Rufus: quase humano.
Hoje minha alma francesa resolveu despertar de um longo sono...
Aujourd’hui personne n’a joué.
Je l’ai froidement empêché.
Salutations desmesurées et malvenues
parcourent ma front,
sans faire attention à la sueur
qui ne fait que me gener,
car je suis un fou.
Aujourd’hui persone n’a souri
Je l’ai sèchement defendue
Du côté de chez moi, quelques-unes
m’ont fait de signes sinistres et
terrifiantes. Moi, je leurs ai crachées
les ombres, car je suis un homme.
Aujourd’hui personne n’a parlé
Je l’ai amicalement desiré
Je me rapelle leurs yeux captives
leurs visages estupefaits et mûrs,
sans aucune question chargée de réponses
Et je les ai tel et telement regardées,
maudit, car je suis un mort.
(13.12.87 – déjà le 14.01.87)
Antes... e depois.
Antes e depois são as faces de duas mesmas moedas. Trocadilho bobo...
O certo é que aqui estamos: depois desses dias caranavalescos, permanecemos do mesmo modo que antes - entediados...
Fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Puro tédio.
Claro que há muito o que se fazer, mas ando numa fase de inércia mental incrível por esses dias. Sei lá, talvez sintomas de alguma leve e passageira depressão, ou coisa do gênero.
Bem, há lá suas explicações: fiquei gripado todos esses dias. E aqui em Goiânia têm feito dias chuvosos e frios, que tornaram meu Carnaval absurdamente triste, chato, feio e monótono. Idas às locadoras aos montes... Assisti a filmes até enjoar.
Leituras? alumas interessantes, como um romance espírita sobre a cidade de Ker-Aha, a "Tebas de cima" do egípcios, que só existia (ou melhor: existe ainda) nos planos mais astrais. Mas esse papo doido só interessa a quem é da área, então...
Violão? Cordas velhas me desanimam... Aliás, preciso de tudo novo: violão novo, inspirações novas, músicas novas...
Vivo sonhando com meus tão esperados concertos, que nunca se realizam...
Tempo, planejamento e paciência para realizá-los. Coisas que me faltam no momento...
Mas virá o dia, virá que eu vi...
No mais? No mais do menos, espero poder continuar vivo e seguro, marcante como uma sombra refletida sobre a água.
Como sempre tem sido...
Outros Carnavais...
Então é isso: ele chegou, o Carnaval.
Para quem já foi boêmio e carnavalesco de carteirinha com eu, com direito a chegar em casa às 9 da manhã nos 4 dias seguidos da folia, além de ter tocado em escolas de samba por muito tempo, fora as rodas de amigos (ou mesmo estranhos) que curtiam um boa roda de música regada a violão, cerveja, um cantinho e uma voz, hoje minha vida é um completo tédio.
Fazer o quê? Quem tem filhos pequenos não vê outra prioridade em sua vida, pelos menos enquanto estes são o que são: pequenos.
O mais engraçado é que há anos eu revivo essa rotina carnavalesca que o Drummond descreve
neste texto.
“Ficar em casa”.
E vocês, o que farão por estes dias? Divirtam-se ou não, fiquem também em casa ou façam algum retiro naturalista maluco, não importa: outros carnavais virão, e só Deus sabe se no próximo ano estaremos aqui de novo, escrevendo sobre mais um tedioso carnaval que se aproxima, ou se estaremos incomensuravelmente alegres e felizes com as poucas horas que nos separam da tão esperada folia!!!
Esquindô-lelê, e um abraço a todos... E bebam todas por mim, a quem interessar possa esse recado...
Os outros? Os outros que façam como o texto do Drummond, para que possamos, assim, nos sentir irmanados nesses 4 “dolorosos dias” que se aproximam..... rssssssssssssssssssss......
"Minha linda alfacinha"...
Com relação
àquele concurso de poesia, não ganhei, claro...
