Rufus: quase humano.
Vou voltar, gente.
Em breve.
2006 é ano de eleições e de promessas...
Portanto, vou voltar.
Em breve, claro...
Rufusianas...
Sem tempo ou disposição para postar, o jeito é repetir aqui um de meus primeiros posts - e lá se vão dois anos....
Sou ou não um caso perdido para as Letras???
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Nessa mesma colina, em que me sento para tomar inspiração, vejo carros e caminhões que passam pela estrada. No entanto, o frêmito e o mistério da vida, que eu tanto quisera ver, por ali não passaram...
Nuvens varrendo o céu... O que me dizem? Do que me fico?
Nada.
Talvez a resposta a perguntas que nunca faço permaneçam atrás de mim, como uma sombra: é só virar-me e aquelas, furtivas, escapolem velozes.
Talvez se eu fosse gigante como uma formiga, ou pequeno como um dragão de fogo, tudo se explicaria, como a sensação deliciosa que advém do despertar de um sonho.
Um quase-humano... Por que respostas a perguntas que não te dizem respeito?
“Trair a Morte,
passar a perna na Vida,
denunciar a liberdade:
eis o plano”.
O silêncio tenebroso da noite faz os móveis estalarem como ossos... E meu relógio parou à meia-noite, mas minha vontade de escrever NÃO. Consinto à noite que chegue com suas estrelas, e me pego, e me sento, e me escrevo.
“Por que paraste, relógio,
se sou mais velho que você
e ainda não parei?”
E assim é meu pensamento agora, e sempre: um lago de águas cristalinas e puras, em que uma pedra perdida no espaço rompe seu sereno descanso...
(Enquanto isso, lá fora o vento enche de vvv as ruas da cidade...)
Penso, penso, penso...
“Mas por que pensar quando se pode voar? As aves me olham e eu posso sonhar. Por isso as aves pensam, enquanto eu, monotonamente, vôo...”
Uma indagação, finalmente, entre suores, trôpega me vem à mente:
“ Escuta, ó Homem, filho de Deus,
de gênero e espécie Homo sapiens,
da Família dos hominídeos,
da Superfamília hominóides,
da subordem dos Antropóides,
da ordem dos primatas:
por que catalogaste assim
teu semelhante?”
Respostas. Sempre e as mesmas respostas, para uma única pergunta...
Do que me fico, desta noite imiga e torturante?
Apenas a certeza de que tudo é incerto:
“Os anos mais difíceis de minha vida estão ainda por vir. Por enquanto, vieram-me apenas os menos fáceis...”
Vais partir agora, solidão.
Com ou sem você, quero apenas uma coisa:
viver só...
“Quero dormir, Luz.
Ascenda-se, Escuridão”.
Arte.
Arena, Blackfield, Brand X, Camel, Chroma Key, Collage, Echolyn, Eloy, Explorer’s Club, Fates Warning, Final Conflit, Gong, Grobschnitt, Glass Hammer, Green Carnation, Hagen, Happy the Man, I.E.M., Landberk, Lands End, Labyrinth, Magma, Mindscape, No Man, Paatos, Pendragon, Pallas, Pineapple Thief, Procul Harum, Samurai, Satellite, Shadow Gallery, Soft Machine, Superior, Symphony X, Supersister, The Strawbs, Tool, Talk Talk, Tempus Fugit, The Flower Kings, Threshold, Transatlantic, UK, Violet District, Vital Duo…
Tantas bandas legais e dos mais diversos países tenho ouvido por esses dias... Sons virtousísticos, complexos, viajantes, bem elaborados, sonhadores, inspirados, músicas longas, outras curtas, bandas principalmente do Velho Mundo, como Reino Unido, Alemanha, Suécia, Finlândia, Holanda, mas também dos EUA e mesmo do Brasil...
(Mas convenhamos: algumas bandinhas japonesas e italianas não têm conserto, gente, me desculpem a franqueza.... O som não desce nem com Engov...)
Por isso tudo, gostaria muito que vocês um dia compartilhassem esse enlevo que experimento agora, ao apreciar a música elevada à categoria que mais lhe faz juz: à de arte. Pura arte.
Podem até me deixar cego um dia, mas, por favor, nunca me deixem surdo...
A Música sempre fica...
Fabião, Fabião, por onde andas, rapaz?
Se eu te contar que, numa só tacada, durante este final de semana, eu encontrei duas músicas que evocam tantas e boas lembranças de nossa infância de poucos brinquedos e muitos livros? Músicas que sempre povoaram nossa adolescência com seus acordes mágicos e envolventes, que nos inspiravam e abriam nossas mentes atemporais para discussões filosóficas sobre o destino do homem, da humanidade?
