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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
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Brazil, Goiânia, Portuguese, Spanish, French, Rufus, Male, Music, More Music.

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Rufus: quase humano.
quarta-feira, outubro 08, 2003
Naquele tempo...
... em que brinquedos de pilha eram raros e caros, e nós, em nosso feliz despojamento, brincávamos com pedrinhas, papel, latinhas, madeira, bolas de plástico, quaisquer outros brinquedos baratos que estivessem ao nosso alcance.
Naquele tempo em que “matar ou enforcar aulas” era uma aventura, com direito a lances cinematográficos, que acabavam constando nas cadernetas escolares – e cada série tinha a sua cor....
Naquele bom tempo em que os amores platônicos e irrealizáveis pululavam a cada canto ou cantina, nossas musas, geralmente de classe mais rica e belíssimas, todas cheias com o assédio anônimo, abusavam do poder de seus fúteis olhares fatais...
Naquele tempo em que bicicletas dos sonhos tinham nome: BMX, Tigrão, Monaretta, e a campeã de todas: a Caloi 10.
Naquele tempo em que o cachorro da moda era o pastor alemão, e o doberman, também novidade, ameaçava o reinado daquele...
Naquele tempo em que era comum irmos até a chácara de um amigo ou parente, naqueles intermináveis churrascos e festas que varavam as tardes de sábado...
Naquele tempo de casamentos em sítio e fazendas, com músicos animadores-de-churrascaria tocando incansáveis boleros no (hoje velho) teclado eletrônico, e todos, debaixo de quentes toldos de plástico, saboreávamos caftas e churrascos de sabor inigualável. E com direito a chuva no final da tarde espantando os convidados...
Naquele tempo de boatinhas no pequeno clube, onde nos tornávamos mais criativos, mais românticos, mais visíveis em meio à jovem multidão com nossos loucos passos de dança bem coreografados, ao som de lancinantes hits dos anos 70 e 80... Luzes mil, globos de luz, pistas de dança com luzes coloridas, tomar um hi-fi para aquecer a noite, criar coragem para dançar com ela... ”Ih, bobão, demorou: outro chegou na sua frente...”
Noites quentes e estreladas, nas quais passávamos horas contando os satélites solitários, às vezes até oito por noite...
Naquele tempo em que amizades eram genuínas, as brigas inverossímeis, e nos dávamos tão bem a ponto de tecermos longos planos de nos reencontramos dali a 20 anos...
Naquele tempo de festinhas nas casas dos coleguinhas: um providenciava a iluminação, eu, com minha vitrolinha Sonata e vinis do Bee Gees, outro com doces e bebidas (só guaraná...). Dançávamos com nossas musas juvenis, que nós elegantemente tirávamos para dançar (elas aguardavam a um canto...). Naquele tempo em que (sublime vitória!) exultávamos se conseguíssemos fazer com que Ela deixasse que encostássemos nosso rosto bem juntinho ao seu, no embalo de músicas hoje bregas, porém românticas...
Naquele tempo em que nossos avós eram bem mais vós, davam beijos estalados e escandalosos em nossos rostos, e a mesa, aos domingos, era farta e cheia de ruídos alegres e estridentes...
Naquele tempo em que guardas-noturnos eram quase inexistentes, pois não se conhecia a violência, a podíamos fazer românticas, desafinadas e desorganizadas serenatas para nossas musas... Quase sempre o pai abria a janela e nos botava apara correr, no entanto, missão cumprida...
Naquele tempo em que passear na pracinha da cidade era fazer footing.
Naquele tempo em que bando ou gangue era chamada de láia.
Naquele tempo em que o céu de julho se infestava de pipas e papagaios, uma verdadeira febre que tomava conta de toda e qualquer criança.
Naquele tempo em que os patins reinaram absolutos, a ponto de a prefeitura fechar ruas só para as pessoas poderem patinar a tarde toda...
Naquele tempo em que a TV (graças ao Bom Deus), ainda nem sonhava com um Gugu ou João Kleber, e nos presenteava, nas quentes tardes, com filmes na sessão da tarde e desenhos japoneses... E ainda tinha a primeira versão do Sítio do Pica-pau Amarelo...
Naquele tempo em que a cidade toda babou quando o primeiro Monza (hatch) chegou à cidade, já dominada por Mavericks, Galaxies, Landaus e Dodge Darts envenenados...
Naquele tempo em que exultei quando meu pai comprou uma CB 400 82 prata, com apenas 20 mil km, na qual eu passeava e paquerava pelas intermináveis tardes de domingo...
Naquele tempo em que minha mãe me botou a aprender a dirigir por estradas de terra, pilotando nosso fusquinha 65 todo original...
Naquele tempo em que meu (já falecido) avô fez brilhar meus pequeninos olhos com uma elegante bicicleta Peugeot de três marchas, sendo que eu mal lhe alcançava os pedais!!
Naquele tempo em que o violão era companhia solitária para noites anônimas de choro, por causa dos mesmos e inverossímeis amores platônicos...
Naquele tempo em que o caderno de poesia virou companhia constante de uma criança cheia de planos e sonhos... Os planos e sonhos continuam até hoje, assim como a mesma criança só mudou seu jeito de ser e de vestir...
Naquele tempo, naquela época, naqueles dias, naquela pequena cidade, eu fui muito, muito feliz...


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