Não só pelo fato de o concurso ser lusitano (brasileiro não teria vez, óbvio...), como não dou a mínima para esses lances de competições literárias...
Acho que não se mede a capacidade literária de alguém pelas coisas “agradáveis” que escreve ou pelas qualidades superficiais de um texto, bem ao gosto de banca examinadora....
Vejam um trecho da poesia que ficou em primeiro lugar:
Pastoral de Lisboa.
Rapariga, vais à fonte
A cantar alegre o fado
Pelo chão alcatifado,
De cheiroso manjerico.
Tens na cabeça a rodilha
Para prender a quartinha,
Minha linda alfacinha,
Enquanto sobes o monte
Com teu sorriso tão rico!
Tem coisa mais lusitana que isso? E o poema não é bom, sinceramente, com essas rimas fáceis e pobres...
No colegial, participei uma única vez de um concurso de poesias promovido pela escola, e foi “sacal”. Imaginem a mentalidade literária de uma cidade provinciana do interior de São Paulo... Eu estava pouco me lixando para aquilo tudo.
Tanto assim que o poema vencedor foi dos mais parnasianos e superficiais que se possa imaginar... até minha colega de classe, que leu o texto vencedor, o fez com uma má vontade incrível, tal a qualidade duvidosa do mesmo...
O meu poema? Do jeito que gosto: vocabulário inusual, “imagens acústicas” cheias de efeitos e sentidos, pontuação com vida própria, versos livres e indômitos...
Minha professora de literatura à época, que fazia bem o gênio medíocre-limitado-sem-sensibilidade, falou que meu texto era meio “barroco, complicado” – o que, para ela, era como atestar, com outras palavras, a sua incapacidade de compreensão literária....
O certo é que santo de casa não faz milagres. Nunca fez, nem nunca fará.
Paul Éluard diz ter escrito seus livros de poesia “para apenas 10 pessoas lerem”. Comigo, se acontecer de publicar meu(s) livros(s) um dia, ficarei contente se apenas alguns amigos fã de poesia lerem.
Isso já me basta.
(P.S.: pra quem não "se deixou cair a ficha" ainda", saibam que o concurso teve como julgadores os próprios poetas inscritos. Pois bem. Talvez isso explique o fato desse poeminha infantil ter ganhado, uma vez que a melhor forma de protesto é o fato de podermos lançar mão de nossa mais fina ironia...)
SÁBADO.
(Meus comments sumiram!)
Escrevi as linhas seguintes em 05.12.87.
Aos finais de semana, eu ficava só, sem colegas de quarto, e nada aumenta tanto a solidão como o saber-se só em um alojamento estudantil, em plena noite de sábado, sem dinheiro, amigos ou amores, numa cidade como Sampa, onde tudo é distante e vago...
E todo final de semana era assim, invariavelmente...
Era noite do primeiro show oficial do Sting no Brasil. Claro que eu queria estar lá, se eu pudesse... Eu até escrevi no cabeçalho do poema: "(O show do Sting deve estar a mil...)".
Solidão.
E, naquela noite, Sting cantara de preto: seu pai havia morrido poucas horas antes do início do show.
Ele também devia estar sentindo-se muito só e desamparado naquele momento.
Como eu, invariavelmente...
SÁBADO
Lá fora
as pessoas
se consomem
entre abraços e beijos
Aqui dentro
de meu quarto
cotidiano e morno
paira no ar um silêncio
Abro a janela
e a noite me invade.
Quatro paredes prateadas,
e me sento, e me escrevo.
Lá fora as
sirenes se multiplicam
rebentam vidas
mortes calam a noite
Como pétalas
como flocos
se deixa cair
a fina chuva.
Ponteiros devoram
as horas longas
tonitroam pensamentos
despontam angústias...
E como o sol
logo elas se põem
E como o sol
amanhã mesmo despontam.
São vozes
São sons
que jamais ouço:
tudo morre.
Tudo se resume
em morrer,
e nascer,
sempre.
Mesmo eu
não choro:
acaso preciso?