A primeira delas é a sinfonia nº 3, do Brahms; a segunda, a Sinfonia Alpina (
Eine Alpensinfonie), do Richard Strauss...
Dois compositores alemães, o primeiro romântico, o segundo romântico tardio.
Lembra-se de eu só tinha uma cópia fajuta em uma fita cassete da sinfonia do Brahms, que eu mesmo havia copiado de um disco em vinil? Pois bem, eu simplesmente achei uma versão dela com a Orquestra Sinfônica de Berlim, a melhor do mundo...
Fabião, Fabião, se eu te contar que escrevo estas imprecisas linhas enquanto escuto Brahms, você acreditaria? Nem mesmo eu...
Estão todas ali, aquelas notas de um compositor que admirávamos pela sensibilidade e pela beleza de harmonias tão perfeitas...
Que geração, hoje, se iguala à nossa? Crianças que ouviam música, muita música, principalmente clássica e instrumental, e viam as Letras, a poesia, como manifestações genuínas daquela linguagem humana intocável — quase — à razão, mas plena de sensibilidade, de uma energia que tanto queríamos possuir, ou reproduzir com nossas próprias mãos...
Que jovens hoje experimentam as mesmas sensações, as mesmas idéias, a mesma vitalidade? Os de hoje só se afogam em drogas, quando muito em futilidades passageiras com ares de intelectualismo...
Mas a música fica, Fabião, como ficou em nossa memória cada nota e cada acorde de tão maravilhosas composições, as quais ouço agora, e que cada vez mais me transportam no tempo e no espaço...
Visito com freqüência, e recomendo:
Aqui, um Rufus mais humano, mais relaxado.
Logo abaixo, o Rufus de sempre...
EI-LAS DE VOLTA, FINALMENTE:
AS CONTUMAZES, SIMPLÓRIAS, TOSCAS E IMPERFEITAS RUFUSIANAS
(SEMPRE ELAS...)
VIGÍLIA
Eu tinha um violão,
um caderno,
um livro,
uma espingarda de pressão,
uns discos,
um quarto,
uns passos,
uma recordação.
Eu tinha uma bicicleta,
um papagaio,
um par de sapatos,
uma imaginação...
Eu tinha tudo isso,
e ainda os tenho,
dentro do meu...
... dentro de minha canção.
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
ANGÚSTIA
O grito do desesperado é belo,
a beleza do grito é desesperante...
Por isso planto
e tapo meus ouvidos,
para que minh’alma não ouça
o grito desesperado da semente,
que angustiosamente
descansa em paz...
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
PARA NÃO SE ESQUECER DO SONHO...
A vida que pedi a Deus
foi a vida que não pedia Deus...
— Mas, e como se esquecer do sonho?
Enaltecer com lembranças,
na lembrança se consumir,
idilicamente,
e sonhar...
Para o sonho não se esquecer de você?
Enaltecer com carinhos,
no carinho procurar recordar
as mais belas coisas
já sonhadas,
e — quem nos dera —
só viver um pouco mais...
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
Que vontade de dizer tudo o que sinto...
Que vontade de sentir tudo o que digo...
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
NOVEMBRO
Eu insisto em dizer que
não nasci em novembro.
Eu sei, eu sei...
Eu sei que não me lembro.
Mas quero, antes de tudo,
deixar meu nome apagado,
para dizer que, a partir
de agora,
eu nascerei em novembro...
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
POR QUE MINHA VOZ FALA
Sim, por que fala ela, e algo diz?
Porque nada pensa
e — sobretudo —
fica.
— x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x — x —
PELO MENOS,
o que escrevo é horrível
e sem sentido.
Não como aqueles
“Ai de mim! Ai de meu amor sem fim!”
É preciso um fim.
E, depois de tudo acabado,
é preciso encontrar um desses
para mim...
Tenho um baú cheio de respostas não perguntadas.
Um outro baú eu tenho, repleto de perguntas não respondidas.
Posso abri-los, revirá-los, jogar seu conteúdo para cima e observar se as perguntas e as respostas se casam magicamente, de maneira indissolúvel?
Posso. No entanto, não devo.
A mágica da vida reside justamente na presença constante da dúvida. Quanto a isso, dúvida alguma tenho eu...
Creio também que tenho ouvido por demais os sons mágicos que emanam das doces cordas vocais de Bjork e Elisabeth Fraser, por isso tenho levado dentro de mim dias modorrentos e melancólicos — nem por isso ausentes de beleza interior, fique bem dito...
E a saudade, onde fica nisso tudo?
Já sou um ente saudoso por natureza — sinto saudades até de minha sombra que acabou de passar por baixo desse arvoredo —, que dizer então da ausência que esse espaço aqui me causa, me anda causando, e mais causará ainda?
