Rufus: quase humano.
— Oi.
— Oi.
— Agora que o sinal abriu e a faixa de pedestres está livre, oferecendo-se toda para nós, posso te acompanhar nessa travessia de poucos metros?
— Pode, claro. E, se fôssemos namorados, eu deixava até mesmo você pegar em minha mão...
— Assim?
— Assim...
— Já que seremos namorados até chegar ao final da faixa, queria que soubesse que amo a cor de seu cabelo... Creio até que o sol inveja sua luminosidade, pois brilham mais fortes suas mechas douradas...
— E você, amado, é sempre afável assim com as mulheres ou só comigo, em especial?
— Sou um homem de uma única mulher... Em efeito, quero que ela se sinta única, amada como num sonho, pois a energia amorosa de um ser humano só funciona quando íntegra, não fragmentada...
— E justo eu, que me acho tão temperamental, não posso ouvir uma frase dessas logo às 7 da manhã...
— Para mim basta teu sorriso, que me beija de leve...
— E você, basta-me um olhar triste desses, que o dia já me resta alegre, sereno, um quê de melancolia divina, de tão humana ...
— Os passos ralentam, a calçada se aproxima... Vejo você amanhã ou devo implorar ao acaso que faça colidir nossos mesmos olhares numa tarde de outono qualquer, em pleno inverno?
— O que desejo acontece... E acontece que desejo, sempre...
— Sempre que possível?
— Sempre que amanheço...
— Vou levar o calor de tuas mãos comigo...
— E o que levarei de ti não posso contar a ninguém, porque não sei descrever o que sinto...
— Sinto que o sinal vai abrir de novo amanhã...
— Como todo dia...
— Como todo sempre...
— Adeus...
— Adeus...