Rufus: quase humano.
... Dando umas aulinhas em Brasília, relembrando os velhos tempos...
O pessoal tem adorado. Sou divertido em sala de aula, e bastante didático...
Mas não estou tão feliz assim. Minha nobre profissão é a cara desse País: um fracasso. Daqui a pouco, professores — como policiais no morro... — estarão escondendo seu
métier da população, por medo e humilhação.
Enquanto que, na Europa, tem-se o maior respeito e admiração pelo professor, aqui ela é uma das profissões mais desprezadas...
Parabéns aos dirigentes desse País, eles mesmos grandes analfabetos...
Concurso para professores de nível médio em Goiás, por um período de 30 horas/aula: R$ 378,00. Vocês têm dúvidas ainda de que o número de inscritos está aquém do número de vagas? Pois está, acreditem...
O que ganhei dando aulas? Tendinites, fibromialgias, dores musculares, exaustão, muito pó de giz nos pulmões, noites mal dormidas, fins de semanas sempre comprometidos, ingratidão de alunos...
Claro que também tenho muitas lembranças boas... Mas as ruins as suplantam...
E olhem que, nos últimos anos, sempre dei aulas em escolas particulares — mas pouca coisa mudou...
“Deixa de mau humor, Rufus. Mude de profissão”.
Foi o que fiz. Mas sinto pelos que ficaram.
Sinto por meus pequenos.
E sinto ainda mais pelo destino desse país, que está condenado ao fracasso.
Pessimista, eu, ou realista demais?
Não sei se é assim: só sei que assim o é.