Que dizer da ausência de vossos olhares curiosos e afoitos, diária e sempremente perscrutando essa página, à cata de notícias e palavras contidas e sem graça?
Antes de tudo, saibam que, estranhamente, não ando sentido suficiente falta do universo virtual, porque a vida, por si só, já me farta com sua sem-gracês irritante...
Mas confesso que me anda pesando a ausência desse elo mágico que me une a vocês, que nos une a todos, e que a todos nos une, enfim.
Com certeza, a muitos de vós jamais verei um sequer acenar de olhos ou sorrisos, a muitos ainda talvez troque dois ou três pares de palavras por toda essa curta vida, mas, mesmo que assim o seja, dificilmente vou me esquecer de cada um de vocês...
E a cada capítulo dessa nossa experiência gratificante, a cada nascer e se pôr do mesmo sol indiferente a nossas existências, espero estar sempre por aqui.
Porque, nesse espaço exíguo e anônimo, é onde espero poder me encontrar com vocês, até quando me for permitido...
Da arte de esquecer, e também da arte de lembrar...
Quase sempre, esqueço-me de algo que deveria ter sido dito, deixo passar detalhes banais que até poderiam tornar o dia mais útil, ou mais ameno.
(Coisas da idade, sem dúvida...)
Esqueci-me de comentar, por exemplo, que detesto o calor.
Confesso: sou nórdico, gosto do frio glacial, e daria quase tudo para estar agora numa praia deserta da Islândia...
O calor me deixa muito mal-humorado, fique aqui dito.
Sim, eu estava mal-humorado até há bem pouco, mas o ar condicionado de meu trabalho já conseguiu restabelecer meu ânimo — somente até as cinco da tarde, fique também bem dito...
Ia-me passando, ademais, que não perdi a capacidade de enxergar poesia onde menos se espera.
Digo isso porque acabei de aterrissar meu olhar numa nuvem estranha, de formas idílicas, e ela me lembrou que a capacidade que cada um tem de divagar é proporcional ao tempo que despendemos ao admirar uma nuvem....
E lembrei-me também de uma frase marcante, que me acompanha há anos: “O tempo é apenas uma sucessão de estados da consciência”. Quem compreender o significado e a profundidade dessas palavras pode se dar por feliz pelo resto de sua longa e prolífica vida...
Recordei-me, além disso, de que tenho de encontrar alguém que fique com meus periquitos, porque vou sair de férias amanhã e não há quem cuide deles.
Esqueci-me de dizer que vou sair de férias amanhã? Pois é, só agora me toquei do porquê deste post.
Sim, vou sair de férias, volto aqui depois do Natal, mas estarei sempre por perto dessa teia mágica, que me tem unido a tanta gente especial nos últimos meses.
E reafirmo o que sempre digo: sou um dos únicos que tira férias mais para cansar do que para descansar... Mas que são bons, esses dias de folga, não há quem negue.
Portanto, caros e caras, que me têm sido sempre ótima companhia para minhas mazelas existenciais, vou até ali pertinho, em São Paulo, mas volto logo, ok? E vou tentar visitá-los, lá de casa, sempre que possível...
Assim o é, e assim sempre há de ser...
Você.
Você, que sonha em acalentar uma pequena vida em teu ventre, até chegar o exato dia em que o trará em seus braços e o verá crescer, forte e nitente, nem imagina a rapidez com esse pequenos Seres de Luz se tornam independentes.
Porque sentirás na pele, minha bela, o que o peso dos anos fazem com ti e com teus pequenos ...
A cada sopro do ar que infla teus pulmões e minam tuas células, dia-a-dia, sentes que chegará o momento em que teus pequenos já não poderão mais assim ser chamados.
Ele, pois, era o meu grande amigão, aquele que despertava para a vida com suas curiosidades intermináveis, o que passeava comigo nas modorrentas tardes de verão, bem acolhido em meus braços e em minhas doces palavras. O paizão. O filhão. Inseparáveis.
Agora ele desce do carro, em direção à casa do saber, apressado, e sequer te diz um “até logo”, ou banha tua face com o frescor de um beijo.
E nem por isso te sentes feliz?
Você o ganhou de presente.
Agora, ele ganha o mundo...
X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X
Se a chuva te torna triste ou feliz — quem sabe dos teus passos, amigo? — , saiba que a mim ela apenas me deixa molhado.
Há, nisso, uma até incerta poesia.
X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X
Confesso a vocês: anda-me difícil escrever, porque tenho recusado e escrever-me.
Uma greve branca e branda, quase imperceptível, mas cruel, de certa forma.
