Rufus: quase humano.
Mauro, seu relapso-com-preguiça-de-olhar-os arquivos, aqui segue o texto de que você gostou, mas não lembrava mais onde estava (publiquei no fim do ano passado...). A "resposta" a estas linhas está lá no meu outro blog, o Divagatorium - e você constatará que eu já não estava tão apressado assim...
Fraternal abraço.
"(Este texto é e estará sendo escrito em minutos).
Tenho pressa.
Tenho pressa em dizer, falar, ler, escrever, tenho pressa em mirar a rusga que se forma em tua testa quando me lês...
Tenho em mim todas as vontades todos os desejos todos os dilemas todos os defeitos de um ser humano completa e perfeitamente normal...
Anormal, isso?
Só sei que tenho pressa, muita pressa...
Não adianta represar-me: minhas barragens vivem por um fio. Rebentam-se, mal tomo da “fábrica de linhas”; rebentam e tonitroam por vales escuros em meio à claridade de um dia sem sol, mas pleno de luz.
Luz viva.
Eu, um semi-morto, amante das dores de cabeça matinais, recluso em salas burocráticas, eu, um ser que até mesmo agora poderia te dar um beijo anônimo e fremente, eu, no mais, tenho pressa.
Não é uma mera pressa de chegar ou partir — tão nossa conhecida dos portos e estações...
Tenho pressa, sim, de viver, porque vivo da pressa de não me atrasar frente ao meu destino: ele bate pontos intermináveis em meu prontuário...
Tenho pressa — não me culpem —, tenho palavras a dizer, tenho casas a morar, tenho filhos a fazer, tenho corpos a amar, tenho perdas a lastimar, tenho murros a dar e golpes a receber, tenho filmes queridos a assistir, tenho livros sisudos a ler, tenho, tenho muito, mas muito mesmo, a relaxar no fim de um longo dia...
E, assim, saibam, pois, que não devem ter tanta pressa de me conhecer, porque sou feito — minha vida toda é feita — do silêncio das pequenas coisas e das mais significativas sensações...
E estas, meus caros, não têm tempo ou limite, assim como não demandam muita pressa ou explicações..."
Novembro de 2003.