Rufus: quase humano.
Feliz Ano Novo.
Feliz Ano Novo.
Feliz nova vida nesse corpo que não sente os anos que passam...
Velhos abraços, velhos tapas nas costas, velhos sorrisos
marotos e até meio hipócritas — isso importa, porém?
Importa que sejas feliz num ano que promete,
como sempre,
ser o mesmo que o que já passará daqui a pouco...
(Isso importa, porém?)
Quero apenas te desejar um feliz Ano Novo,
ainda que velho de sonhos e planos,
mas fremente de vida e de novos rostos...
Pessoas, coisas, seres, planos, amigos, alegrias, desilusões, amores...
Tudo isso teremos — reluzindo de tão novo — no ano que começa?
(E isso importa?)
Feliz ano Novo.
Espero que não me venhas, agora, com lamúrias e desilusões,
as mesmas que te acompanham há décadas...
Sei que o ano é tão velho quanto novo,
e nada de novo pode haver no cruzar de esquinas
e no pisar de passos apressados — lá vem você,
de novo...
Mas um “feliz ano Novo” é isso, apenas:
uma frase simples, banal, patética, mecânica, contumaz, previsível
— mas tão cheia de cor, calor e sinceridade...
Para vocês (quer leiam ou não minhas toscas palavras),
desejo — novamente — um Feliz ano Novo,
e que fiquem para trás as más lembranças, as velhas decepções,
e que venha a nós o que tem de vir
— nem que isso, de novo, sejam planos e sonhos
que desde há muito desejemos,
e sempre adiamos...
Feliz Ano Novo.
Quarto.
Este guarda-roupas tem
um sorriso medíocre
Esta cadeira parece
uma concubina
Esta cama aqui
é um avião
Aquela porta ali
é cega surda muda esperta
Portas abrem
Passos ressoam
Ventos sopram
Rádios tocam
Conversas chegam
Gritos explodem
Nuvens passam
Passam aviões
passam folhas
passam
E aquele guarda-roupas
– tenho certeza –
tem mesmo um
sorriso medíocre
“Sonhando em metáforas”
Eis-me aqui, Rufus, voltando, pouco a pouco, ao seu, ao nosso lar...
E, ainda influenciado pela música do Seal, resolvi refletir um pouco sobre os sonhos...
“Sonhando em metáforas”...
Ainda não analisei a letra dessa fantástica música, mas percebo que Seal chegou muito perto de definir um tipo de sonho muito especial, que só acomete poucos mortais ao longo de suas curtas vidas.
Muitas baboseiras já foram (e constantemente são) ditas sobre sonhos, todas toscas e sem fundamento algum (“se você sonhar com jaca, pode ir se preparando pois vai ficar grávida..”), porém o que vou contar agora é algo sério, acreditem...
Há vários tipos e níveis de sonho. Vou me ater a dois deles, apenas.
O sonho tipicamente físico, ou seja, aquele baseado em percepções físicas e sensoriais, é uma criação puramente nossa. Ok, claro que tem aqueles baseados em “viagens” extracorpóreas, mas não é o que nos que interessa no momento...
O sonho puramente físico é marcado por percepções e sensações vivas: sentimos o cheiro das coisas, vemos cores e tocamos objetos, vislumbramos rostos em detalhes, rimos, choramos, gargalhamos, às vezes até nos vemos fazendo amor com alguém... Sinto dizer, mas as doces lembranças desse último sonho são criações mentais de natureza puramente física. Nada há (quase) de “sobrenatural” ou premonitório nisso.
No entanto, há um tipo especial de sonho que escapa a qualquer definição ou conceito, pois ele não é uma criação nossa, nem sequer resvala no aspecto físico do ser.
Trata-se do sonho mental. Uma comunicação de mente a mente, como se nossa própria alma — ou o âmago dela, ou o que quer que seja de superior a nós — se comunicasse conosco de maneira sublime e marcante.
Como identificá-lo?
Muito simples: a “linguagem da alma” não é feita de palavras. Estas são construções primitivas, que não abarcam a gama de conhecimentos e conceitos sublimes que se quer comunicar. O verdadeiro “sonho mental” é expresso por meio de imagens (com certeza arquetípicas), em preto e branco, cuja duração, em nosso tempo material, não deve durar mais do que parcos segundos. Mas é um sonho que o marcará por toda vida... Por todo o sempre...
Sonhos em forma de metáforas...
Somente você entenderá o que está sendo passado a você mesmo, ali, naquele momento, por meio daquelas imagens aparentemente enigmáticas ou sem sentido. Ah, mas elas têm um sentido, sim...
Um exemplo: há relatos de pessoas que sonharam com uma flor nascendo do asfalto. A pessoa em questão disse que não sabe como, mas entendeu a mensagem... Outra sonhou com uma mão desligando uma chave de força: entendeu que deveria “se desligar” de uma situação atual que muito a afligia.
E assim funcionam as coisas. Podem até não acreditar, mas nossa consciência é guiada (ou “auxiliada”, como preferirem) por energias profundas de nosso próprio ser, que, incondicionalmente, tentam nos ajudar a compreender fatos e momentos de nossa vida, num processo de auto-conhecimento constante...
