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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
This is my blogchalk:
Brazil, Goiânia, Portuguese, Spanish, French, Rufus, Male, Music, More Music.

Sou mais ou menos assim:

Vi, li e aprovei:

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Ouço e aprecio:

Toco em meu violãozinho músicas de:

Meus filmes preferidos:



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Rufus: quase humano.
quinta-feira, janeiro 29, 2004
"Gotas, minhas anódinas gotas..."
Trilhas de hoje:
House, Marillion
Rites of passage, Fish
When the angels fall, Sting
The price of fire, Capercaillie



As canções acima, envolventes, lânguidas, sonhadoras, românticas, combinam muito bem com esses últimos dias chuvosos...
Não adianta: fico irremediavelmente romântico em dias assim... Enquanto muitos maldizem as chuvas, traiçoeiras e responsáveis pelo caos que se instala nas cidades, eu fico melancólico como uma criança, ao ver a vida passando lá fora, através das vidraças molhadas...
E (confesso) sou meio maluco também: adoro dirigir na chuva, ouvindo trilhas sonoras que completam a paisagem nublada à minha frente... Sinto-me como se estivesse em meio a um clip, um quadro vivo que evoca, que exala pura música...
Sinto que eu moraria muito bem em países tristes e nublados como a Bélgica ou mesmo o Reino Unido.
E o que posso fazer? Tenho culpa se não sou muito chegado ao calor? Todo mundo (eu incluso, claro...) gosta de sol, praia, vento, tardes modorrentas regadas a um bom choppinho, mas o calor me desgasta incrivelmente. Entro em câmera lenta, parece que tudo trava, parece que vou me evaporar em meio às lufada de calor implacáveis.
Nos tempos mais amenos, inverto a corrente: meus neurônios despertam, as engrenagens invisíveis da imaginação começam a funcionar melhor, e minha disposição só faz aumentar...
Ruído de chuva lá fora, noites frias regadas a chás adoçados (com dois torrões de imaginação), PC à frente e ausência de sono: tudo isso já me bastaria para escrever linhas intermináveis e inspiradíssimas.
Bem, para quem não concorda com todo esse meu envolvimento “úmido” com a chuva, que estas linhas, escritas uma vez por mim, sirvam de consolo:
“Os poetas amam a chuva a distância. Se estivessem aqui embaixo, ensopados como estou agora, amariam a chuva muito mais longe ainda...”
quarta-feira, janeiro 28, 2004
Sons de hoje (da série “Eu recomendo!”):

Ghost Rider, Rush.
Best thing, Filter.
Illusions, George Duke.
Exploring the blue, Luka Bloom.
Violin concerto (Jascha Heifetz), Brahms.


Já vou adiantando: não sou vegetariano: eu apenas não como carnes...
E não adianta me perguntarem de qual cor, pois carne, pra mim, é tudo igual, seja vermelha, azul turqueza, branca ou violeta.
Sim, sim, sim: Já cansei de ouvir dos engraçadinhos aquela piada do vegetariano que leva a namorada pra moita e come e moita... Se bem que me vingo, quando perguntam: “não come nenhum peixe, nem piranha?... rá rá...”. “Não, obrigado. O único peixe que eu como é... sereia....”.
No fundo, como eu só como carne “humana” — se é que me entendem... —, acho que já consegui me definir: sou um legítimo canibal. (kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk...)
Oras, pra quem não sabe, há pessoas que são alérgicas a carne. No meu caso, eu até poderia voltar a comer (se eu conseguisse, claro...), mas é como se eu já tivesse eliminado a carne de meu código genético. Olho para aquele bife “suculento” e não sinto vontade de trinchá-lo, despedaçá-lo, rasgá-lo com meus dentes, mastigar ferozmente como uma animal raivoso...
O que, para a maioria de vocês, representa algo apetitoso, para mim nada mais é do que uma coisa morta, sem vida, sem atrativo algum. Até o cheiro “daquilo” tem um outro sentido para mim.
Tá, eu sei que também assassino alfaces, rabanetes e abrobrinhas quando como, mas confessem que isso é BEM diferente do que matar um bicho, não? (Os vegetais não têm livre-arbítrio, mas os animais sim...)
Falando sério (pelo menos uma vez na vida): não critico quem coma ou não carnes, quem apresente mil argumentos favoráveis a ela, nem quem me impõe dogmas ou conceitos religiosos (se bem que muitos são bem pertinentes...). Eu simplesmente não preciso me alimentar de carne alguma.
E já faz 14 anos que não sei o que é um bifinho com aquela gordurinha nas beiradas, ou um churrasquinho qualquer, nem que seja de gato. E acreditem: acendo a churrasqueira, asso carnes mas não as como: a família completa essa função...
E não vem que não tem: dificilmente fico doente, não sou anêmico, não estou fraco e acabado, muito pelo contrário: tenho uma disposição invejável — e entendam como quiser, seus maldosos...
Repararem que tudo isso não é questão de gosto ou vaidade: eu jamais ligo para essas coisas... Como de tudo e vivo em forma (o velho pecado: quem pode, mesmo, não consegue engordar... e olhem que eu precisava ganhar mais uns 5 quilos, mas não consigo ganhar peso de jeito nenhum, a não ser que eu aumente minha massa muscular por meio de exercícios físicos, ou seja, que eu dê uma “engostosada” ). (ops, já me interessei...rá rá)
E na Natureza ainda é assim, meus filhos: uns comem, outros são comidos. Lei implacável. As exceções, no entanto, é que tornam nossas vidas mais interessantes...
E um viva a nós, aos que não se alimentam de deliciosos, suculentos e apetitosos corpos de bichos... nham!!
segunda-feira, janeiro 26, 2004
Meus tantos versos primogênitos...