Escrever é viver.
E só as linhas
compreendem a noite
e só as linhas
compreendem o sábado
(Em algum lugar
do presente
me perdi,
e não me encontro)
Lá fora
as pessoas
gemem dores
de dor, de alegria
São como cisnes,
são como anjos:
se amam,
e com isso ganham vôo.
componho versos
e músicas
para esta noite
— e só para esta.
Amanhã tudo
se perde
tudo se vai
mal resta a brisa.
Mal guardo um rosto,
que nunca vi,
ou uma boca,
que jamais beijei.
Amanhã, e só
amanhã,
não mais será
sábado.
Amanhã, como
todo dia,
comporei músicas,
escreverei dores.
E esta noite
me fica
como
choro.
Então é isso.
Trilhas:
Vento, André Geraissati.
Magical ring, Clannad.
Random hearts (soundtrack), Dave Grusin.
A gentleman's excuse, Fish.
Olha eu aqui apresentando a melhor desculpa dos blogueiros para justificar a ausência de visitas aos tantos blogs amigos: ausência de tempo. O mesmo que me falta para postar com mais freqüência. (Vocês todos sabem que, se eu pudesse viver apenas “disso aqui”, eu escreveria posts intermináveis, diariamente, só para chatear aqueles que gostam de ler muito...)
Na medida do possível, gosto de ler uma pessoa por inteiro, literalmente. Acho que sou um dos poucos que têm paciência para ler um blog todo, desde os arquivos, começando lá pelo primeiro post, compartilhando, com seu autor, de suas incertezas, de sua timidez aparente, de suas dúvidas ou curiosidades, as quais o levaram a construir aquele espaço pessoal.
E assim começa. A timidez se vai, os posts ficam mais animados, mais inspirados, os amigos virtuais começam a engrossar a lista de comentários, e o resto é história.
É como se começássemos a fazer parte da vida da pessoa, desde aquele momento: à maneira de capítulos de uma novela da vida real, dividimos suas alegrias e lamentações, seus desejos, sonhos e decepções, sua visão de mundo doce ou ácida, suas experiências pessoais (ou a falta delas...), suas broncas e desabafos...
E não é assim? Any, Marcela, Leo, Glauce... Todos vocês, meus primeiros e fiéis leitores, continuam por aqui. Até hoje. E mais e mais outros vão chegando e ajeitando seus banquinhos...
Então é isso. Agora me dêem licença que vou lá ver como andam vocês e já volto...
"A chuva cai de bruços
A magnólia abre o pára-chuva
Pára-sol da cidade
De Mário de Andrade
A chuva cai
Escorre das goteiras de domingo
Chove chuva choverando
Que a casa de meu bem
Está-se toda se molhando."
Solidão, Oswald de Andrade.
Dizem que o mundo, num futuro próximo, acabará em fogo.
Sei não: do jeito que o tempo anda, o mundo vai acabar é se afogando em tanta água...
Como chove, Meu Deus!!!
Outras terras, outros ares...
Ah, não tem jeito. Paulista é duro de se adaptar a outras terras, e ainda leva má fama de tudo que há de ruim no mundo.
Morei em Brasília por quase 3 anos, estou aqui em Goiânia há uns 6 meses.
Aqui em Goiânia o povo teima em chamar o limão cravo de ... china. Limão china.
E ai de você se falar que o seu limão é cravo: não é não. É china mesmo. Ponto final.
“Ei, trouxeram um biscoito aqui pro café! É um pitu!”.
Pitu? Como dizem os lusitanos,
ora, ralhos, vamos a veire o que é issssto.
Bah: é apenas um mero biscoito de polvilho!! De onde tiraram essa de pitu??
Lá em Brasília, o pão francês é chamado de... pão de sal... Dá para acreditar? O pão francês transformado em chocho pão de sal — como se nenhum pão do mundo, o do café da manhã, pelo menos, não levasse sal...
Caldo de cana? Chegou perto: lá em SP chamamos de garapa.
