Rufus: quase humano.
A probabilidade de um motorista parar ao meu lado no semáforo ouvindo
The Trees, do Rush, seria de uma em 3 milhões, mas estava enganado...
Achava que seria fácil viver numa cidade que não possui uma marca, uma certa identidade ou um
frisson cultural, mas estava enganado.
Achava também que, se esses motoristas insossos que agora passam ao meu lado pudessem parar antes da faixa de pedestres, para que o pobre garotinho de sete anos que vai à escola conseguisse atravessar a rua, tal atitude seria um bom exemplo de respeito e cidadania, mas me enganei redondamente. As pessoas daqui não obedecem à faixa, com suas camionetes possantes, e nunca vão obedecer, creio eu...
Achava eu, ingenuamente, que encontraria por aqui gente com uma cabeça ótima para bons papos, assuntos interessantes que fossem muito além do estereótipo cerveja- churrasco-mulheres-música sertaneja, mas também estava redondamente enganado...
Achava também que as pessoas, nem que por uma única vez em suas curtas vidas, deveriam conhecer a verdadeira Beleza que se esconde em uma sonata para piano ou um quarteto de cordas do Beethoven, mas estava muito enganado...
Achava que as pessoas, também, antes que o sol esfriasse para sempre a as estrelas caíssem do firmamento, deveriam todas fechar os olhos enquanto apreciam o som divino, inigualável, que emana, ao vivo, de uma orquestra de cordas. Enganei-me, de novo...
Eu achava que a futilidade fosse um comportamento passageiro, porém vejo que a mesma se torna a marca fiel e indelével de muitas pessoas, sem distinção de sexo ou idade...
Achava eu, do alto de meu idealismo infantil, que os meus pontos de vista, bem embasados e coerentes, pudessem enfim ser respeitados, mas estava enganado...
Achava que os sorvetes com sabor de frutas do bosque jamais acabariam, que um dia respeitariam, finalmente, o paladar dos quase-vegetarianos, mas estava, como sempre enganado.
E tantas coisas mais eu achei por esses dias...
No entanto, agora não acho mais.