Uma querida “fã” e amiga blogueira — não parece palavrão esse termo? — sugeriu que eu participasse de um concurso de poesia.
Pois bem.
Topei sim, até porque convivo com poesia desde que me peguei me chamando de “gente”.
Meus textos, desde então, rodam por aí, e preparo um livro, sim senhor e senhora, para quem já ia perguntar...
Medo de plágio? Claro que não... Além do devido registro, cada poema que escrevo é meu filho único, primogênito entre tantos outros primogênitos, e cada um deles leva minha assinatura pessoal, distinta, com suas histórias abundando pelas entrelinhas.
É praticamente impossível alguém querer tomar para si as mesmas sensações e dores e desavenças e alegrias e temores e desilusões que me motivaram a escrever uns tantos versos, e duvido que outrem possa saber explicar detalhadamente o conteúdo de tão obscuras e melancólicas linhas... rsss...
Sim, sim, tenho toneladas e mais toneladas de leves linhas... Alguns poemas consistem em míseros dois versos, outros preenchem umas 15 páginas (tanto faz...), só sei que “pari” cada coisa de dar medo, às vezes me assombro com tanto conteúdo “estranho”... rá rá...
“Isso” aí embaixo é uma pequena demonstração, por falar nisso, do que esse pessoal do concurso vai receber em breve...
Será que gostarão, ou estarei sendo um pouco... petulante demais????????



SONETO PETULANTE


Sou um conservador: conservo
livros, fotos, canetas, desilusões...
Satisfeitos? Ainda assim me enervo
ante olhares, vadios das emoções.

Pensam-me triste e otário,
parvo e belo; nem um, nem outro.
Sou muito mais que o contrário
de mim próprio, que meu desencontro.

Porque não me preocupo em fechar
os olhos sem antes ter vontade.
Tenho minhas dúvidas, terei um lar:

que mais tenho? Orgulho e bondade,
inveja e desprezo, olhos e boca.
E minha força é cada dia mais louca.
sexta-feira, janeiro 23, 2004
"Batteries not included".


Rufus é assim: tem dias em que está inspiradíssimo, e, noutros, escreve despretensiosamente, sem muito medir as palavras...
Hoje estou assim, e vou falar sobre aquilo mesmo que vocês já está pensando agora, o assunto predileto em mais de 70% dos blogs de plantão: cinema.
Já li reportagens intermináveis sobre a maneira como traduzem títulos de filmes estrangeiros em português... O negócio é tão horrível e monstruoso que, às vezes, chega a dar nó no estômago.
Uma qualidade dos filmes europeus (e mesmo americanos, vá lá...) é a sutileza do título, algo que se perde completamente quando se traduz o mesmo para nosso idioma...
Para mim, isso é o nosso verdadeiro atestado de imbecilidade, saber que o título tem de ser adequado ao gosto do povo, tornar-se chamativo, explícito, absurdo, descontextualizado, para que o parvo brasileiro se “sinta cativado a assistir o filme”....
Assim não dá: por que não se informar sobre o filme, antes de assisti-lo? É necessário mesmo ter aquele título infeliz e chamativo, totalmente fora da realidade do próprio filme, às vezes?
Exemplos? Não faltam...
Vejam o Amnésia, por exemplo.
Logo no início do filme o protagonista diz: “não sofro de amnésia, pois lembro de tudo que aconteceu em detalhes até o dia do crime. Apenas esqueço os fatos recentes, que aconteceram há cerca de minutos...”
Tanto é assim que o título original é Memento, palavra latina que significa “lembrete”. Ou seja: ele escreve “lembretes” por todo o corpo, para que se lembre de fatos importantes assim que se olhar no espelho...
Nada a ver, não?
E O milagre que veio do espaço, então? Acho que esse ganha o prêmio do título mais infeliz....
Este clássico da Sessão da Tarde não surpreende nem uma criança de 3 anos, pois esta já adivinha tudo de antemão: vai haver um milagre na história, e ele surgirá do espaço... Ou seja: Vai ter ets na trama e uma situação difícil que eles vão resolver milagrosamente...
O título original? Batteries not included, uma frase sutil, com um significado todo especial, que um dos personagens — um ex-pugilista eremita e meio maluco — diz ao longo do filme. Detalhe: ele só se comunica por meio de frases tiradas de manuais, propagandas e slogans publicitários...
Quando vê aquele robozinho que “nasceu” sem vida, inerte, diz, lacônico: “Batteries not included”.
Ou seja: o título de um filme faz parte da trama, da história envolvente, e você só vai entender o mesmo se “entrar” dentro do enredo, e acompanhá-lo atentamente...
Às vezes, o título é uma palavra bem colocada, quase despercebida, que aparece em determinado contexto do filme.
Outro exemplo? Alguém sabe qual é o título original de um grande filme (refilmado por Spielberg), e um de meus preferidos, o Além da eternidade?
Sim, esse mesmo: Always.
E alguém sabe por quê?
Por que o personagem de Richard Dreiffus pergunta a sua amada Holly Hunter, em determinado momento do filme, até quando ela vai amá-lo, e ela responde: “always”.
Pronto. Pura mágica!
Nem filmes da minha listinha de “Os 10 mais" escapam, como é o caso de Breakfast of Champions, que, embora nada tenha de “louco”, ganhou a infeliz alcunha de À Beira da Loucura... Assim não dá...
Mas não fiquem se lamentando por serem brasileiros...
Dizem que Psicose, em Portugal, entrou nos circuitos com o pavoroso título O filho que era mãe.
Acreditem!!
quarta-feira, janeiro 21, 2004
Palavras, metáforas e paradoxos...