Se tenho meus sonhos metafóricos? Não sei, do mesmo modo que nem sei se vocês andam sonhando muito...
Apenas peço que fiquem atentos, calmos, tranqüilos, absortos na quietude que exala de seu próprio ser...
Quem sabe ali não estarão as respostas para o que tanto procuram???
...........................................
Gente, eu sei que ando meio relapso, sem visitar seus blogs há um bom tempo....
É que estou aqui mas não estou
mesmo aqui, entendem?
Não? Nem eu...
Continuo de férias, só volto dia 29, por isso nem contem com o fato de que andei postando algo por essas semanas....
O Divagatorium anda como próprio nome: devagar... torium. O Weblogger é raivosamente sem graça - bem que a Marcela me avisou....
Por isso, aqui ainda continua com a minha cara, com meu jeito, com meu cheiro e minha cor...
E vou ficando.
Mas eu volto, gente, pois eu sou como alguns velhos planos econômicos: eu sempre volto...
Assim o é. E assim deve ser...
Fora o post abaixo, postei um (também especial) lá no
Divagatorium...
Que estão esperando? Vão até lá dar uma olhadinha, vão??
Quer namorar comigo?
Fazer de todo e qualquer poste (que apareça pelo caminho)
um carrossel, e girar,
e girarmos?
Quer se sentir boba como uma criança frente uma iluminação da Natal,
quer se sentir amada e livre, feliz a não mais poder?
Quer se sentir embriagada de tanto amor e felicidade?
Então...
Quer namorar comigo?
Nada posso te prometer, pois o amor não sobrevive de promessas...
Somente amor eu lhe prometo...
(acaso eu disse as palavras mágicas?)
E não seriam mágicas essas estrelas que brilham em teus olhos,
esse teu sorriso imaterial, sublime,
a coroar meu — não mais — triste sorriso quando digo que te amo?
Não sei...
Só sei que teimo em te perguntar:
Quer namorar comigo?
Linda, minha vida, acaso te assusto
com minha alegria?
Ela te contagia?
Esse mal tem cura, atingirá
milhares de pessoas????
Melhor assim!
Que venha a nós a Humanidade,
e que ela esteja pronta
para o que há de vir...
Afinal, quer namorar comigo ou não?!
Quer desfrutar da jovialidade
de meus beijos,
da força de minhas palavras,
da ternura de meu abraço,
da sofreguidão de meus olhos
a procurar, insistentes,
os teus?
Por que cora teu belo rosto?
Tens vergonha do que posso te oferecer?
Tens razão: o medo não combina com o amor...
E acaso tenho medo?
E medo tens, por acaso?
Por favor, quer namorar comigo?
Dou-te um beijo agora,
profundo como a imensidão azul...
E, depois,
(só depois de meu beijo...)
saberás se a imensidão de meu amor
é maior que a indecisão de teu sentimento...
Feche os olhos...
Agora....
E sonhe....
E sinta...
E seja você mesma....
E me ame...
E namore comigo, minha vida!!!
Mais Rufusianas...
Estou vivo. Estou fremindo de vida. Estou farto de não poder fartar-me de vidas que a Vida contém...
Por isso escrevo, me diluo, me pulverizo por linhas imextensas, mal enxergando meu fim ou meu começo...
Existe Isso em Mim? Existo apenas ou não passo de uma ilusão grosseira?
Estas palavras soando em minha mente, as mesmas que me perseguem a cada fração de segundo ou imperceptível piscar de olhos: “Do que me fico?”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Se a esperança é a última que morre,
a fé pela vida é a primeira que nasce”.
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Vais partir agora, solidão.
Com ou sem você, quero apenas uma coisa:
viver só.”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“As primeiras gotas de chuva
são as mais alarmantes e confortantes.
E as últimas, as mais tristes... “
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“A solidão ama meu quarto.
Principalmente quando estou dentro dele.”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Como é ingênua a felicidade!
Como chega e vai embora a hora que quer!
Como é inocente a infelicidade!
Como chega e não me deixa um minuto sequer!”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Querer é poder. Mas, quando se é poderoso,
nunca se consegue o que realmente se quer.”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Fui ferido mortalmente pela vida,
e, sem sentidos, caí em seus domínios....”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Se algum dia vires um ermitão,
como aquela da montanha,
ignore-o, pois é o único
que não ignora a ninguém”,
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“O mundo está britado... Papagaio!
Nestas horas eu é que queria ser um;
um apenas, para poder daqui de cima
(quando o vento estiver bom e forte)
ficar empinando mundo...”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Do mesmo modo sabor acre do vinho é feita
a tristeza humana. Nem mesmo o seu
envelhecimento, com o passar da amargura,
torná-la-á doce.”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Eu queria ser gigante como uma formiga,
e pequeno como um dragão.”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“A Vida nunca morre. A Morte nunca vive.
Mas ambas trabalham freneticamente...”
— x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x — — x —
“Sei que morri por poucas horas, e que
fiquei cego por trinta séculos. Mas só
o piscar de olhos valeu-me o viver
por toda a vida”.
