por paragens inóspitas, nômade e simples no seu jeito de ser, constantemente enganada e suportando o peso de sua ignorância... Uma peça maravilhosa, que nos fazia ir do riso espontâneo às lágrimas em questão de minutos...
Eu e mais uns dois colegas éramos responsáveis pela música incidental e os números em que as personagens cantavam. Ficávamos a um canto, completando a paisagem como semi-personagens. De minha posição privilegiada participei de todo o trabalho de ensaio e preparação dos atores, da cenografia, iluminação, etc. Experiência muito interessante... Até conheci o autor da peça, um dia, num dos ensaios...
Mas o momento de glória ainda estava por vir...
Teatro Sérgio Cardoso, São Paulo, capital, 1990. Entrega do Prêmio Mambembe aos melhores atores.
A EAD seria homenageada, e cada grupo apresentaria um excerto de sua peça em andamento.
Nós, inclusive.
Bastidores: Ney Latorraca e Lília Cabral eram os cicerones da noite. Vi o Ney secar uma garrafa de uísque sozinho durante toda a noite... rs... Sem contar que ele soltava uma franga que só vendo... rs... Mas era uma pessoa muito simpática, assim como a Lília – Deus, que mulher alta!
Gente, posso garantir que todos os famosos que povoam nossa TV estavam lá. Todos.
Como estávamos vestidos a caráter, perambulando pelos corredores, destacávamo-nos na multidão, e todos vinham falar conosco. Lembro-me de que conversei bastante com o Edwin Luise, muito simpático, querendo saber detalhes da peça. O ator original da primeira montagem estava lá também (o mesmo que protagonizou o A Marvada Carne. Infelizmente, soube que ele morreu de Aids há poucos anos.)
Sabem que foi o único chato da noite? Ele mesmo: o Edson Celulari. Orgulhoso, pomposo, imponente, mal nos dirigia olhares. Nem parecia o menino pobre que jogou futebol com meu cunhado em Bauru, quando criança. Deixa pra lá...
Chegou o momento. As luzes se apagaram. Posicionamo-nos.
Ainda em meio à escuridão, os acordes nitentes de minha violinha ecoaram pelo teatro lotado, enquanto palmas e sapateados preparavam o momento musical.
As luzes se acenderam e prosseguimos em nosso momento de glória, pisando o grande tablado de madeira do teatro com nosso número musical.
Aplausos, aplausos...
Eu já estava acostumado com palcos desde meus tempos de coralista, mas ali, em menor número, disputando a atenção de tanta gente, de repente tudo fica mágico, envolvente, irreal, vaporoso...
Montamos a peça por mais umas semanas, rodamos pelos teatros de Sampa, depois tudo acabou, findou-se.
Mudei-me para o interior, e a vida prosseguiu, como é, foi, e sempre tem de ser...


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