Tanto tento, ao relento, a sós, em meio ao tormento, ou mesmo ao sabor da brisa, escrever, porém não consigo. Debalde me sinto um caçador de palavras, vagando o mundo silencioso e traiçoeiro da linguagem, atrás das primeiras, que me espreitam...
E como me sairia numa prosa poética? Numa canção sem palavras? Num texto idílico e sonhador, de tão belo e criativo?
Pensei em brincar com figuras de linguagem, antes que elas mesmas resolvessem brincar comigo...
Daria mil voltas ao mundo atrás de uma hipérbole, ou enfrentaria, tal qual um Hércules combalido, um batalhão de comparações, antes que avistasse, ao longe, uma metáfora, uma apenas... Bela, pura, nitente, cativa...
E dela eu ouviria, calado: “Sou a Verdade: uma mentira muito, mas muito sincera...”.
Eufemisticamente, eu lhe diria, de volta, que ela está longe da verdade, ao se definir... Diria mesmo – e ponto final – que ela, para comigo, não está sendo sincera...
Ah, senhora Metáfora, perdoe-me, mas amo as metonímias, as sinédoques sem maridos ou esposas, órfãs mesmo antes de nascer, paridas ao mundo às centenas, aos milhares...
Escapou-me uma agora: o sal de meus olhos. O sal de meus olhos risca minha face.
Além disso, sabeis de que tão e tantos paradoxos minha vida é feita... O muito do pouco que me resta, sozinho em meio à multidão insana, carinhosa, agressivamente calma e fiel à sua loucura terçã.
Não, não confunda tudo isso que digo com antíteses: essas, antes, se completam. O dia e a noite. O claro e o escuro. Já meus paradoxos, meus dilemas, não.
Rio para não chorar. Choro de rir e me farto da ausência, que tanto que completa... Nada me falta, a não ser o mais simples das coisas: tudo.
E por acaso sabem o que é sentir um misto de tristeza que te alegra, ou uma melancolia que te diverte? É assim que sou... Calado, de tão falante... Tímido, de tão desinibido. Egoísta, de tão dado aos outros. Humano, de tão presente na vida de muitos... ou poucos... Ou de ninguém... ou de dois seres, apenas...
Aliterações... Como o tropel de três tristes tigres, tergiversos, alternando-se, alastrando-se, ribombando, aos bandos, e o precipício, a que se atiram agora, nada lhes é que mais um início... Um outro início...
E vou partir, agora, à cata de mais palavras irmãs, ou inimigas — que sejam — , desde que bem-vindas ou catapultadas de bocas alheias...
Derrubá-las-ei com tiros certeiros, e ai delas se tentarem fugir de mim, pois minha vingança será cruel: aprisioná-las-ei nestas linhas.
E delas não terei compaixão, porquanto pretendo mostrá-las a todos, do jeito como estão agora: nuas, envergonhadas, totalmente expostas...
Ei-las...
terça-feira, janeiro 20, 2004
Se contar, ninguém acredita...
Parodiando a Ana, do “Ninguém merece!”, desenterrei algumas daquelas pérolas divertidas que nos acometem às vezes, e que, se não contarmos, ninguém iria acreditar... O pior é que a gente conta e, mesmo assim, ninguém acredita.... rssssssss....

Com vocês, Vivi, 3 anos, a Bubudi, vendo TV ontem:
Ela: Pai, esse homem é um minhoco.
Eu: um minhoco? Uma minhoca, você quer dizer?
Ela: não, pai, um minhoco!
Eu: como assim, minhoco? O marido da minhoca?.. (rá rá...)
Ela: não, pai, como chama aquele minhoco que dorme?
Eu: mas que minhoco que dorme, menina? Será que você quer dizer... dor... minhoco?
Ela: é, pai, dorminhoco...


