Rufus: quase humano.
Essa é do baú: 14/12/1988. Tenho um estilo às vezes telegráfico, às vezes obscuro, outras vezes simbolista, outras tantas barroco e indeciso, do tipo "coisas que escrevo e nem sei bem de onde tirei".
Tempo de poesia, vamos lá...:
Há um retrato de um garoto
preso à parede,
há uma rede ao mar
lançada.
O garoto não se mexe
há meses,
a rede retorna
vazia.
Há um abajur apagado,
que já vou acender.
Há uma mulher desconhecida
vindo me socorrer.
O abajur não quer
falar,
a mulher só quer
vir.
Há muito mais guardado
na cesta do pão.
Há homens catando
comida do chão.
O pão estragou-se com
a chuva,
os homens comeram restos
com terra.
Há você que me lê e ouve,
e só faz ler.
Há alguém que morre
só uma vez.
Você fecha o livro e
vai para casa.
Aquele que dorme
volta a viver.