No fundo, temo perdê-los, a todos vocês, antes mesmo de ganhar-vos um aceno de chegada.
E justo eu, que a quase nada temo...
X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X – X
O silêncio anda a espreitar-me, atônito, porque percebe que esboço reação alguma.
Tolo...
Ele quer calar-me a todo custo, porém custo a acreditar que o silêncio possa dizer algo a mim.
E agora vou silenciar-me porque ele me percebeu, neste exato instante, teclando essas palavras apressadas...
Dos porquês de as coisas não pararem...
É verdade, meus caros e minhas caras, “as pessoas devem prestar mais atenção a uma segunda chance”. Escutei essa frase em um filme a que assistia uns dias atrás.
Coincidência?
No meu caso, não é nenhum golpe publicitário para aumentar a audiência de meu blog, fique bem dito, pois sequer me preocupo com isso...
A atenção e a sensibilidade que muitos de vocês me despendem já me bastam, portanto, creio que vale a pena continuar por aqui, dando uma segunda chance a minha segunda chance... rs...
E não teve como ficar matutando numa coisa, por esses dias... Anonimato...
Por que raios continuo anônimo?
Mantenho-me assim não porque minha vida seja algo misterioso, romanticamente perigoso, mas porque esse é meu perfil. No dia-a-dia, sou discreto, reservado, embora quem me conheça pessoalmente sabe o quanto sou divertido, palhaço mesmo... apesar de tímido, claro...
Tímido desinibido, como prega meu perfil aí do lado...
(Sentiram que esse blog aqui sempre andou sério demais ultimamente, com poucos risos? Que contraste...)
Mas não sou tão anônimo assim.
Querem uma prova? Muitos aqui já viram minha foto, já viram fotos de meus pequenos, e muitos também sabem que meu nome verdadeiro é Rubens, e Rufus nada mais que um “quase” anagrama dele. Quase humano isso tudo, não?
Rufus, ruivo, rubro, vermelho. É isso o que significa meu nome também no original, em hebraico: Rubén = vermelho. Não por acaso, minha cor preferida é esta mesmo, e já pesquisei esse lance de astrologia básica, e tudo bateu com essa cor: desde a pedra-símbolo (o rubi), até o regente de meu signo (o sol, Leão).
Sem contar que sou branquelo, cabelos um pouco claros, e uma vez deixei o que se chama de barba crescer, e o resultado: bigode e fios levemente avermelhados. Ruivo até na barba... rs...
Que mais gostariam de saber de mim, já que o silêncio final, aquilo por que tanto clamam os poetas, andou quase a me espreitar? Que toco violão? O perfil ao lado já diz tudo. Que minhas peças prediletas são as 3 partitas e as 3 sonatas para violino do Bach, as quais toco, de forma quase intermitente, há uns 20 anos? Que também canto e aprecio uma MPB de primeira, um repertório que, de tão mágico e especial, praticamente não encontra mais ouvintes? Que já pratiquei canoagem com uma fidelidade quase eclesiástica? Que já cantei no Coral da USP por 3 anos, participei de montagens de óperas e peças memoráveis, inesquecíveis, recitais divinos, músicas em mais de 10 idiomas diferentes, já me apresentei no festival de inverno de Campos do Jordão, já toquei viola caipira numa peça de teatro chamada “Na carreira do Divino”? Que toquei uns meses num grupinho que se apresentava em minha pequena cidade, e fizemos até que um certo sucesso? Bons tempos aqueles, inesquecíveis...
Que sou fanático pelo som do Oregon, um dos grupos instrumentistas mais interessantes e completos de que se tem notícia? Que os considero altamente inspirados e originais, com composições de um frescor virtuosístico e universalista que lembram muito Egberto Gismonti?
(Taí, gostei da idéia: quem gostaria de ganhar um cd contendo horas e mais horas da mais pura música que compõe o universo rufusiano? Oregon estaria ali, é claro, além de Bill Gable e outras preciosidades. Creio que vocês adorariam sobremaneira... sim ou não?)
Que mais dizer de mim, se é que querem matar essa sua curiosidade?
Se pretendo voltar para Goiânia, ano que vem? Sim e não. É possível que eu volte, porém eu me sentiria melhor — se eu tivesse condições de escolher o local, é claro — em Sampa, onde eu teria, com certeza, uma série de situações contextualizadas que ainda não encontrei em lugar nenhum, como a postura intelectual da população, um riquíssimo e variado ambiente cultural, um vigor, um estilo de vida que muito batem com meu ritmo. Sequer Brasília chega perto dessa “maturidade” e auto-suficiência que é de praxe da população de lá... Tudo bem que tem poluição, violência, trânsito caótico e tal, mas creio que todo o resto vale a pena. Eu, que já rodei um pouco esse país, confirmo o que sinto hoje na pele: a identidade cultural de um povo diz muito mais, a mim, do que a casca exterior de um local, por mais idílico ou paradisíaco que ele seja... Sem qualquer estrutura cultural — e eu diria mesmo “moral” — um povo, uma cidade não sobrevivem.