Rapadura? Na-na-ni-na: tijolo baiano.
Comer lanche num quiosque, ou num trailer, ou numa barraquinha? Não senhor: em Goiânia é Pitdog.
Lembro que uma vez “apanhei” em Brasília para fazer a balconista de uma lanchonete descobrir que eu queria torresmo picadinho para meus pequenos acompanharem o “caldo de feijão” que pretendiam tomar. “Pururuca? Você não sabe o que é isso? E o que é então? Está escrito aqui no cardápio: peroá. É isso? Ah, sei... Fácil, não?”
Lanterneiro? Não senhor: funileiro. E o pior é que tanto um quanto outro me lembra a manearia como os gays são chamados em Portugal: paneleiros.
Funil, lanterna, panela, tudo a ver...
Outro dia levei o DVD novo para consertar (não comprem essa droga de Bluesky, já vou avisando... Minha tataratataratataravó já dizia: o barato sai caro):
— “Moço, eu acabei de tirar esse aparelho da loj...”
— Peraí, você não é daqui, não?
— Como descobriu?
— É que você disse “tirei da loja”...
Raios e trovões! Qual o
pobrema na minha fala? Até hoje não entendi a do cara...
E lá em Brasília viviam perguntando a minha pequena família se nós éramos gaúchos, já que o povo lá tem a tendência histórico-cultural de ser mais amorenado, e parece não estar acostumado a ver gente mais “branca” ...
Pô, esse povo não conhece o Brasil, não? Desde quando tem branco exclusivamente no Sul do país???
E depois ainda vêm falar mal de paulista....
O jeito é rir, fazer o quê....
Aos meus amigos blogueiros que andam tecendo esse carinhosos comentários (que me deixam sempre encabulado...): obrigado por tudo. Obrigado por estarem sempre aqui. Obrigado por transformarem a Net numa prolongação de seus próprios caracteres.
E saibam, desde já, que pude constatar o quanto eles são belos, límpidos e autênticos...
Almas irmãs.
Era uma vez um menininho que decidiu vir ao mundo.
E, uma dupla de anos depois, uma irmãzinha resolveu vir atrás dele.
No dia em que esta nasceu, o menininho ficou dois dias sem ver a mãe. Era a primeira vez que ficava sem vê-la por tanto tempo.
Foram visitar a mãe na maternidade, só que não podiam entrar. Viram-na pela janela. O menininho ficou acanhado e se recolheu ao ombro do pai. Estava com saudades da mãe, que chorava ali, na janela. De pura saudade, também.
Porém, logo logo estariam juntos de novo, com a irmãzinha a tiracolo.
E assim foi: ao chegar em casa, a mãe, com a pequena toda embrulhadinha como um pacote, escutou do pequeno: “mãe, que é isso aí?”
“É sua irmãzinha, filho”.
Risos.
O pequeno nem notara que aquela “trouxinha” de gente era sua mais nova companheirinha!
Nos dias e semanas que se seguiram, ciúmes. O pequeno chegava e
lap!, dava um tapa na cara da irmãzinha. E pernas pra que te quero, pois lá ia o pai atrás dele para “acertar” as contas... Amigavelmente, claro...
Quando a pequena completou um mês de vida, o papai partiu para Brasília, onde ficaria por quase cinco meses. Precisava freqüentar o curso que lhe permitiria assumir o novo cargo público. Via-os apenas uma vez por mês.
A pequena? Ele mal a viu durante esse tempo. Nem se recorda direito de como era seu rosto por essa época... Somente por fotos.
E hoje, como andam os dois? Companheiros fiéis. Únicos. Inseparáveis. Brigam e se amam na mesma proporção. Freqüentam até a escolinhas juntos.
Quando ensaiam passos de dança, à maneira de uma valsa, qualquer um ri até quase ter uma síncope cardíaca...
Outro dia mesmo o Tatá (que a pequena só conseguue soletrar “Cacá”), disse-me:
“ — Pai, acorda a Bubudi pra mim?