Rufus: quase humano
Sim, Rufus vive... e cada vez mais se sentindo meio humano...
Um prova?
Minha vida. Minha triste e irônica vida.
Tudo pela metade, ou em dobro, como queiram...
Como estou me separando — pela enésima e definitiva última vez... prometo! —, já estou me acostumando a ter tudo em minha vida em dobro...
Sim, pois na hora da partilha, cada um deve ficar com aquilo que julga melhor...
E o que temos então? Tudo dobrado: dois ou mais aparelhos de som, duas ou mais TVs, dois DVDs, sei lá mais o que...
Não é irônica essa vida? Tantas e sonhadoras mulheres fazendo planos de se casar, unirem-se a alguém, talvez pelo resto de suas vidas...
E há algo de errado nisso?
Absolutamente não...
Costumo dizer que tudo na natureza se “casa”: pássaros, animais, insetos, seres humanos... É um processo natural, espontâneo, genuíno...
O único problema é que o ser humano escolhe demais, põe empecilhos demais, confunde união com possessão, e o resultado é catastrófico: lares destruídos, filhos perdidos, sem nada entenderem, rombos financeiros e desgastes emocionais...
Tudo por causa da falta de compreensão e diálogo, tudo por causa do mais puro e cruel egoísmo humano...
E o pior é que é disso que são feitas as páginas dos jornais: da mais triste realidade cotidiana de lares toscamente destruídos...
E como tudo é engraçado...
Eu, Rufus, louco para sair logo de uma união que me destruiu como ser humano, que me aniquilou, me “esvaziou” de sonhos genuínos e louváveis, e que tirou de mim quase tudo que me havia de bom e humano (privacidade, liberdade, bom senso, equilíbrio emocional, alegria, vontade de viver, amizades), enquanto outros estão loucos para entrar nessa vida que agora deixo à deriva nesse ingrato oceano dos relacionamentos humanos...
Desejo a vocês todos, meus poucos e fiéis leitores, a mais pura e feliz realização de seus sonhos, e que vocês não passem (jamais!) por tudo que já passei...
Não, não lamento a perda do amor, que não havia: mas sim a companhia dos pequenos, que, sempre, sempre (Deus Meu, como não percebi isso antes?), antes mesmo de nascer, já estavam prontos para partir...
“Longa, dolorosa espera...”
Viagem das pequenas voltas...
Rufus, devido a suas fartas e contumazes divagações, anda com a memória afetada, porquanto quase ia esquecendo de avisar a seus fiéis (e raros leitores...) que vai entrar em férias justamente amanhã, retornando apenas lá pelo dia 29...
Não, Rufus não leva uma boa vida: apenas cumpre o disposto em lei, que lhe “faculta” gozar de suas férias religiosamente nos períodos estipulados...
Além do mais, Rufus precisa, ao menos uma vez por ano, reencontrar suas origens lá pelo interior de São Paulo, terra bandeirante...
Familiares, amigos que escasseiam com o passar dos anos, terras e ares conhecidos de longa data...
Esquinas imutáveis da pequena cidade, amores platônicos da juventude hoje convertidos em pudicas (e obesas...) senhoras, lembranças amenas e dolorosas que surgem a cada pisar das pedras da pequena pracinha — sim, aquela mesma, antiga, com fonte luminosa, coreto,
footing, pipoqueiros e tudo o mais...
Mas Rufus volta, como sempre voltou, pois quem provou o suficiente do mundo terá eternamente lugar cativo no coração dos que também compartilham de seus infortúnios — ou ainda esperam, cedo ou tarde, por trilhar seus mesmos percalços...
“Até a vista, amigo,
e, até onde a vista alcança,
ali aguarde meu retorno”.
... Aspargos, suflês de champignon, de palmito, salpicões indescritíveis, queijos variadamente divinos, saladas de frios de todos os tipos, amêndoas, pratos ao molho madeira, cremes, massas italianas finas e irrepreensíveis, conservas finas, canelonis, lasanhas sublimes, alcaparras, frutos do mar, risotos que desafiam a criatividade, macarrões alho-e-óleo
al dente, de sabor genuinamente inebriante...
Definitivamente, o prazer da gula tem nome, aqui em Goiânia: Restaurante Samauma.
E vocês ainda perguntam por que vim morar aqui?
Como rir das pequenas tragédias diárias em apenas uma lição:
Tem um jornalista aqui em Goiânia que reescreve pequenas tragédias familiares ou notícias policiais de maneira digamos... sarcástica, e ele já está virando um mestre na arte de tecer figuras de linguagem, do tipo comparações. Sintam só:
“O cara estava mais feliz que periquito em roça de milho”.
“Mais feliz que baiano quando vê um prato de farofa”.
“Ficou mais branco que fralda de filho de anjo”.
“Apanhou mais do que bife de pensão”.
“Levou um tapão tal que a orelha ficou igual a uma fatia de berinjela”.
“Festa de gente chique: música suave, baixa, crianças ordeiras. Se fosse festa de pobre, era música brega nas grimpas, frango, farofa e gritaria pra tudo que é lado”.
“Correu mais do que pivete quando foge de laranjada na feira”.