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Reflexões vazias (ou cheias...) que até podem levar a algum lugar. No fundo, apenas quero saber bem mais que meus 40 e poucos anos.

Rufus/Male/. Lives in Brazil/Goiânia/, speaks Portuguese and French. Spends 20% of daytime online. Uses a Fast (128k-512k) connection. And likes Music/More Music.
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Rufus: quase humano.
quarta-feira, junho 11, 2003
Poeta, eu?
Sim, também sou "poeta". Leiam e julguem meu estilo:

O Ancião Infante

Não posso evitar que esse
vento carregado de medievalidade
me invada noite adentro,
e me deixe uma sensação de vetustidade.

Velho, barba aos joelhos,
e alquímico até os ossos,
pendem-se os grilhões dos
pulsos e tornozelos.

Meu lazer eterno é contar
as estrelas, noite após noite,
e sempre a perder a conta.
Meu consolo é a madrugada:

é quando as estrelas se põem,
à cata de novas irmãs,
e o sol irrompe atômico
a colina mais próxima.

Agora mesmo me castiga, aliado
à chuva sempre inimiga...
Um velho! Um pobre velho!
Um pedaço de passado sempre presente...

Contudo gemo, e calo,
que a dor é maior se
compartilhada; o pão
me falta, mas que me importa?

E ainda assim vejo pássaros
e folhas na poeira do poente,
amiga visão de olhos velhos.
Poente! Sempre a se pôr, e a se repor...

Oh morte, amiga dos loucos
e assassinados! Ainda vivo
e não a conheço, malgrado
o amor que lhe alimento!

Esquálida, a lua me fita,
e me inveja a sorte de
viver como se vive um velho:
amando a morte...

E o velho ama viver morrendo,
porque correm lentas e
dolorosas as horas, como os
cometas dos tempos primais.

"Meu bom velho, dizem as mariposas,
invejamos-te a claridade de
tua visão no escuro, e
a trevidade de teus lentos dias..."

Como ri o velho, ante tão
pequeninas formas, pérolas
da brisa da noite!
– E vai seguindo, também as invejando...

"Meu bom ancião, criança
adentrando a eternidade,
não te sentes carregado
de teus pesares e bondades?

Se tu eu fosse, deixava de lado
este fardo que trazes às costas,
e me assentava à sombra da árvore alguma
que surge em toda encruzilhada.

Lá, ouço o ar parado,
o pó suspenso, as folhas caídas,
o riacho translúcido,
e lhes indago o futuro.

Se a folha cai,
parto; se o ar se agita,
fico; se o pó se assenta,
medito; se o riacho silencia,

também me silencio.
E quando acaba o fruto
da árvore da vida,
não me preocupo em procurar

por outra: ali mesmo me fico
e deposito meus ossos.
Molhá-los-á a chuva,
castigá-los-á o orvalho,

o sol e as intempéries,
mas não me assustarei:
que me venham os anos vindouros
que tanto esperei por viver".

E assim caminhou o velho
até a sombra mais próxima,
onde, depositando seu fardo,
recostou-se à árvore alguma,

para só então ouvir o vento
e consultar o pó que
jamais se assenta, e
jamais se perde no ar...


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