Rufus: quase humano.
Tenho tanto o que dizer que nem sei o que dizer.
Quero me calar para sempre, até que o um minuto de silêncio diário, que me fita, atônito, sempre que desperto, me diga algo em sua defesa...
Vou dizer o que não se consegue dizer quando se tem muita vontade de falar, gritar, limpar os pulmões da raiva e da felicidade: vou falar sobre a vontade de não escrever.
Quase nunca, não escrevo quando quero, e muito menos quero bem a tudo que escrevo.
Pari tantas palavras inúteis em minha vida! Outras tantas, mais do que úteis, foram amigas, companheiras solitárias, e morreram repentinamente em minha boca, afogadas em meus pensamentos vãos, quando dobrei uma esquina qualquer atrás de um olhar furtivo...
Furtei dores de amores juvenis, furtei sonhos voláteis e aborrescentes, mas quase tudo que escrevo é meu, só meu.
Um egoísta das palavras...
No entanto, gosto de dividi-las convosco, gosto de dá-las ao vento, para que se choquem com outras, sejam estas mais graves que amenas, ou mais asperamente doces que as minhas...
Como palavras, vomito-as, beijo-as, durmo com elas e tenho, também com elas, milhares de filhos, incontáveis...
Por onde andam, mal sei...
Tenho tão pouco o que dizer que já até sei o que dizer: calem-me, amordacem-me, por favor.
Chega de minutos de silêncio, chega de olhares furtivos que me roubam palavras, chega de inspirações que me tiram o sono e a vontade de não dormir...
Quero que a Palavra ma abra os braços, nitentes, e me acolha com um carinho jamais dispensado a alguém...
Ela, só ela, me silencia.
Somente ela pode me calar.
E me calo agora.