Rufus: quase humano.
Sem tempo, sem disposição, sem inspiração, ainda assim as palavras encontram um jeito de fluir livremente...
Amas o acaso? Eu amo.
Os melhores momentos de nossas vidas surgem ao acaso.
Que o digam aqueles que ganharam até mesmo um beijo fortuito...
No remoer de um ou dois passos, no pisar de leve os primeiros ruídos da manhã, o acaso nos espreita, dilui-se por entre nossas roupas, mistura-se ao baforejar de nossos sorrisos forçados, e assim, sem menos nem mais, ele surge.
Não gostas do acaso? Preferes a regra minuciosa e meticulosa? Pois saibam que mesmo os maiores equívocos da humanidade levaram anos para ser gestados.
E que muitos gênios tiveram o brilho de suas idéias iluminadas pela “vaguidão específica” de um lampejo, tão duradouro quanto um único piscar de olhos.
Inveja dos vagalumes...
Assim me vou ficando, escrevendo estas toscas linhas ao acaso — no que, por acaso, ainda hoje, espero que algum leitor desavisado as encontre em meio a bilhões de esperançosas páginas.
E pensar que, amanhã mesmo, eu, por acaso, estarei mais anônimo e esquecido que uma criança a tatear dolorosamente o velho retrato sujo e dobrado, carinhosamente guardado em seu bolso esquerdo...
E, assim, sem tempo, sem inspiração, sem disposição, eis que o texto se encontra pronto e fresco — e, se você fechar agora mesmo os olhos e respirar levemente, vai sentir o frescor das linhas que agora lhe atiçam o olfato...