— Por que, filho? Deixe-a dormir...
— É que estou com saudades dela...”
Espero que continuem irmanados assim por milênios...
Como fazer dos postes carrosséis...
Um típico poema daquela fase adolescente de amores platônicos e esperançosamente incompreendidos...
Como todos e tantos falam de amores desencontrados, distraídos, distantes mas tão próximos ao roçar da pele, creio que vocês vão gostar deste poema, que tem lá o seu lado juvenil e otimista...
Boa leitura!
EU LIBERTEI A VOZ!
Canto baixinho uma linda canção
e olho para ela.
Se soubessem quem sou...
Mas não sabem.
Por isso eu olho para ela,
e sofro emudecido...
Dos demais que rodeiam à volta
de meu amor,
eu queria ser apenas uma cantador de
cirandas,
um humilde apenas,
e ver com estes meus olhos
o que ela poderia ver em mim:
alguém diferente,
alguém comum assim,
mas alguém como só ele
poderia ser...
Eu, porém, volto cedo à minha casa,
e chuto pedras
(obstáculos de meus passos),
e me abraço aos postes, e giro,
como alguém muito feliz e amado...
Além disso, Eu sou Eu.
Quem saiba exista por aí alguém
que se sinta como Você é Você?
E que tal nos conhecermos?
um convite à dança,
a troca de passos,
os dois juntos,
o cordial cumprimento,
e a alegria,
e a nossa
música
tocando...
Não consigo dizer tudo que sinto,
mas sinto.
O que dizer?
ora: — TUDO!
É aquela falta de alguém
para dizer das coisas e dos nomes,
e de lugares fantásticos e sonhadores...
Um mundo que se abre ao sorriso de um amigo...
E como ser um amigo?
— É só chutar as pedras
(obstáculos de nossos passos)
fazer dos postes carrosséis,
e girar,
e girarmos,
infinita
e despreocupadamente...
(Composto por Rufus, em algum modorrenta noite dos anos 80, lá em Sampa...)
Trastes de gente.
Bem, pouca gente aqui me conhece a fundo, mas saibam que sempre tive uma quedinha para psicologia... Na faculdade, tive aulas de psicologia aplicada à Educação... Foi bom. Acho que, no fundo, eu até daria um bom profissional da área, visto que tenho uma mania de perscrutar “os seres humanos” e as “coisas medonhas” que estes aprontam...
Um delas me indigna facilmente: machismo. Arrogância explícita.
Estou já me cansando de ler/ouvir/testemunhar/observar/constatar o quanto as mulheres de hoje andam penando nas mãos desses trastes de gente. E digo isso porque, na condição de pai
amável e dedicado (ih, auto-rasgação de seda...), horrorizo-me com tantas coisas que tenho visto ultimamente, sabendo que as crianças envolvidas — se as há — são, de cara, as que mais sofrem.
Escolas? Cansei de ver mães solteiras com seus barrigões em prumo. O Pai? Se tiver algum e souber quem é, deve estar por aí, não se sabe onde, nem com quem. Aliás, geralmente estes não prestam para nada, a não ser fazer filhos e cair no mundo.
Noitadas? Olhem só a história que eu escutei ontem: o sujeito foi à boate, aqui em Goiânia mesmo, levou a noiva e não deu outra: um engraçadinho não só encarou a noiva do outro, como o ameaçou, dizendo toscamente: “Te cuida mermão, não tô nem aí, e olhe que eu tiro essa sua noivinha facinho facinho de você, vai encarar?”. O despeitado, ameaçando partir para cima do infeliz, ainda teve de recuar, quando viu o brilho de uma lâmina de estilete. Chamou o segurança? Chamou, mas adiantou alguma coisa? Todo mundo afinou. Resultado: o quase finado ex-noivo jurou que nunca mais irá a boates em Goiânia, ainda mais com a noiva (afinal, tanto lugar para ir, e ele aparece justo por lá, um terreno reconhecidamente “sem lei nem ordem”, se é que me entendem?)