Meu futuro ex-sogro (cujo QI é bem próximo ao de uma ostra em coma...), olhando a lista telefônica:
Ele: não consigo achar o nome na lista...
Eu: como é o nome dele?
Ele: João Antônio da Silva...
Eu: deixe-me ver... Humm... Mas o senhor está procurando na letra J! Tem que procurar pelo sobrenome!
Ele: Ah, é? Mas antigamente era pelo primeiro nome...
Eu:...........................[mas de onde ele tirou essa?]......................................


Há muitas e muitas eras atrás, lá em Sampa, dentro de um busão da CMTC. Uma mulher senta-se ao meu lado, logo após o assento ficar vago.
Ela, assustada: nossa, quem estava sentado aqui?
Eu: um homem.
Ela: nossa, mas o assento está quente!
Eu: e daí?
Ela: e se eu pegar uma doença? Não tem perigo???
Eu: dããããããããããaa........


E o troféu “Sorvete na testa” goes to: minha futura ex-cunhada, discutindo com alguém (coisa que ela sabe fazer muito bem...):
Ela: ... não estamos fazendo nada demais, apenas uma “discurssão” (sic).
Eu, entrando na conversa: discussão, você quer dizer?
Ela: não, discurssão mesmo.
Eu (acreditem ou não, professor de português): mas essa palavra não existe! discussão, sim.
Ela: claro que existe! “Discurssão” é quando a gente briga, conversa alto, e discussão é quando apenas trocamos uma idéia...
Eu, babando para dentro: dãããããããããããããã...... (de novo)

(Definitivamente, ninguém merece...)
sexta-feira, janeiro 16, 2004
Bom,
ninguém perguntou, então resolvi traduzir assim mesmo aqueles versos do Catulo, que apareceram naquele longínquo post do dia 13... deste mês...
Da mi basia Mille = Dá-me mil beijos.
In te, in te, in tuo ingente amplexu, tota est mihi vita = em ti, em teu desmesurado abraço, está toda minha vida.
As moças suspiram e dizem: “Ai, que lindo...!!”
E o pior é que é mesmo, he he...
Um ingente amplexu para vocês, e até segunda...
quinta-feira, janeiro 15, 2004
Só queria dizer que
"A Verdade brilha como um sol. No entanto, muitos, infelizmente, contentam-se apenas com o brilho de uma lamparina..."
Apenas isso.
Melancólica arte poética rufusiana.
MEMÓRIAS.

E a protuberância
adentrou
o receptáculo.
Do instante
brotou então
a dor que é
quase morte

E quase se morre...



INSPIRAÇÃO

Ainda ontem te penso,
minha amada.
Hoje te venero,
amanhã tenho a ti.
Há pouco me não vias,
quase te perco.
Ganhas-me um beijo,
partes como a noite chega.

Ainda agora te espero:
em minutos sei que
serás minha.
- Agora és minha.
Em segundos sei que
deixarás minha mente
atribulada:
- agora mesmo não és mais minha...



P A L A V R A

Aproximei-me dela.
Hoje sinto que amo,
e a palavra nunca me traiu.
Brotou em minha garganta,
morreu em meus lábios
(estes estremeceram).
Afastei-me arrependido...

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Há um retrato de um garoto
preso à parede,
há uma rede ao mar
lançada.
O garoto não se mexe
há meses,
a rede retorna
vazia.

Há um abajur apagado,
que já vou acender.
Há uma mulher desconhecida
vindo me socorrer.
O abajur não quer
falar,
a mulher só quer
vir.

Há muito mais guardado
na cesta do pão.
Há homens catando
comida do chão.
O pão estragou-se com
a chuva,
os homens comeram restos
com terra.

Há você que me lê e ouve,
e só faz ler.
Há alguém que morre
só uma vez.
Você fecha o livro e
vai para casa.
Aquele que dorme
volta a viver.

quarta-feira, janeiro 14, 2004
Coisas completamente ridículas, sem sentido e/ou explicação (talvez a Parte I...):