Projetos? Todos temos. Preciso fazer pós-graduação, preciso batalhar pelo financiamento de minha futura casa própria, preciso até voltar a dar aulas, mesmo que seja à noite. Em último caso, mudar de emprego, passar em outro concurso.
Já consegui isso uma vez, seria difícil conseguir de novo?
O livro de poemas? Vai sair um dia, sim, e muitos de vocês saberão, porque pretendo divulgá-lo de maneira significativa. Até já comprei um PC tinindo de novo, para trabalhar nele com mais afinco. E já perceberam que começo a me enveredar pela crônica, não? Esse é um lado meu que ninguém mais conhece...
Que adoro ler? Quando estava na quarta série, minha professora emprestou-me TODA a coleção do Sítio do Pica-pau Amarelo, a qual eu li em um único mês... Que criança “normal” faria isso hoje? Atualmente, creio que leio perto de 2% do que eu lia antes...
Que considero o João Guimarães Rosa um dos maiores escritores de todos os tempos? Por mais que elogiem e apreciem seu estilo, muitos sequer têm idéia da amplitude e da profundidade de suas obras. Muito ainda está para ser lido ali, nas entrelinhas, e feliz daquele que se acha capaz de lê-lo — já que uma pesquisa recente provou que a maioria das pessoas com uma formação equivalente ao Ensino Médio, hoje, são praticamente incapazes de compreender os livros e a linguagem do Rosa...
Que estudei Direito por 3 anos, mas abandonei o curso, porque o detestei? Culpa, principalmente, dos professores, de nível cultural e moral horrível, e de didática medonha. Imaginem um professor, como eu, ter de aturar aquele tipo de profissional... No ano imediatamente seguinte, soube que o MEC quase fechou a faculdade, por “insuficiência de recursos pedagógicos”, diga-se nível dos professores... E olhem que muitos a consideram uma das mais conceituadas do interior de São Paulo, a “Califórnia brasileira”...
Que quase fui alvejado quando tinha uns 6 anos, já que estava na linha de tiro de um desafeto, que resolveu descarregar seu revólver naquele indivíduo que o humilhara diariamente por anos a fio? Enquanto escrevo isso, reavivo a cena de um homem gordo, enorme, caindo de costas de uma cadeira, mortalmente ferido. Mas não guardei nenhum trauma ou neurose, garanto a vocês... Lembro-me sim das balas zunindo em meus ouvidos, pois passaram muito próximas a mim...
Que ainda sou um dos poucos homens do mundo que ainda abomina o machismo, a selvageria moral e ridícula com que as mulheres de hoje são atacadas de maneira diária? Esse assunto tem-me incomodado sobremaneira...
Acreditam nisso? Um homem contra a postura dos homens... E se eu contar que eu nunca mexi com uma mulher na rua, utilizando dessas linguagens e cantadas grosseiras que fariam até uma desaforada corar de vergonha? Que acho ridículo um homem dirigir-se a uma mulher com aquele instinto puramente animal, grotesco, sem sentido, tratando-a como se fosse um bólido de carnes pronto a devolver-lhe um sorriso e abrir-lhe as pernas, ali mesmo, na rua? Acho que isso tudo demonstra a pobreza moral e cultural que acomete a todos, hoje... Desde quando algum desses dementes de hoje seria capaz de CONVERSAR com uma mulher decentemente, apenas exercendo o poder da linguagem que lhe é conferido gratuitamente, que é (ou deveria ser) de sua própria natureza humana?
Ah, deixem isso prá lá... Acho que, no fundo, sou quadrado demais em algumas de minhas conclusões...
E que mais dizer de mim? Que abomino a hipocrisia?
Sim, eu abomino a hipocrisia. Considero-a uma das chagas da humanidade. Já até mudei de religião por causa dela, e procurei adequar-me a uma outra que considero mais isenta, mais nobre, mais altruísta. Nem preciso dizer que jamais teria estômago para ser um político, não? Prefiro a pobreza material ao corrompimento de meus princípios... E nem me venham com essa papo de que “todos têm seu preço”, porque não há nada que pague uma mente livre de pressões ou remorsos... Você pode enganar e quem quiser que seja, inclusive a Deus, mas nunca a si mesmo...
Que mais dizer, ou falar?