Pelo país? Um amigo morou na região Norte, e ele simplesmente me disse que as mulheres de lá não são “gente” (palavras dele...). A cena mais vista por ele: mulheres humildes, com aquela trempa de filho atrás, carregando tralhas e mais tralhas nas mãos, na cabeça, onde mais coubesse, e o matuto ali logo à frente, tranqüilo, folgado, pitando um fumo, tomando uma caninha, papeando com os “mala”, sem nada para fazer...
Hospitais? Nunca me esqueço de quando meu pequeno nasceu. No mesmo dia em que ele deixou o hospital, vi legiões de pobres e jovens mães saindo com os seus filhos no meio do vento e da chuva, sem guarda-chuva algum, sozinhas, do mesmo modo como vieram ao mundo. Onde os homens que fizeram aquelas crianças? Onde os parentes dela, se é que elas tinham algum???
Família? Outra história de uma amiga, bom nível cultural, pós-graduada, hoje separada, uma filha. A pequena acordava de noite, às 3 da manhã, queimando de febre, a mãe chamava o protótipo de marido: “temos de levá-la a alguma farmácia ou hospital”. O bonitão: “ah, vai você. Me deixe dormir”. A coitada, então, tinha de sair com a menininha naquele frio noturno de Brasília, em busca de ajuda, porque o outro só queria dormir...
Alguma de vocês já foi abandonada pelo marido num hipermercado, em meio a uma discussão, cheia de compras e com duas crianças de colo, sem dinheiro nem para pegar um táxi? Minha irmã já, pelo traste humano de meu ex-cunhado, o qual, mesmo de longe, ainda trava uma guerra psicológica e cruel com a coitada.
E eu, você, todos nós sabemos que todas essas atitudes são muito comuns hoje, acontecem a todo momento e em todo lugar.
Se eu continuar a contar mais, vocês vão me ler até amanhã cedo...
Tem jeito tudo isso? Tem jeito o mundo com esses trastes de gente com que as mulheres tanto sonham em casar um dia?
Imaginem se eu iria deixar um único filho meu queimar de febre, ter uma síncope, uma parada cardíaca, uma crise grave de asma, sei lá, só porque estou preocupado em dormir... Nem se eu estivesse separado! Nem se eu morasse do outro lado do Atlântico! Nem se eu tivesse de amputar o braço direito! Uma criatura inocente foi colocada no mundo, pois cuide dele até morrer, se preciso!! Na hora de fazer foi bom, não foi? Pois agora ponha os pés no chão e assuma a realidade da vida.
Desculpem a aspereza das palavras de hoje, mas essa atitude do brasileiro típico (“o mulherengo bom de papo chegado a churrasco, pagode, futebol e mulher, muita mulher, que não tá nem aí para nada porque todas as mulheres, sem exceção, são vagabundas”) já anda me cansando muito...
E amanhã eu posto algo mais
light, prometo...
AS LEIS DE MURPHY NO TRÂNSITO
Por Rufus
(trilhas “automotivas” de hoje:
Little by little, Robert Plant
Cold Fire, Rush [yeahh!!]
Who am I, Edie Brickell)
1. A probabilidade de alguém a sua frente fazer uma conversão sem sinalizar, no mesmo instante em que você, ingenuamente, espera que ela sinalize, é de 100%.
2. Se um motorista desordeiro tem todo o comportamento e o gestual de um babaca ao dirigir, então ele, provavelmente, é um babaca mesmo.
3. A qualidade das músicas que tocam em um carro é sempre inversamente proporcional à intensidade do som fantástico que ele apresenta.
4. Se você estiver passando com seu carro num local ermo, à noite, e pensar que alguma coisa pode dar errado com seu veículo naquela situação, é porque algo vai dar errado mesmo, assim que você acabar de ter esse tipo de pensamento.