Ø Homens de bermuda com cinto, cabelo engomadinho penteado do lado, óculos medonhos, camisa espalhafatosa para dentro, pochete gigante (na frente...), meias pretas até o joelho e sapatos brancos.
Ø A linguagem de alguns (muitos) apresentadores de TV.
Ø A maneira de dirigir do goiano (e do brasiliense, e do bauruense, e do carioca, e do...).
Ø Axé music.
Ø Gente que dirige pela esquerda, quase parando, e não dá passagem nem que Cristo desça num disco voador na sua frente vestido de PM e com bloco de multas na mão...
Ø Relógios que falam (ainda mais com a voz do SS...).
Ø Rock cantado em castelhano (convenhamos: não dá!).
Ø (Já que toquei no assunto): música italiana, daquelas bem bregas...
Ø Testezinhos merrecas do tipo ”Que ator de novelas mexicanas você é?”. “Parabéns! Você é a Carmen Maurícia Chiuaua Asdrubalina!”
Ø Capas de cds de música “do povão”, com loiras, morenas e seus belos derrières estampados em 3/4 da foto...
Ø Por falar nisso: pagode. E pagodeiro que tinge o cabelo de amarelo.
Ø Fila. Qualquer uma. Desde a do cinema até a de exame de urina.
Ø “Pegadinhas” grotescas e manjadas em programinhas de TV futricos e sem audiência.
Ø Axé music.
Ø Entrevista de jogador de futebol logo após o jogo: “De modis que a gente estávamos prepado, entende, treinemo pra isso, e aí eu fiz que fui, fui indo, e acabei fondo, entendeu?”
Ø Turista japonês dançando samba. E americano também. E alemão nem se fala...
Ø Nomes de duplas sertanejas goianas: Herman e Hermano. Jiu-Jitsu e Fujitsu. Corno e Conformado. Ai Ki Dô e Sai Keu Dô. Já Dei e Tô Adorando. Financeiro e Monetário. Inflação e Juros Baixos. Jadisgleison e Jadisdeu. Adevogado e Pisciclólogo. Bicha Kiwi e Jeca Gay. Djuly e Djohn. Mário João e João Mário. Já fui e Tô Vortando. Epaminardo e Epaminondas. Espalufrário e Bem Lustrado. Zeca do Coco e Cocô do Zeca. Tadinho e Ai de Mi. Casado e Separado. Amasiado e Amigado. Kardecista e Macumbeiro. Tião da Tiana e Angu do Gosme. Maicon e Maicol. (AAAAHHHHHH!!! ME TIREM DAQUI!!!!!!)
Ø Comerciais de lojas ou hipermercados que tratam os consumidores como palhaços ou imbecis: “Que você está esperando? venha já para cá! Deu a louca nos preços!!” — detalhe para a imagem de fundo: gente estrebuchando, contorcendo-se em camisas de força e fazendo caretas, como se estivessem num manicômio...
Ø Mulheres que se dirigem às outras falando “cara!!”.
Ø Axé music. Pagode. Música sertaneja. Richarde Kreiderman. Kenny G. (isso é nome de gente??). Bolero-trilha-sonora-de-casamento-no-sítio. Aquele mais branco que a bunda do Sivuca.... Ah! Ray Conniff.
Ø Discussões sobre a virgindade da Sandy na mídia (aaaaaaarghhhhhhhh!!!!)
Ø ... ou sobre a pós-virgindade da Vanessa Camargo (aaaaaarghhhhhh!!, de novo...)
Ø ... ou sobre se o Júnior sabe tocar ou cantar alguma coisa... (Pa-bafff... Morri!)
Ø Carros de pamonha suspeitos com o volume nas grimpas logo às sete da matina: “Pamonha di doce, pamonha di sal, fresquinha fresquinha, vamu levá, dona Maria...”
Ø Testemunhas de Jeová te importunando em casa logo cedo, em pleno sábado...
Ø A argumentação de certos vendedores, ao oferecerem assinaturas de revistas (uma pérola de verdadeiro mau gosto e chateação...)
Ø Comprar carro novo e deixar o plástico nos bancos por semanas, meses, anos...
Ø Palitar os dentes na mesa do restaurante (e não adianta tapar com a mão...).
Ø Escutar alguém falando ao celular, aos berros (e cuspindo em você), sobre assuntos os mais incômodos possíveis, do tipo as melhores marcas de supositórios, a posição preferida dos porcos ao procriarem no chiqueiro ou a possível origem daquela flatulência que acomete a vovó há décadas. Detalhe: tudo isso dentro do elevador cheio...
Ø Cena: o cara, mais feio e porco do que bife de pensão, ajeita a senhora pança (graudinha...), coça o saco nada discretamente, coloca o já nojento e babado e mastigado palito de dentes no outro canto da boca, dá uma escarrada monumental, e lança o olhar mais malicioso e asqueroso do mundo à garota que passa, enquanto lhe tasca um sonoro e poderoso “Eaê, gostosa?”, achando-se o maioral, um verdadeiro Brad Pitt dos trópicos em plena crise Argentina...
Ø Cantada em velório: “Oi... Você vem sempre aqui?”.
Ø Axé music (eu já disso isso?)
Ø Axé music (só para reforçar...)
Ø Axé music (tenho certeza de que ainda não disso isso...)
Ø Axé music (pronto, eu disse. Mas, no embalo, eu até traço e danço todas... he he...)
Ø Listas em blogs do tipo: “coisas completamente ridículas, sem sentido e/ou explicação”.
Ø Minha vida.
terça-feira, janeiro 13, 2004
"Da mi basia mille"
“E os beijos, cometas percorrendo o céu da boca...”
(Bosco/Blanc)

