Rufus: quase humano.
... é assim que me senti ontem à noite, voltando à noite pelas estradas goianas de uma curta viagem a Brasília: um verdadeiro
ghost rider, como na nova música do
Rush.
Dirijo há muito tempo, tenho verdadeiro prazer em dirigir, principalmente pelas estradas desertas, e de preferência à noite.
Aquele clima de solidão e imensidão negra à minha frente combinam muito comigo.
O que, para alguns, é motivo de pavor, um medo terrificante, como estradas noturnas, para mim é um refrigério para a alma. E o som especial no CD player fecha o clima...
Solidão, música, poucos carros na pista, retas e curvas... Meu cérebro fica em ebulição com tantos planos e idéias que surgem em minha mente.
Por que será que a solidão nos atiça tanto a imaginação? Lembro-me de um tema de redação de um vestibular, bem ao estilo: " a solidão é oficina de idéias".
É exatamente isso.
Medo? Eu? Claro que não.
Acho que eu me sinto, às vezes, como o Pedrinho, do sítio do Picapau Amarelo: "Eu não tenho medo de nada, só de picada de marimbondo"...
Uma das vantagens de ser
quase humano é poder ter acesso a planos de seu destino, já traçados. E tenho maturidade e segurança suficientes para saber de meus "arquivos ocultos". Sei que não vou morrer em estradas. Possivelmente, terei meu ciclo humano encerrado já bem entrado em anos, e talvez do coração, a mais simbólica e comum forma de desligamento.
Ser ceifado pelo órgão que centraliza, poeticamente, as emoções humanas... que belo simbolismo...
Mas o certo é que, ontem à noite, dirigindo só por estradas perigosas e sinuosas, senti o que sempre sinto desde criança: um amor devotado à solidão, e pelo bem que ela nos faz à alma e aos sentidos...