5. Se um motorista dirige seu carro em linha reta, com a seta distraidamente ligada à esquerda, tenderá obrigatoriamente a virar à direita, contrariando as expectativas de quem dirige logo atrás.
6. O celular, para algumas mulheres ao volante, é um item muitíssimo obrigatório, enquanto que, para elas, o retrovisor é algo completamente desnecessário.
7. A probabilidade de uma mulher que diz ao mecânico “será que o senhor pode consertar esse barulhinho aí no motor” ser enganada é muito maior se ela dissesse, ao invés disso, “por favor, regule apenas a injeção eletrônica”.
8. Todo motoqueiro é, invariavelmente, um palhaço de circo com pretensões de malabarista.
9. Se você tem o costume de colocar o cinto de segurança todo santo dia, faça chuva ou faça sol, mas esqueceu de colocá-lo justo no exato instante em que o guarda de trânsito olha para você e dá uma risadinha sacana, é porque você vai ser multado naquele mesmo momento.
10. Bicicletas dirigidas por crianças e bêbados, cachorros pulguentos e pessoas idosas têm todos algo em comum: invariavelmente, vão surgir do nada à sua frente, convidando você a atropelá-los.
11. Se você está andando com o carro no limite da reserva de combustível, e pensa que é o suficiente para que você chegue ao posto de gasolina, é porque seu carro vai ficar sem combustível a pelo menos 2 quilômetros dele. E você (para variar...) não terá nenhum galão reserva no porta-malas. E ninguém passará por ali naquele momento para te dar uma mãozinha...
12. Uma buzina atrai outra, e assim indefinidamente, no exato instante que você der a primeira buzinada no meio daquele trânsito infernal.
13. Um gesto obsceno no trânsito vale mais do que mil palavrões contidos.
Quem puder ouvir, que ouça:
Trilhas (Hoje, exclusivamente, violão clássico):
Manuel Ponce:
thème varié et finale.
Castelnuovo-Tedesco:
Variations à travers les siècles.
Guido Santorsola:
Prelúdio da “Suíte Antiga”.
Augustín Barrios:
La Catedral.
Uma das músicas eruditas mais aclamadas e admiradas, e uma das que mais aprecio tocar: a
Chaconna (ou
Chaconne), o último movimento da segunda “partita” (espécie de sonata) para violino de J. S. Bach. Uma obra, aliás, que cai muito bem para execução ao violão.
(Quem é músico e já desfruta do prazer de poder tocar as peças de J.S.Bach, não vai sentir surpresa alguma ao ler este relato.)
Eu sou daqueles autodidatas que acabam aprendendo por teimosia (aliás, a maior qualidade de um autodidata é esta...), tal a admiração que dispensam a determinada obra ou autor. Bach foi meu “pai” musical em vários momentos de minha vida, e até a fluência na leitura de partituras eu consegui estudando obsessivamente suas peças, especialmente as 3 sonatas e as 3 partitas para violino.
A
Chacona, cuja duração não excede 13 ou 15 minutos, é uma pequena obra-prima, um verdadeiro microcosmos musical, e Bach escolheu um único instrumento (no caso o violino) para espelhar essa genialidade musical jamais superada por outro músico.
Sobre a
Chacona, já foi dito que ela corresponde “ao triunfo do espírito sobre todas as outras coisas”, e que “nenhum outro compositor jamais compôs tamanha obra-prima”. Sim, ela é sublime, poderosa, mística, potente, profunda, alegre, dolorida, contida, virtuose, magnânima, pungente, severa, serena...
Sua estrutura musical é inspirada na antiga
sarabanda espanhola, e seu tema principal se estrutura em 4 acordes
ostinattos, que permeiam toda a obra: ré menor, dó maior, si bemol e lá maior.
Hoje entendo o que dizem os Poetas sobre a Música: que ela espelha a face do Divino. Não sei. Nada sei. Apenas que meu semblante se transforma, e que me emociono, ao saber que, com minha música, também posso tocar aqueles que me tocam profundamente...