Que devo ter algum sexto sentido especial para crianças ou animas, é isso? Ambos me adoram, nunca vi coisa igual. Hoje mesmo um bebê minúsculo me deu um daqueles sorrisos gratuitos, espontâneos, que te fazem até esquentar por dentro, de tão gostoso...
Já sei, já sei: instinto paternal. Dizem que as crianças captam muito bem isso. Pronto, é isso: instinto paternal. Pelo menos tenho cumprido minha parte razoavelmente bem...
E que tenho suportado de tudo e todas para ficar perto de meus pequenos? Sim, essa é a parte mais triste, mas, como disse, tenho cumprido bem meu papel... sou mesmo louco por eles, e espero tê-los perto de mim para sempre...
Que posso até ser tachado de louco, lunático, ou coisa do gênero, por que adoro assuntos ditos transcendentais, inacessíveis (quase) à compreensão humana? Antes isso do que estar por aí à toa, sem nada para fazer, ou fazendo besteiras...
Mas acredito em um monte de “coisas”, sim. “Acreditar” é uma palavra simplista, incompleta, meio burra. Antes de acreditar, procuro “entender”. Eu entendo, portanto, o que prego, o que estudo, o que vivo, o que defendo, o que idolatro. Eu “entendo”, por exemplo, a reencarnação, e acho-a uma doutrina maravilhosa — embora mesmo esta deixará, talvez em breve, de ser a tônica da evolução humana...
E o que poderia ainda ser dito, ou escrito? Muita, muita coisa... Já fui dormir noites e noites com tantas palavras e idéias batendo em minha mente, tonitroando, sem me deixar dormir, levando-me a concluir: “preciso compartilhar isso com alguém, nem que seja no blog.”. Mas, como disse, muitas palavras e idéias se perderam no vento, porque esse cantinho aqui acabou ficando sério demais.
Eu até conseguiria ser mais frugal, mais fugaz, dizer sobre o que comi no almoço ou a que filme assisti, mas, além de ter de escolher outro espaço para isso, desde quando eu teria a pachorra de gastar meu tempo falando de futilidades sem fim?
No fundo, acho minha vida sem graça, é isso. Por isso eu quis cancelar esse meu espaço de “puxação de angústia”.
Mas eu pensei melhor — ou melhor: não pensei —, e resolvi ficar por aqui.
Portanto, eu vou ficar por aqui, ok? Até o dia em que algo acontecer, ou não for mais tempo de plantar palavras-semente...
(Algumas sementes morrem, outras poucas germinam...)
Até o dia... Até o dia que em o silêncio quiser.
Mas, como eu disse, por ora eu queria não querer...
Engraçado...
... faz quase um mês que tenho escrito um texto longo, linha a linha, diariamente, para postar aqui.
Esse seria meu post final.
"Seria"?
Vocês também sentem essa comoção - uns mais, outros menos, outros nunca, outros sempre - de querer parar de escrever em seus blogs, não?
No meu caso, não há meio termo: posso ser indeciso em outras situações de minha vida, mas aqui percebo que tenho de ser mais radical: ou paro de escrever de vez ou dou um impulso novo, revigorante, a este espaço.
Ele fará a falta a muita gente? Claro que não. Ele é pouco lido, pouco freqüentado, talvez porque eu não dê o devido valor a minhas próprias palavras, talvez porque eu não seja fútil o bastante para postar comentários em blogs aleatórios, do tipo "muito legal o seu blog, dê uma passadinha lá no meu", talvez porque eu ache que tudo isso aqui, como quase tudo ligado à Net, seja uma grande ficção, um espaço divertido em que podemos exercitar nossa quota mágica e diária de fantasia.
Mas, como tudo na vida, a qualidade faz a diferença, e nunca me esqueço de vocês, meus poucos e fiéis leitores, que sempre conseguiram me entender nas entrelinhas, e mesmo nutrem por mim uma admiração carinhosa. A recíproca também é verdadeira...
Talvez, então, só por isso, eu mude de idéia, porque, se eu cortar esse fio invisível que nos separa, uma cadeia mágica será quebrada, e acabarei me sentindo mal por isso.
Então façamos assim: até quarta-feira. Até quarta-feira decido se mantenho esse espaço ativo ou fecho para balanço.
Joan, obrigado por suas palavras vigorosas. Você é a sinceridade em pessoa, e, sem essa qualidade, um indivíduo se torna completamente “invisível”. Aliás, todos vocês se tornam visíveis para mim quando eu os leio... Sequer preciso visualizar uma foto de vocês... rssss...
Portanto, isto posto, garanto que vou pensar, ok? Talvez o teor do último post tenha a ver com essa indecisão atual minha, mas mudanças são para isso mesmo: para que nos estabilizemos e, então, num passo seguinte, comecemos a pensar em mudar de novo. Platão já não dizia mais ou menos isso??