Mandei um e-mail para uma amiga que anda meio down...
O que nos levanta a auto-estima às vezes?
Lembrar. Lembrar palavras, frases, doces momentos, coisas que nos valorizam, ou melhor, que nos despertem para o que nós mesmos sabemos, mas constantemente ignoramos: somos únicos, ainda que nos sintamos sozinhos ou estejamos acompanhados.
Somos únicos.
O que devemos temer, então?
E do que me lembrei há pouco? De uma frase ditas há uns tempos, por uma garota: “Seu beijo é melhor que sexo”.
Uma frase dessas, dita entre beijos, olhos nos olhos, não levanta a gente?
Quando me sinto meio pra baixo, procuro sempre me lembrar desses doces momentos, dessas qualidades que os outros teimam em ver na gente, e nós teimamos em ignorar...
O beijo, ah, o beijo...
Parece que vou mudar de assunto, e vou mesmo.
Quanto a mim, o que busco valorizar numa mulher é seu jeito feminino de ser, algo que, hoje, vem se perdendo progressivamente.
Não há nada de machismo nisso. Muito pelo contrário.
Gosto da mulher que se sabe mulher, que deixa transparecer aquele charme fatal, naturalmente provocante.
A parte da mulher mais atraente para mim, por exemplo (sem nenhuma malícia, que fique dito...), é sua costa, todo o seu perímetro, que vai do pescoço aos quadris...
Tem coisa mais linda e bela do que uma mulher de vestido? E com aquele rasgo, nas costas, que vai do Oiapoque ao Chuí, deixando seu belo dorso à mostra?
Como sei que demonstramos muito de nosso carinho por meio do abraço, sou simplesmente fã dessa prática.
Eu confesso: sou um “abraçador” assumido.
Adoro abraçar a felizarda carinhosamente, naqueles amplexos ternos mas vigorosos, que parecem durar uma eternidade (“de olhos bem fechados...”), sem malícia alguma, do tipo “alma tocando a alma”. O calor que os corpos passam, nesse momento, é algo de uma pureza quase virginal, algo indescritível...
E as mãos? Firmes, quentes (vocês imaginam o que são mãos de músico, não?... rsss...), tocando as costas de uma mulher como quem toca uma escultura viva, qual um autor finalizando sua obra, nos mínimos detalhes...
— Ah, Rufus, Rufus... você não tem jeito mesmo... —
Bem, deixemos os fiéis leitores e amáveis leitoras divagarem um pouco sobre essas sensações, enquanto eu lhes envio um fraternal... abraço.

"Da mi basia mille"
"In te, in te, in tuo ingente amplexu, tota est mihi vita"

(Catulli Carmina, de Carl Orff)

segunda-feira, janeiro 12, 2004
Primeiro provável diálogo entre Adão e Eva:


........................????!!...........!!!............zzzzzzzzzzz........?!?!?!+@%$*>>>>>...........
(Silêncio)
Adão, acordando:
— Ai, minha costela... Que dor... Epa, peraí, quem é você?
— Creio que me chamo Eva. Prazer. E você?
— Adão... Bem... ehr.... você é o que estou pensando?
— Sim, sou uma mulher. Acabei de ser criada por Deus, para ser sua esposa, sua mulher, sua amante, sua alma gêmea.
— Poxa, bem que Ele cumpriu o que prometeu... Você foi criada para mim, só para mim, então?
— Olha, não é bem assim, sabe... Vamos ter de dividir algumas tarefas, temos uma humanidade inteira a criar... Vai levar um certo tempo, mas temos de pegar leve. E aos sábados você cuida da louça, ok? Pra começar, aos domingos eu descanso, pois não vai ser nada fácil cuidar a semana inteirinha de um Paraíso todo com bichos, crianças e o escambau. Criança e bicho é tudo igual, fazem cada caca de dar medo... Por falar nisso, você está pronto para um relacionamento sério, com obrigações e deveres para com o lar e sua esposa?
— Ih, na minha mente, sinto que já ouvi isso em algum lugar, mas não me lembro onde...
— Bem, o que temos para fazer no momento? Acabei de ser criada, ainda estou meio zonza...
— Sei lá... Ah, lembro-me de que Deus disse mesmo outro dia: “Crescei e multiplicai-vos”.... Adorei essa parte, he he.... Vamos nessa? Bora deitar e rolar?
— Ei, pera lá: não vá pensando que vai ser fácil, não. Vamos nos conhecer melhor primeiro... E já vou avisando: quando eu falar que estou com “dor de cabeça”, já sabe que nesse dia não vai dar. E não adianta insistir.
— Caramba, mal conheço e já dá uma de difícil... Ok. Deixe-me ver, eu começo: “Oi, meu nome é Adão. Você vem sempre aqui?”
— (Mas que pateta... sou a única mulher no mundo e ele me pergunta logo isso, de cara? Sem contar que é um chavão de primeira essa cantada...)
— Poxa, dá um tempo. Sou novo no ramo... Afinal, me responda, vai: você vem ou não sempre aqui?
— (Haja saquinho... é bonitinho até, mas quando abre a boca...)
— Ih, já vi que nossa relação vai ser difícil mesmo. Bem, mas vamos começar por tirar algumas dúvidas com relação ao nosso corpo. Eva, olha, isso aí no meio de suas pernas é um... uma... um.... ehr.... Afinal, o que é isso?
— Nem queira saber, pois, depois que descobrir, aí é que não vou ter mais sossego. Digamos que é a “entrada do Paraíso”...
— Ué, mas a gente já não está nele, no Paraíso?
— (Santa paciência... será que vou ter de aturar esse mane até quando? O pior é que não tenho muitas outras opções... Pra falar a verdade, nenhuma outra... Bem, vou ter de facilitar as coisas...)
— Adão??
— Sim?
— Cala a boca e meu beija.

