Rufus: quase humano.
Minha amiga virtual
Any passa por momentos difíceis, pois hoje faz um mês que ela perdeu seu pai. Espero que esse poema possa trazer-lhe algum conforto, fazendo-a sentir-se melhor, mais conformada. Um doce beijo, Any.
Pequena súplica
Meus dedos estão cruzados entre si,
e sobre eles derramei minha fronte.
Medito. E o que medito é por um instante.
Agora meus dedos estão cruzados entre si.
Fiz então um único pedido,
e entre eles se perderam os meus sentidos.
O calor de meus dedos cruzados entre si
acalentava minha pequena súplica que se definia.
Noite. Deus é nas alturas. Há muito tempo.
Oro uma última oração como da primeira,
e da primeira vez que oro: esquecendo as palavras.
Mas a vida agora é curta, e as palavras, quaisquer, rápidas e poucas.
No encontro do encanto enfeitiçado de prece
com os sentidos perdidos e desencontrados,
é de sentir-se a súplica definida, dos exaltados,
e na imagem sôfrega um Deus que aparece.
Vi, que sei, que ouviu-me e comoveu-se.
Os sonhos são mais vivos que as visões
celestes duma tarde agreste sujeita a colisões,
e calo o pensamento agora porque Ele ouviu-me.
As forças me faltam a mover a fronte turva,
que nos cruzados e trêmulos dedos se derrama.
Sabe-se bem quem ama e não há quem reclama,
a ousei, ao levantá-la, descrever a triste curva.
“Um calor de bilhares de sorrisos há de nos fazer esquecer
o calor mortal da bomba que anteontem voa,
talha a terra, escava, corta, pulveriza e ressoa,
e mesmo assim, e mesmo assim a dor há de decrescer?”
Não. O que medito é por uns instantes,
e o temor pesadelôneo arrebata-nos da vida térrea;
a súplica, sabida que pequena, é inútil mas férrea.
De um pouco há o ódio dos seres passantes.
De um pouco há o desejo puro do impossível.
O céu azul. A brisa úmida pós-chuva de verão.
Tudo belo porque é natural. De Deus. De uma ilusão.
E a separação de meus dedos cruzados entre si se torna possível.