Não sei se é assim: eu só sei que assim o é.
Quantas vezes você abriu os olhos, ao acordar por esses dias, meses e anos, e pensou de imediato: preciso mudar?
E você mudou? Claro que não.
Já não há mais espaço para aquelas imaturidades juvenis de querer mudar o mundo, e não a ti mesmo. Hoje, mais do que nunca, você sabe que quem tem que mudar é verdadeiramente você.
Mas mudar o quê? Cristo, sei lá, algo deve ser imediatamente transformado, transmutado, desintegrado, reformatado, reciclado, rearranjado, seja o modo de pentear os cabelos, seja o jeito como põe a camisa (para fora ou para dentro da calça?), mas você sente, precisa, tem a intuição de que precisa mudar.
E você não muda... Esfrega os olhos, levanta-se, e se esquece de que precisa renascer.
Mais um dia que se vai...
Eu mesmo, um quase humano, mal provei da humanidade e já me encontro fartado dela...
Farto dos seres humanos e de suas neuroses, de suas mesquinharias, de suas limitações, e de todo farto de suas mazelas...
Eu já sabia que seria assim, antes de nascer.
Afinal, qual mortal não sabe disso, intuitivamente?
Mas eu quero ter o direito de me sentir ultrajado, fartado, indignado, mesmo que tentem me calar diariamente.
Começar de novo, como a letra de uma canção? Sim, uma hipótese...
Zerando sua vida, reformatando seu disco rígido, será que tudo isso trará você de volta a você mesmo?
Apagar-se, para só assim se completar...
E o temor de se criar uma via paralela, como num pesadelo virtual? Os problemas não se vão: só muda o jeito de chegarem até você...
É possível, é provável, é mesmo louvável, mas... Você precisa, definitivamente, mudar.
Já.
Agora.
Nem é preciso mesmo aquele ser especial, à semelhança de anjos diurnos que surgem e vão em frações de segundo em sua vida, dizer-te que estás totalmente deslocado no mundo, porque o mundo atual quase não tem mais novidades para ti.
“Estás à frente dos outros em vivências e aprendizado. Tudo te farta e os outros te impacientam. Na verdade, pessoas como você incomodam, porque causam estranheza, admiração e dúvida. E quem tem dúvida também tem medo... Percebeste? Já não és mais quase humano: és um perfeito ser de carne, certezas e ossos. Os outros, sim, precisam seguir na sua evolução milenar, incansável e laboriosa, porque os degraus da escada são muitos, tantos quanto são os grãos de areia. E quem está à frente oferece o braço para que o próximo possa subir mais alguns lances...”
E como me sinto agora, então? Como o colocador de eternas perguntas, tanto quanto mais rápidas do que suas possíveis respostas...
Quero mudar, quero me transmutar, quero encontrar a paz???
Quero, mais do que tudo eu desejo.
Mas, por ora, eu queria não mais querer...
“Devia ser o ano de 1498 ou 1499...
...não me lembro bem. Eu era uma cigana, não que fosse má, mas eu não levava desaforo para casa, se é que me entende. Acho que, no fundo, eu era meio desbocada, um tanto quanto feminista demais para a época, e acabei sendo presa pela Inquisição espanhola.
A cidade, lembro-me bem: Toledo.
O padre que me encarcerou era secretário particular de Torquemada, seu homem de confiança.
Eu o xingava, ridicularizava-o por detrás das grades, achando tudo aquilo irreal, sem sentido. Eu não tinha medo de morrer, nunca tive.
E ele ali, impassível, perguntando-me, de tempos em tempos: ‘você confessa? Confesse e sairá livre’.
Eu não me dobrava. Confessar o quê? Eu era inocente. Sempre fui. Toda mulher é uma pobre inocente, suportando o jugo dos homens através dos séculos...
Senti que ele me olhava ora com pena, ora com interesse... Sim, eu sentia que ele se interessava por mim, que gostava de mim, embora lutasse contra isso, já que era contra seus princípios religiosos.
O tempo foi passando, e ele sempre protelando minha sentença. Ele adiava continuamente a conclusão de meu destino, sabe-se lá bem por quê....
O ultimato de seus superiores tardou, mas não falhou.
Lembro-me nitidamente dele adentrando a minha cela, um belo dia, pomposamente paramentado com suas clássicas vestes eclesiásticas. Trazia às mãos um grande e volumoso livro de registros. De maneira pausada ele abriu uma página, tomou da pena, molhou-a na tinta e, ao dirigir os olhos a mim, perguntou-me:
— Está pronta para confessar?