sexta-feira, janeiro 09, 2004
Unindo os pólos.
Brazil, o Filme.

A vida é uma ponte que se destina a unir nossos pólos mais distantes.
Há dias medito sobre uma faceta interessante de minha personalidade que hoje chego a entender de maneira quase pacífica: o realismo fantástico.
Unindo os pólos de minha vida, percebo o quanto esse tema sempre me perpassou.
Claro que deve ter começado logo nos meus primeiros tempos de adolescente, quando devorei, repetidas vezes (leitura gratuitamente obrigatória naquele tempo...), O Pirotécnico Zacarias, do saudoso Murilo Rubião. Nosso clássico do Realismo Fantástico é mesmo uma obra-prima, com contos inesquecíveis como Os dragões e Bárbara. Claro que Rubião deve ter bebido na mesma fonte de Júlio Cortázar (que tal Bestiário?), mas creio mesmo que tudo deve ter começado no século passado, com os surrealistas (André Breton à frente).
Tá, ok, concordo: em literatura, a figura mais emblemática talvez seja a de D. Quixote, sem dúvida a maior fonte de inspiração para os escritores realistas-fantásticos. (Em tempo: sabiam que o segundo volume do Quijote é bem mais divertido que o primeiro, escrito dez anos antes?)
Mais recentemente, descobri, no cinema, um paralelo interessante com os filmes de Terry Gillian. Sim, ele é nosso mais perspicaz cineasta, obcecado com a questão do fantástico inserido de tal maneira no real que não se sabe quando termina um e começa o outro. Vejam Bandidos do Tempo, por exemplo, passando por Brazil, o Filme (de longe, o meu preferido), As Aventuras do Barão de Münchausen e O Pescador de Ilusões, até chegar na obra que o consagrou perante o grande público: Os Doze Macacos.
E querem saber mais? Ele trabalha atualmente num novo filme, Quixote. Esse nome já não diz tudo?
Matrix? Apesar de gostar do filme, garanto que ele não passa de uma interessante colagem de todas essas questões remixadas: realismo fantástico, a “teoria das correspondências” de Baudelaire, que a bebeu do platonismo, e este, como toda corrente iniciática da época, foi buscar a essência da essência na Essência: a tradição esotérica hindu, mãe de todas as religiões.
Simples, não?


quarta-feira, janeiro 07, 2004
Arcaísmos.
Rufus anda tendo um certo ataque de egotismo, pois resolveu recomendar (àqueles que agora chegam, ou aos que querem apenas matar a saudade...) a leitura de alguns velhos posts, que eu chamaria de “Seleção – melhores momentos”.
(Obs.: se a página não abrir direito, é só dar um reload — F5)
Olha o momento Fama aí, gente!!

posts dos dias 26, 17, 13, 12, 11,

posts dos dias 30, 23, 22, 20 (com o poema Ganny), 14, 13 (sobre o blog da Descalça e sobre o casamento), 08 (texto “naquele tempo”), 02 (texto “palavra”)

posts do dia 30 (poema “à maneira de... Camões” e Rufusiana - reprise), 25 (poema “O ancião infante”), 24 (sobre Atlântida), 22, 18, 10, 09, 08, 03 (sobre minhas aventuras musicais no teatro, em SP).

E mais não digo, porque pretendo continuar com essa seleção um outro dia, ok?

Abraços...
terça-feira, janeiro 06, 2004


Hoje é aniversário de meu pequeno.
Meu principezinho de olhos verdes completa 6 anos no dia 06 de janeiro, neste positivo Dia de Reis...
Sugestivo, não? Um principezinho, com pinta de galã de novela, e escolheu para nascer justo no dia dedicado aos reis magos...
Inteligente, vivo, dinâmico, carinhoso, divertido, fisicamente é um clone meu nos mínimos detalhes...
(E não esquento muito não, porque daqui a poquinho vou estar enchendo-o de beijos.... rsss....)
Ah, paternidade, paternidade...
Por que o destino nos faz tão severos e responsáveis, mas tão pequenos ante a grandiosidade que há por trás do sorriso de uma criança?
Para quem não tem filhos, já aviso: vocês não sabem o que estão perdendo... rss....
Com licença, que agora vou lá, então — como prometi —, enchê-lo de beijos....

