Rufus: quase humano.
Para responder a isso, leiam o que escreveu o Millôr Fernades:
Eu sofro de MIMPHOBIA:
embora com medo de mim mesmo,
eu me enfrento todo dia”.
Brilhante! Estupendo! E vindo da veia poética de um reconhecido materialista, tudo fica mais fascinante ainda...
Amigo, amiga, esses versos resumem o motivo de eu, vocês, nós estarmos aqui neste mundico deprimente: VENCER A NÓS MESMOS. Nada é mais difícil e penoso do que isso.
Construir torres de meio quilômetro de altura? Fácil.
Viagem tripulada a Marte? Facílimo.
No entanto... “conhecer-se a si mesmo”, vencer a si e a seus problemas internos, fazer amadurecer a si e, conseqüentemente, aos que o rodeiam?
Missão quase que impossível.
Parece que vou mudar de assunto, mas não vou.
Sabem por que Guimarães Rosa – tão admirado por mim e pelo resto do mundo – é considerado um gênio, um visionário, a ponto de obras de grandes mestres europeus serem consideradas café pequeno frente à maturidade das obras do nosso mineiro?
Porque ele trata brilhantemente, em seus livros, do maior enigma, do maior dilema do ser humano: o enfrentar-se a si próprio, vencer seus medos e cristalizações, crescer, libertar-se...
a Igreja Católica chegou a criar a metáfora do demônio (aquela que nos tenta, nos põe à prova a cada minuto) para espelhar o dilema da tentação: se vencemos a ela, vencemos a nós próprios.
Isso se chama, afinal, auto-conhecimento!
Querem entender melhor?
No conto
Corpo fechado, de
Sagarana, temos a história de um moço simples que é desafiado por um valentão, um homem mal que deseja possuir a noiva daquele. Pois bem.
Ele é testado, posto à prova, tem de enfrentar um inimigo poderoso, real, que ameaça sua vida. Ele pode acovardar-se, deixar que o outro possua sua noiva, e com isso preserva sua vida.
Ou pode enfrentar seu destino, arriscar tudo, nem que, para isso, perca sua própria vida.
E o que ele decide, afinal? Ora, o óbvio: enfrentar o valentão. Para tanto, um curandeiro faz um feitiço para “fechar” seu corpo. Óbvio que não existe esse feitiço: é como se fosse uma carga de ânimo e segurança para que o bom moço pudesse acreditar que estaria provido de poderes mágicos.
Claro que ele vence o inimigo, afinal, o “bem sempre vence” (irc!).
Davi e Golias. O pequeno frente o grande.
Mas, para tanto, para chegar à vitória final, ele teve de vencer o principal: SEU PRÓPRIO MEDO! O valentão nada era, nada significava, fisicamente. Não passava de um arquétipo de nossas fobias, de nossa ignorância. Muitos valentões ainda vão surgir em nossas vida, também, e serão vencidos um a um, claro...
Nosso herói venceu porque ele consegui auto-conhecer-se, desvendar seus dilemas, angústias e dúvidas; vencer, no plano interior, o que, no exterior, era apenas uma representação física.
O medo.
Aprendam isso: medo é e sempre será ignorância. Temer a si é evitar o mundo e suas oportunidades de crescimento.
Quem vence seus preconceitos, quem amplia sua visão de mundo desenvolve suas percepções, sua compreensão das coisas e dos seres, e nada mais passa a temer.
Assim o é.