Eu, cinicamente, com ódio no olhar, apenas lhe retruquei:
— Não tenho medo da morte, não sou como você. E garanto que, até nos reencontramos de novo, você nunca sairá da igreja, nunca deixará de ser padre.
Ele, tristemente, baixou os olhos e assinou o livro.
No dia em que encararia a fogueira, não senti medo nem remorso: continuava sentido ódio.
Pude ainda vê-lo, a distância, do alto de uma janela, um olhar triste a apagado. No exato instante em que acenderam a fogueira, ainda atirei-lhe um último olhar, e percebi nitidamente que ele virou-se de costas e escondeu o rosto entre as mãos.
Como o reencontrei? Não foi uma experiência fácil à primeira vista... Quando cruzamos nossos olhares, ele ficou perplexo, porque as almas demoram um pouco para digerirem suas digressões. Meu coração disparou, minha pressão caiu, tive de ser amparada por amigos, fiquei muito nervosa.... Após uns 15 dias com essas estranhas emoções matutando em minha mente, tive a certeza de que era ele, o meu antigo algoz, que eu agora reencontrava...
Desde então, ele tenta uma reaproximação, já que tem muito interesse por mim.
E uma de minhas “profecias” tinha mesmo se cumprido: até o dia em que ele me viu, permanecia ainda ligado ao corpo da Igreja. Mas já pensa em abandoná-la...”
Tudo isso eu, Rufus, ouvi de uma senhora outro dia, e não fiquei surpreso. Os mistérios não me surpreendem... Mas a vida, com suas voltas e reviravoltas, essa sim me cativa cada vez mais...
Eu achava que...
A probabilidade de um motorista parar ao meu lado no semáforo ouvindo
The Trees, do Rush, seria de uma em 3 milhões, mas estava enganado...
Achava que seria fácil viver numa cidade que não possui uma marca, uma certa identidade ou um
frisson cultural, mas estava enganado.
Achava também que, se esses motoristas insossos que agora passam ao meu lado pudessem parar antes da faixa de pedestres, para que o pobre garotinho de sete anos que vai à escola conseguisse atravessar a rua, tal atitude seria um bom exemplo de respeito e cidadania, mas me enganei redondamente. As pessoas daqui não obedecem à faixa, com suas camionetes possantes, e nunca vão obedecer, creio eu...
Achava eu, ingenuamente, que encontraria por aqui gente com uma cabeça ótima para bons papos, assuntos interessantes que fossem muito além do estereótipo cerveja- churrasco-mulheres-música sertaneja, mas também estava redondamente enganado...
Achava também que as pessoas, nem que por uma única vez em suas curtas vidas, deveriam conhecer a verdadeira Beleza que se esconde em uma sonata para piano ou um quarteto de cordas do Beethoven, mas estava muito enganado...
Achava que as pessoas, também, antes que o sol esfriasse para sempre a as estrelas caíssem do firmamento, deveriam todas fechar os olhos enquanto apreciam o som divino, inigualável, que emana, ao vivo, de uma orquestra de cordas. Enganei-me, de novo...
Eu achava que a futilidade fosse um comportamento passageiro, porém vejo que a mesma se torna a marca fiel e indelével de muitas pessoas, sem distinção de sexo ou idade...
Achava eu, do alto de meu idealismo infantil, que os meus pontos de vista, bem embasados e coerentes, pudessem enfim ser respeitados, mas estava enganado...
Achava que os sorvetes com sabor de frutas do bosque jamais acabariam, que um dia respeitariam, finalmente, o paladar dos quase-vegetarianos, mas estava, como sempre enganado.
E tantas coisas mais eu achei por esses dias...
No entanto, agora não acho mais.
PARA AQUELE QUE QUISER SER CHAMADO DE POETA
Primeiro,
sofra,
mas sofra muito,
para que tuas linhas fiquem,
e não se vão embora como
qualquer existência de um inseto vil,
inútil e asqueroso.
Depois,
sofra mais ainda,
e quanto to puderes;
até tua imaginação vacilar
– tal a dor, intensa – ,
e assim não puderes escrever
mais nada,
e nunca uma linha,
e sequer uma síplica,
e jamais um desejo
pelo impossível.
Só assim te chames de poeta,
e te vanglories por tudo
– ou por nada,
já que sofreste tanto,
que nem ao menos tuas linhas
podem compensar teus infortúnios,
e servir de pasto a algum leitor
fútil, banal, mesquinho e insensível.
Sim, pois se te ousam dizer
que linhas não são lágrimas,
mas apenas linhas,
então conforme-se, daqui por diante,
de que lágrimas não são lágrimas, mas apenas
linhas de um rosto que ninguém sabe ler
– e mande todos para o inferno.