segunda-feira, janeiro 05, 2004
Lavando a alma.
Tão pensando o quê?? Rufus também escreve continhos, pombas!!
Saquem só:


LAVANDO A ALMA

(terça-feira, 11 de janeiro de 2000)


Foi para a cozinha, pegou do sabão e da esponja e começou a lavar a louça. E nunca mais parou.
A mulher, cansada e um pouco doente, insistira pouco antes:
— Você nunca lava a louça para mim...
— Faço qualquer coisa, querida, menos isso.
— Bobagem. Todo homem ajuda sua mulher. Vai lá, vai? Estou tão cansada e a cozinha está um verdadeiro lixo...
Não se sabe por que, dizem que ele respirou fundo e, num átimo, sem menos nem mais, pegou do detergente e da esponja e começou a lavar a louça. E nunca mais parou.
A esposa, intrigada com a demora do marido na cozinha, resolveu verificar. A cena foi inesquecível: absorto, impassível, totalmente imerso naquela atividade cotidiana e contumaz para tantas donas de casa, seu semblante irradiava aquela luz da qual só conhecem os sábios e os místicos. Verdadeira criança maravilhada com a primeira vista do mar, o primeiro passeio no parque de diversões, a primeira ida ao cinema, a emoção do primeiro brinquedo.
— Juvêncio, o que é isso? Faz horas que você aí está, homem! Não temos tanta louça assim!
— Não sei, me deu uma coisa... Por que você não me disse antes que era assim? É tão bom, tão agradável, tão... tão...
— Tão o quê, homem de Deus?!
— Tão mágico lavar a louça. Já é a terceira vez que lavo tudo de novo. Acho que nunca mais vou parar... Parece... parece que a gente lava a alma, lava o corpo, lava o espírito... nem sinto os pés no chão...
— Era só o que me faltava...
O certo é que Ruth nem imaginava como a vida de seu marido iria mudar. No início, nem estranhara quando este chegava do trabalho e já perguntava à família: "sujaram muitos pratinhos para o papai lavar?" Mal almoçava ou jantava: estava mais preocupado em lavar pratos, copos, panelas e talhares. Chegava a implorar para que os filhos repetissem o prato, para que pudesse lavá-los de novo.
— Ô, pai, assim já é demais! E o meu regime?
— Não esquenta. Depois eu te pagou uma semana num spa. E vou junto para lavar a louça de todo mundo!
Ruth e os filhos só perceberam a gravidade do fato quando o marido começou a distribuir panfletos pela vizinhança: "Lava-se louça de qualquer tipo e tamanho. Preços módicos. Na verdade, quase de graça".
Se mais alguém estranhou? TODO mundo, minha senhora. A começar pelo pessoal da repartição. Já nem tocava em questões técnicas do escritório: discursava horas a fio sobre as qualidades miraculosas de se lavar louça. Receitava técnicas de lavagem, "para evitar a LER, sabe? Muitas donas de casa lavam o prato segurando-o com mão esquerda apenas, sem apoiá-lo na pia. Que perigo!". Indicava as melhores marcas de detergente, o melhor horário para tocar na louça suja — "Após o jantar. É reconfortante!"
Não demorou muito e a mulher entendeu o novo ofício (ou mania, ou vício, ou tudo isso junto, sabe-se Deus...) como a mais completa indiferença pela mesma. Daí à intimação foi um pulo:
— Ou a louça ou eu!
— Desculpe, querida, mas é algo incontrolável...
— Então, RUA!
Saiu de casa, enfim. E foi morar num quartinho em cima de uma pizzaria. De quebra, começou a fazer horas-extra ali, lavando pratos até tarde da noite...
Dormindo pouco, atrasando-se constantemente para o trabalho, acabou sendo chamado pela direção.
— Sr. Juvêncio, nós, aqui na firma, estamos cientes de seu... ehr... sua fixação por lavar pratos, e entendemos que isto vem prejudicando não só a você, como ao próprio escritório. Pedimos encarecidamente que o sr. pare com essa atividade paralela, para seu próprio bem.
— Jamais! Prefiro a morte!!
— Você não tem sonhos, ambições? Pretende lavar louças a vida toda?
— Sim, doutor. Sinto que nasci para isso.
— Que assim seja, então...
Fora do escritório, seu primeiro emprego foi numa lanchonete. Realizou-se por completo, lavando louças e mais louças monumentais. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Nos finais de semana, participava de almoços e jantares de caridade, prontificando-se a lavar toda louça que surgisse na ocasião. Chegou mesmo a ganhar uma menção honrosa do próprio prefeito, por serviços prestados à causa solidária.
Da última vez que se ouviu falar dele, estava pela Austrália, participando de um concurso maluco de melhor e mais eficiente lavador de pratos do mundo.
Dizem os mais afoitos que ele ganhou o primeiro prêmio por unanimidade...


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